Aqueles dias no cruzeiro foram incríveis, mesmo tendo que aquentar as tentativas de Juliano de me afastar de Mel. Tentava de todas as formas ter a atenção dela para ele. Em meio a isso, acabávamos disputando a sua atenção, sempre brigando para ficar com Mel. Ela apenas ria da situação e as vezes conseguia escapar de Juliano para ficar comigo.
Mas, apesar de tudo valeu a pena passar mais tempo com Mel. Ela realmente me tira do sério, no bom sentido. É que percebo que a cada dia amo-a cada vez mais e isso as vezes se torna torturante. No bom sentido, novamente. Estou sentindo que preciso fazer alguma coisa por nós dois, mas... Não sei... Sinto que ainda falta alguma coisa, algo que ela esconde. Seu passado ainda é um mistério e realmente fico chateado por sua falta de confiança em me contar sobre a sua vida”.
Chegaram à terra firme no dia 3 de Janeiro, ainda restavam quatro dias de férias. Todos pareciam felizes com aquelas férias no cruzeiros, todos, exceto Caio que parecia frustrado com a presença repentina do novo amigo de Dora, que não a largava por nada. E ela parecia gostar da companhia dele. Isso estava se tornando insuportável para Caio.
Não havia conseguido falar muito com ela. Precisava urgentemente conversa. Tudo bem, sabia que já tinham conversado, mas vendo-a ao lado daquele sujeito insuportável o deixou com os nervos à flor da pele. Por mais que soubesse, só naquele viajem teve a certeza: a queria como nunca quis ninguém. A desejava de uma forma que o pegou desprevenido. A única coisa que percebeu era que a amava. Sim, a amava e não sabia o que fazer para poderem ficarem juntos.
Rodrigo já em seu apartamento, tirou suas roupas da mala e escutou o celular tocar, olhou o visor e atendeu feliz. Quanto tempo que não escutava a sua voz e não há via? Sentiu a doçura da sua voz na primeira palavra. Como a amava e naquele instante sentiu-se triste por tê-la afastado da sua vida. Ela não tinha nada a vê com o que aconteceu com seu irmão e sua ex-noiva. Por que ele teve que agir daquele jeito? Era injusto, totalmente injusto.
_ Mãe! Que saudades!
_ Lembrou de mim? – Perguntou ela, brincando com o filho.
_ Sempre lembro da senhora.
_ Poxa, faz mais de um ano que você não vem aqui Rô.
Ele engoliu em seco e suspirou.
_ Eu sei mãe, eu sei...
_ Por que não vem passar um dia comigo? Estou com saudades, filho.
Houve um momento de silêncio entre eles. Ele nunca mais queria pisar o pé naquela casa, não era só pelas lembranças do que o irmão lhe causara. Na verdade elas nem eram mais tão fortes como antes. Quando finalmente Rodrigo conseguiu perdoá-lo, de alguma forma as lembranças, tudo de tornou mais suportável, a dor não era mais como antes. Talvez uma pequena mágoa ficou, mas sabia que com o tempo ela iria ficar cada vez mais distante. O problema é que aquilo que aconteceu foi como uma rachadura na sua família, seria como que ter que enfrentar a dor novamente. Sabia que precisava disso, sua mãe precisava dele e do seu irmão juntos novamente, como uma família.
Respirando fundo e tomando toda coragem do mundo, respondeu seriamente _ Tudo bem, mãe. Posso levar alguns amigos? Preciso te apresentar duas pessoas muito especiais.
_ Claro, filho. Traz todos os seus amigos, vou preparar tudo do melhor para vocês...
_ Está bem! – Ele riu com a animação da sua mãe. A conhecia o suficiente para saber que se deixasse ela iria continuar a falar sem parar, revelando tudo o que estava pensando em fazer. Não sabia como iria reagir com a notícia de que Dora era a sua irmã, mas sentia que precisava fazer isso. Dora fazia parte da sua família assim como Mel.
