Rodrigo não
estava assustado pela visita inesperada de Juliano, pelo contrário, estava
abismado pelo jeito arrogante e metido dele. Tudo bem, até entendia ele querer
proteger a sua irmã. Mas à custa do que? De transformá-la quase em sua
prisioneira?
Estava furioso por que era ELE que estava começando a
estragar as coisas, como poderia conversar com a Mel se ele não desgruda dela?
Andou de um
lado para outro, angustiado. Caio entrou e olhou para ele preocupado _ Está
tudo bem?
_ Esse cara
é um sem noção.
_ É, e esse
sem noção pode ser seu cunhado – Deu de ombros.
Rodrigo
suspirou concordando passando a mão na cabeça _ Preciso falar com a Mel. Acho
que vou lá.
Caio
arregalou os olhos _ Não é uma boa ideia.
_ O que
você quer que eu faça? Aonde a Mel vai ele está. Se não é no apartamento é no
café.
Caio pensou
por um momento _ Tudo bem, sei que é importante para você. Acho que tenho uma
ideia.
Ele cruzou
os braços e encarou o amigo, este compreendeu que daria certo, mesmo não
sabendo como ou o que iria acontecer.
* * *
Rodrigo
levantou cedo, estava ansioso, torcendo para que de fato a ideia de Caio
realmente desse certo. Para isso foi preciso convocar Dora, logo de manhã.
Ele abriu a
porta recebendo Dora com carinho. Esta olhou desconfiada para ele e assim que
viu Caio saindo do seu quarto, ficou sem saber como reagir. Queria ser
implacável, ser fria, qualquer coisa que pudesse à distanciar dele, mas
infelizmente seu coração, suas emoções não deixaram. Quando seus olhos se
cruzaram, os dois pararam envolvidos naquele pequeno instante.
_ Oi, você!
– Caio se aproximou.
_ Oi, você!
– Ela respondeu da mesma forma.
Rodrigo
ficou em seu canto observando os dois. Era estranho, pareciam de certa forma
hipnotizado um pelo outro, entretanto, não demorou muito para que mudassem as
suas atitudes, demonstrando um certo distanciamento.
_ Está tudo
bem com vocês? – Perguntou com cuidado, preocupado com Dora. Pois sabia que
Caio não estava sendo justo. Primeiramente por que aquele passeio deixou Caio perdido
quando voltou para casa e depois, na noite anterior ouviu uma conversa entre ele e a tal da Luisa, por
acaso. Não estava entendendo a dele, e não estava gostando de ter visto aquela
cena segundos atrás.
_ O que
vocês querem para me tirar da cama a essa hora? – Dora cruzou os braços desviando
os olhos de Caio para encarar Rodrigo.
_ Desculpe
Dora, mas preciso da sua ajuda. Tenho que falar com a Mel o quanto antes e você
sabe que o Juliano não está facilitando nada.
_ E? –
Continuou imparcial.
_ Temos um
plano para despistar Juliano, pelo menos por alguns minutos.
_ E?
Rodrigo e
Caio se entreolharam. Tinham certeza que poderiam contar com a ajuda dela, mas
ela não estava demonstrando nenhuma alegria em ajudá-los, na verdade, não
estava nenhum pouco disposta para isso.
_ Para que
isso? O que você quer falar com ela? Vai deixá-la magoada de novo? – fuzilou
Caio com os olhos sem perceber.
Este
compreendeu tudo, o que deixou totalmente desconcertado e ficou em silêncio,
desviando o olhar para não encara-la. As coisas talvez não seria mais as
mesmas. Lamentou-se.
Rodrigo
percebeu a indireta para o seu amigo e então tirou ele de cena. Pegou
carinhosamente a mão de Dora e a levou para a varanda do seu apartamento.
_ Olha, sei
que o Caio é um bobo as vezes, mas preciso mesmo falar com a Mel. Eu gosto dela
de verdade, e não quero magoá-la de forma alguma, mas se eu não falar logo com
ela, as coisas podem ficar piores e não quero que isso aconteça.