Agora precisava saber como iria contar isso para Dora. Desligou o celular e ignorando o mal humor de Caio que estava jogado no sofá e a cada cinco segundos resmungava algo, passou por ele e foi até o apartamento de Mel.
_ Você de novo? – Juliano resmungou _ Cara, larga do pé da Mel. Não passamos as férias todas juntos? Dá um tempo!
Rodrigo não disse nada, seu semblante estava sério e em seus olhos haviam um escudo de proteção. Nada do que ele dissese iria fazer mudar o seu semblante. Tinha problemas mais sérios para resolver do que aquela intriguinha infantil com Julino.
_ Vê se cresce! – Foi a única coisa que disse antes de passar por ele e entrar no apartamento.
Logo avistou Dora saindo do seu quarto. Assim que o viu ela começou a sorrir e então parou percebendo que Rodrigo estava estranho.
_ O que aconteceu?
_ Preciso falar com você.
Ela não disse nada, apenas abriu a porta do seu quarto para conversarem a sós. Entrou e ficou esperando. Cade ele? Voltou para a porta e então viu o irmão abraçado na Mel. Iria achar aquilo romântico, se não fosse o olhar estranho de Rodrigo. Mel, parecia também não compreender o estado em que estava. Antes que pudesse falar alguma coisa, escutou ele falar.
_ Depois conversamos – E então Rodrigo entrou no quarto e fechou a porta.
Dora o observou por apenas alguns segundos, não aguentando a agonia de vê-lo daquele jeito. Algo estava acontecendo. Ele não era de agir assim. Agora, sabendo que era seu irmão e o tempo que estavam passando juntos, o conhecia muito bem para saber disso.
_ Fale logo Rodigo, o que aconteceu?
Ele surpirou e falou _ Ainda não aconteceu, mas vai acontecer.
Ela estreitou os olhos não entendendo nada _ O que vai acontecer? – Tentou ser paciente.
_ É difícil Dora, mas... – olhou para o chão naquele instante _ Preciso que você vá comigo, visitar a minha mãe.
Dora arregalou os olhous _ O QUÊ???
Ele então encarou a irmã que estava nervosa _ Preciso que você vá comigo Dora – Ele repetiu com a voz mansa.
Ela abanou a cabeça negativamente _ Você ficou louco, só pôde. Sua mãe deve me odiar. Eu faço parte da família que destruíua a sua. Será que lembra desse detalhe? – Ela gesticulava sem parar.
_ Sei disso Dora. Também faço parte da família que destruíu a sua. Não entende, que nós somos inocentes nisso? Não têmos nada a ver com o erro do nosso pai.
Escutar falar do “nosso pai” foi como se tivesse levado um sôco no estômago. Sabia disso, mas ouvir aquilo novamente, depois de tanto tempo sem tocar no assunto, mexeu com ela e a deixou ainda mais indignada.
_ Não Rodrigo, eu não vou a lugar algum com você. Esquece essa história de conhecer a sua mãe. Você não tem noção do que está pedindo. Não tem ideia de como me sinto.
Rodrigo de repente começou a perder a paciência e aumentou seu tom de voz _ Não entendo Dora? Eu? Não entendo? Fui traído da pior forma possível e pelo meu irmão. Você não tem ideia do quanto eu sofri, mas consegui perdoar os dois. Mas tive que me segurar, o que acha da mulher que tanto amava ter um filho com seu irmão, um filho que poderia ser MEU. Acha isso justo? Eu fiquei doido da vida, mas ainda assim conheci a minha sobrinha – Naquele instante sua voz diminuiu _ E eu amo ela Dora, amo a minha sobrinha. E ela é como você, inocente. Eu consegui amá-la e sei que minha mãe também vai fazer isso. Ela é a pessoa mais justa e amorosa que conheço.
Dora não evitou que uma lágrima caísse ao ouvir aquela confissão da boca do irmão. Sabia o quanto ele sofreu, mas nunca conversaram direito sobre isso. Realmente era difícil aquela situação. Tinha medo de ser rejeitada novamente. Não sabia o que pensar naquele instante e então apenas se lançou nos braços do irmão.
Ficaram assim por algum tempo. Aqueles abraços era o que ambos precisavam, era reconfortador e diziam que jamais um abandonaria o outro. Dora ficou surpresa assim como Rodrigo. Em pouco tempo como irmãos, perceberam que o laço entre eles era mais forte do que imaginavam. Dora o amava, era a sua família.
_ Vou com você! – Dora escutou as palavras saírem de sua boca. Aquilo a causou espanto e ao mesmo tempo algo dentro dela dizia que era a coisa certa a fazer.
Depois de alguns minutos se separaram do abraço e então combinaram de ir no dia seguinte para a casa da mãe de Rodrigo. Ele ficou um pouco mais aliviado por Dora ter aceitado. Sabia que não seria fácil, mas realmente acreditava no bom coração da sua mãe. Era a pessoa mais sentata e sábia que conhecia. Apesar de tudo que sofreu com seu pai, ainda assim ela conseguiu perdoa-lo e prosseguiu a sua vida. Ela ainda não sabia de Dora e essa seria a parte mais difícil do dia seguinte. Explicar a história. Só de pensar nisso começava a ficar apreensivo.
Rodrigo saiu do quarto da Dora pronto para a sua próxima missão: Mel! Precisava estar com ela, não só nesse dia, mas em todos os próximos que se seguiriam. Necessitava da sua doçura, da sua presença para lhe dar força naquele momento que era tão delicado para ele. Talvez nem todos compreendessem isso, mas só ele sabia que não estava sendo fácil isso. E o quanto resolver antes, melhor. Precisava fazer isso por ele, por sua mãe, para ter a família novamente reunida.
Encontrou Mel na cozinha, sentada e olhando fixamente para seu chá. Parecia longe nos pensamentos, seu semblante estava sério e quando enfim percebeu a presença de Rodrigo o olhou com tristeza. Ele se aproximou e sentou ao seu lado olhando-a com preocupação.
_ O que você tem?
Ela não respondeu, desviou seu olhar e novamente e fitou a xicara à sua frente. Parecia receosa com alguma coisa. Depois de um minutos em um silêncio conturbado ela soltou um suspirou pesado e sem olhar para Rodrigo sussurrou _ Acabei escutando a conversa de vocês.
Rodrigo continuou olhando-a esperando que ela continuasse. Ainda não entendia qual a razão de ela ter ficado daquele jeito. Não havia falado nada de errado, nada do que ela já não soubesse. Alias, não tinha segredos para ela. Mas, Mel tinha segredos, quem deveria ficar com aquela cara era ele.
_ Ela era a mulher da sua vida? – Mel perguntou num sussurro ainda sem coragem para encara-lo.
_ Quem? – Rodrigo não estava entendendo.
_ Você disse a amava muito, sua noiva – disse cabisbaixa.
Rodrigo arregalou os olhos, agora entendendo a agonia dela. Deu uma risada gostosa e então pegou carinhosamente no queixo de Mel trazendo-o para o lado, fixando seus olhos firmemente nos dela.
_ Mel, isso é passado. Quem eu amo e quem é a mulher da minha vida é você, apenas você e mais ninguém. Meu passado foi sofrido e apesar de amá-la ela não se compara em nada com você. Você é bem mais do que pedi a Deus.
Ela deu um meio sorriso, piscando para não deixar as lágrimas caírem.
_ Meu coração é inteiramente seu, Mel, mas... – ele olhou para o lado e soltou um suspiro _ Preciso saber se você também pensa assim. Se isso é mesmo recíproco.
Ela sobresaltou-se com aquela frase. Como poderia duvidar do seu amor? Rodrigo percebeu a sua agitação, mas continuou encarando-a seriamente.
_ Claro que sinto o mesmo – ela respondeu ainda não compreendendo o que ele estava querendo dizer.
Ele enrolou uma mexa do cabelo dela na sua mão e então disse com uma voz muito séria _ Não é o parece Mel. Você ainda não confia em mim completamente.
Mel fechou os olhos ao sentir o impacto daquelas palavras. Foi doloroso escutar aquilo, mas era a verdade. Não tinha como negar isso. Até confiava no Rodrigo, mas sabia que não tinha se aberto totalmente para ele. Os dois precisavam da sinceridade no relacionamento, antes que as coisas pudessem piorar entre eles.
Rodrigo continuou brincando com seus cabelos e percebendo que Mel estava longe com os pensamentos, mudou de assunto. Não queria que essa conversa inesperada causasse um mal estar entre ele. Precisava cumprir o próximo passado da sua missão.
_ Amanhã vou visitar a minha mãe, a Dora também vai junto. Queria que você também fosse. Falei pra ela que quero apresentar duas pessoas muito especiais. A Dora e você
_ A Dora vai? – Mel ficou espantada por um momento com a atitude de sua amiga.
_ Sim. Ela é bem mais forte do que imaginava – sorriu com satisfação _ Você vem comigo? Você sabe como isso é importante para mim.
_ Reviver tudo? – Ela indagou estreitando os olhos. Não sabia o que estava acontecendo com ela, mas sentia-se nervosa com tudo aquilo. A aproximação com a família e o passado dele, mexia com ela de uma forma tão forte que não sabia como agir.
Rodrigo a encarou frustrado. Abriu a boca para falar algo, mas desistiu. Mel, logo percebeu a sua burrada e tentando remendar a situação disse _ Vou junto com vocês! Também quero conhecer a sua mãe.
_ Tem certeza? – ele perguntou num sussurro.
_ Sim, quero conhecê-la – Tentou ficar ainda mais animada.
Rodrigo sorriu para sua namorada. Não foi um sorriso sincero como os que ela conhecia. Era apenas uma forma de aliviar um pouco aquela situação. Era melhor parar por ali e se verem no outro dia. Sentiu que ela precisava ficar sozinha e ele precisava arrumar suas coisas e comprar um presente para sua mãe.
*******
Acabou que todos foram juntos para passar alguns dias na casa da mãe de Rodrigo, dona Suelen. Juliano, por ser carrapato de Mel e Caio para ficar mais perto de Dora, ainda mais sabendo que as coisas não seria fáceis para ela. Ninguém falava nada, mas todos sabiam que isso estava sendo difícil para Rodrigo. Desde o dia anterior ele estava quieto e pensativo e agora no volante, apenas ligou o som do carro e naquela uma hora de viajem ficou em silêncio.
Quando entraram numa pequena rua de chão ele avisou que estava chegando e Mel percebeu que estava tenso. Suspirava profundamente várias vezes e então entrou numa rua ainda mais estreita com inúmeras árvores cercando-a. Passaram por um portão aberto e depois de fazerem uma curva avistaram uma casa rústica com varandão cercando-a.
_ Que linda! – Mel comentou, visualizando a casa e depois tudo o que a rodeava. Um jardim lindo e mais no fundo uma lagoa pequena. Havia uma senhora baixinha na varanda. Percebeu Rodrigo sorrindo ao vê-la e então estacionou o carro de frente para a varanda, a lado de um gol branco. Provavelmente o carro dela.
Desligou o carro e então olhou para Mel. Ela apertou sua mão e abriu um sorriso sussurrando _ Estou com você!
Ele abriu ainda mais o sorriu e então beijou-a na mão. Já não se importava com a presença de Juliano, ela era a sua namorada e nada do que ele falasse iria impedir isso. Olhou Dora pelo retrovisor e percebeu que também estava nervosa, quando virou o rosto para poder olha-la melhor, percebeu a mão de Caio sobre ela. Estavam entrelaçadas.
Apesar de não ter gostado daquilo apenas deu um leve sorriso. O que nenhum deles precisava agora era de uma discussão boba. Sim. Boba por que todos sabiam que algo rolava entre Caio e Dora, e Rodrigo sabia na pele o que era ter um irmão chato e ciumento. Por um lado até entendia Juliano, porém do outro, sabia que ele era extremo na maioria das vezes.
Rodrigo enfim abriu a porta do carro e então todos saíram dele. Dona Suelen os esperava na pequena escada da varanda. Rodrigo a olhou de longe e sorriu indo abraçá-la. Ela, como sempre, o recebeu de braços abertos apertando-o contra seu corpo. Era bom sentir o filho novamente em seus braços. Se pudesse ele nunca sairia dali.
Rodrigo a beijou na testa e então sussurrou _ Estava morrendo de saudades!
Ela tentou segurar as lágrimas, em vão. Há meses esperava para ter um contato físico com o filho. E ele vindo até ali era por que as coisas iriam melhor entre eles, não apenas entre mãe e filho, mas na família toda.
_ Seja bem vindo ao lar, filho! – Ela disse e então voltou sua atenção para o grupo de amigos que ainda estavam parados ao lado do carro.
_ Entrem, por favor! – Ela os chamou e Rodrigo logo os apresentou e como sabia, ela também os recebeu de braços abertos, um por um.
Quando chegou a vez de Mel, dona Suelen percebeu no olhar do filho que ela era mesmo especial. Rodrigo alargou ainda mais o sorriso e olhou-a com admiração. Dona Sulene então abraçou-a dizendo o quanto estava feliz por conhecer a garota que fez o filho reviver. Essas palavras tocaram profundamente no coração de Mel. Ela estava sendo injusta com Rodrigo, ficando desconfiada de que ainda sentia algo por sua ex-noiva.
Dora estava atrás de Mel. Quando a namorado do filho deu espaço para ela cumprimentá-la, Rodrigo e Dora olharam-se tensos. Será que seria o momento de revelar quem realmente ela era? Ou seria melhor deixa-lá conhecer melhor, antes da revelação.
_ Você tem traços muito parecidos com os do Rodrigo – Escutaram dona Sulen falar.
Dora deu um passo para trás e arregalou os olhos. Não sabia se sorria, tentando disfarçar a verdade ou então saia correndo. Percebeu Caio do seu lado. Ele a olhou com ternura fazendo-a sentir-se um pouco mais calma.
_ E alguns traços do Robson também – Ela continuou, dando um sorriso sincero.
Agora foi a vez de Rodrigo se aproximar da irmã e então voltou os olhos para a mãe. Não sabia o que pensar. Será que ela realmente sabia de toda a história, mas como? Não, isso não seria possível a não ser que...
_ Robson me contou tudo o que aconteceu! – ela finalmente revelou.
_ Não acredito que ele fez isso – Rodrigo ficou irritado. Não poderia ter ficado quieto como foi combinado? Tinha que abrir a boca antes do tempo? Se já não bastasse tudo o que passaram ele o trai novamente?
_ Calma, Rodrigo! Ele fez bem! – dona Suelen o pegou em sua mão _ Na verdade já sabia que seu pai tinha outra família.
Rodrigo e Dora arregalaram os olhos surpresos.
_ Como assim, mãe? Você nunca contou nada.
_ Para quê? Você já estava magoado o suficiente. Queria contar, mas na hora certa. Quando você fosse mais maduro para entender, mas então o destino o fez por mim. Você e Dora virarem amigos? Não é por acaso – dona Suelen concentrou seu olhar sobre o de Dora que estava estática, tentando entender tudo o que estava acontecendo _ E você Dora, sei que seu pai aprontou e aprontou muito. Também já tive muita raiva dele – Soltou um suspiro _ E fico tão triste por todos vocês terem que passar por isso. Só quero que saiba que não guardo nenhum raiva dele, da sua nova família e muito menos de você.
Dora engoliu seco, ainda estava imóvel com tudo aquilo. Como isso era possível? Não tinha nenhuma raiva dela? Não, havia alguma coisa errada ali. Dora não conseguia compreender o que estava acontecendo. Não esperava nada daquilo. Ela ficou sem ar por um momento. Assim como as emoções foram abaladas, seu físico também.
Rodrigo a olhou preocupado, Caio também. Mel a chamou tentando despertar daquele transe.
Dona Suelen então deu três passos em sua direção e a abraçou. Dora não se moveu naquele instante, continuou como estava, parada, mas dessa vez conseguiu respirar e suspirou profundamente. Como em câmera lenta, seus braços passaram ao redor da mãe de Rodrigo e então deixou-se ser abraçada. Ficaram assim por alguns segundos até que escutaram um soluço. Dora chorava em seus braços, era um choro que vinha diretamente da alma, do mais profundo do seu ser. Um choro que estava guardado por anos e anos, cheio de amargura e incompreensão.
Todos acompanhavam aquele momento em silencio, mas não tinha como evitar que as lágrimas caíssem. Rodrigo e Mel se abraçaram de lado e suspiraram profundamente, comovidos pela dor profunda que Dora sentia. Caio estava com os olhos vermelhos assim como Juliano. Ninguém falou uma palavra, apenas se olharam em profundo respeito.
*****
O almoço que era para ser servido ao meio-dia, foi adiado. Assim que Dora saiu dos braços de dona Suelen, sentindo-se um pouco embaraçada pediu licença e saiu caminhando pelo lugar, mesmo que não conhecia. Precisava ficar sozinha, era algo urgente.
Rodrigo começou a andar atrás dele, mas logo Mel o impediu, percebendo que Caio caminhava em passos largos e decididos para junto de Dora.
_ Deixe com o Caio. Vai fazer bem pra ela.
_ Não sei, tenho medo que ele a machuque.
Mel sorriu docemente e então disse algo que o surpreendeu _ Ele a ama Rodrigo, ela também. Eles precisam ficar sozinhos. Não é só por causa desse momento, é tudo o mais. Dora precisa resolver as coisas sozinha.
Ele engoliu seco ao ouvir aquilo tudo _ Como você sabe que eles se amam?
_ Assim como meu irmão sabe que a gente se ama. Ele só não admiti – deu de ombros.
_ Filho, resolva o que tem que resolver. Vou estar aqui esperando todos vocês – Dona Suelen disse em voz alta. Ela parecia confiante e era realmente doce como Rodrigo falara. Apesar das dores que a vida lhe causou continuava firme e forte, ajudando quando e como pudesse. Era um ano na vida de todos.
Mel abriu um sorriso para ela. Rodrigo apenas concordou com a cabeça e viu Juliano sentado numa cadeira de balanço na varanda. Ele encarou os dois por um momento, mas não disse nada. Mel soltou um suspirou e virou-se para Rodrigo, então ele a pegou em sua mão e começaram a caminhar para dentro do bosque.
O lugar era lindo, as árvores eram imensas. O clima havia ficado mais fresco naquele lugar e era maravilhoso poder respirar aquele ar puro.
_ É lindo aqui! – Mel comentou, depois de alguns minutos andando pelo bosque.
Rodrigo não disse nada, apenas apertou a mão de Mel. Não era um aperto qualquer, ele estava tenso, muito tenso. De repente parou de andar e olhou para o lado direito. Mel o acompanhou em silencio.
Escutaram alguns passos do lado oposto e quando viraram para ver o que era, os dois ficaram surpresos. Robson e sua esposa estavam de frente para eles.
Houve um momento de tensão. Rodrigo respirou profundamente e apertou ainda mais a mão de Mel. Ela aguentou a dor que aquilo a causou. Rodrigo estava procurando forçar nela e então com dificuldade ela apertou sua mão e sussurrou _ Estou aqui Rodrigo. Sempre vou estar.
Robson e sua esposa se aproximaram e então o irmão perguntou _ Podemos colocar um ponto final nessa história?
_ Precisamos fazer isso – Rodrigo falou seriamente, engrossando a voz.
Mel olhou para os irmãos e fitou seus olhos para a ex-noiva de Rodrigo. Ela era muito bonita, e naquele instante estava calada, apesar de querer ficar com raiva dela por ter causado tudo isso com Rodrigo e de estar com ciúme por ela ser tão importante para ele, o que mais sentiu foi pena. Dava para ver que estava realmente arrependida.
Ela então percebeu Rodrigo se aproximar da ex-noiva, da mulher que um dia amou. O coração de Mel quase parou quando os dois se olharam seriamente e ele a abraçou. Ela disse algo, Mel não conseguiu entender e então os dois se afastaram.
Rodrigo e Robson se olharam mais uma vez em silêncio _ Está tudo bem! – Rodrigo afirmou e sem falar mais nada pegou na mão de Mel e continuaram a caminhar. Não falaram nada por muitos minutos. Isso deixou Mel nervosa, muito nervosa e como a cena do abraço não saia da sua cabeça resolveu perguntar _ O que ela falou?
Rodrigo não respondeu de imediato. Ficou pensativo por alguns minutos e então disse _ Ela disse que me amou de verdade e que não merecia nada daquilo e pediu perdão por ter agido daquela forma – Rodrigo ficou em silencio por mais alguns minutos, parecia querer dizer mais alguma coisa _ A verdade, é que ela começou a gostar do meu irmão quando estávamos juntos, mas não teve coragem de terminar comigo. O resto, você já sabe.
Dessa vez Rodrigo parou de andar e encarou Mel que parecia absorver tudo aquilo.
_ Se ela tivesse dito antes as coisas seriam diferentes. Por isso odeio segredos.
Mel engoliu seco e desviou o olhar.
_ E ela sempre vai estar na sua vida – Mel disse com ar de lamentação.
_ Sim, ela e o meu irmão. Não posso fazer nada em relação a isso Mel. Mas, o que aconteceu, é passado.
_ Um passado que você não parece esquecer.
_ Não estou entendendo. Aonde você quer chegar? – Ele solta a mão de Mel e cruzou os braços.
_ Por que viemos aqui Rodrigo? Aqui, no bosque? Para passar no mesmo lugar em que você os viu juntos? Para relembrar o que sentiu? Para lembrar dela?
Rodrigo abanou a cabeça negativamente e então riu cinicamente do que ela falara. Mel estava furiosa e despejava as palavras sem as medir.
_ Isso é ciúmes, Mel? Ciúmes por alguém que não representa nada para mim? Eu precisava vir até aqui, não por ela, mas por mim e pelo meu irmão. Fomos criados aqui, tenho muitas lembranças aqui, só não quero mais ter que pensar nesse lugar como algo ruim. Por mim e pelo meu irmão. Você não percebe que estou tentando unir a minha família?
Mel não disse nada, continuou olhando-o tentando tirar mais alguma coisa dele. na verdade, coisas que não existia. E então lembrou o que escuatara no dia anterior. Tentou segurar, mas não conseguiu _ E o fato de voê querer que a sua sobrinha fosse sua filha? Você não percebe que ainda sente alguma coisa por ela? Fale a verdade Rodrigo.
Ele fechou os olhous e soltou uma respiração pesada _ Mel, não faz isso comigo. Você está trazendo as coisas do passado, coisas que já esqueci para o nosso relacionamento?
_ Só estou dizendo o que ouvi da sua boca.
_ Sim, isso é o que dá ser mexeriqueira dona Mel. Minha conversa era apenas com Dora, para que ela entendesse que apesar da minha dor ser profunda eu consegui dar a volta por cima. E sim, há muitos meses atrás queria que a minha sobrinha fosse a minha filha, por que era tudo recente, não tinha te conhecido direito. As coisas mudaram Mel, mudaram totalmente na primeira vez que dei de cara com você.
Mel não disse nada, na verdade não sabia mais o que falar ou o que agir. Não estava entendendo o que estava acontecendo. Ela não era desse jeito, e cada palavra que saia da sua boca só piorava a situação entre eles.
_ Agora se você acha que não vai aguentar a minha família, mesmo com tudo o que aconteceu, não tenho o que fazer. Eu disse e repito Mel, meu coração é totalmente seu. Não sou de me apaixonar fácil e quando encontro alguém que vale a pena, faço de tudo para dar certo. Agora se não acredita em mim, o que posso fazer? – Levantou as mãos impaciente _ Está na hora de você se entregar inteiramente pra mim se você realmente me ama.
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