Dora bufou
irritada e concordou.
Ao voltar
para cozinha Caio não estava mais lá. Rodrigo acompanhou Dora até a porta e
quando ele a abriu e avistou um homem no corredor, à poucos centímetros da
porta.
Dora levou
um susto não acreditando no que seus olhos viam. Rodrigo encarou o homem alto
por um longo tempo, enquanto em um silêncio perturbador ele olhava os dois, com
um semblante confuso e desconcertado. Rodrigo demorou apenas alguns segundos
para o reconhecer mas quando percebeu quem era ficou perdido. O que ele viera
fazer ali depois de anos sem procurá-lo?
Dora era a
mais assustada e demonstrou uma raiva que surpreendeu à Rodrigo
_ O que
você faz aqui?
O homem
ficou mudo por um momento, olhando de Dora para Rodrigo e vice-versa.
_ Vim saber
como você está filha – Depois fitou
Rodrigo que arregalou os olhos ao escutar aquela palavra, filha. Sua vontade era de tirar satisfação na mesma hora. Sua mente
voltou ao passado, fazendo-o perceber algo que o deixou mais surpreso do que
com raiva. Por que conhecia como conhecia, não duvidava de mais nada vindo
dele. O pior, é que trouxe muita mais dor e raiva para Dora, sua querida Dora.
Ele sabia o quanto ela detestava o pai, não suportava falar dele, aliás, nunca
falara dele. Mas agora, as coisas mudaram de uma maneira que Rodrigo jamais
imaginou.
_ Estou
muito bem, longe de você – Ela respondeu irritada pronto para ir embora, mas
Rodrigo a deteve o que a deixou ainda mais nervosa, sendo até rude com ele.
Pensou que estaria fazendo a coisa certa, mas pelo olhar de Dora concluiu que
era melhor deixa-la ir e conversar seriamente com o homem que a deixou assim.
_ Vocês
estão juntos? – O homem perguntou assim que ficaram a sós.
_ Melhor
conversarmos aqui dentro – Rodrigo disse e logo em seguida respondeu _ Não,
somos apenas amigos. Como você pode fazer isso?
_ Eu sei
Rodrigo, eu sei.
_ Sabe o
que? – Cruzou os braços encarando-o _ Que traiu a minha mãe quando eu tinha
acabado de nascer? Ela tem 18 anos, eu 19. Faça as contas ou será que tenho que
fazer isso por você.
_ Me perdoe
filho...
_ Não é a
mim que você deve pedir perdão, eu tenho um pai de verdade e não é você. Agora
a Dora, só tinha a mãe, por que o pai é um mulherengo safado que não tem um
pingo de sentimentos pelos filhos que deixa por ai.
O homem
respirou profundamente, sabia que Rodrigo tinha razão, era insensível mesmo,
estragou a sua vida com os seus erros, queria concertar, mas percebeu que a
situação era mais complexa do que imaginava. Ainda estava tentando compreender
como Rodrigo e Dora acabaram se conhecendo.
_ Sei que
fiz tudo errado, e quero pedir perdão por ter me afastado todos esses anos de
você.
Rodrigo
ficou em silêncio tentando reconhecer alguma mentira ou falsidade em seu
semblante, mas por mais difícil que seja, percebeu a sinceridade dele. Depois
daquela noite na praça da igreja, as coisas mudaram em sua vida. Estava
tentando perdoar o seu passado, as pessoas que o machucaram, e pela primeira
vez sentindo a verdade em seu coração, respondeu _ Eu já te perdoei. Só não sei como vai ser as
coisas com a Dora.
_ E com
você? – Perguntou com esperança.
Rodrigo deu
de ombros _ Vai devagar Augusto, não é do dia da noite que as coisas vão ser
como você quer. Você errou e muito e agora tem que se virar com as consequências
– Dizendo isso abriu a porta para ele sair e o ignorou. Por mais que tivesse o
perdoado, ainda era difícil essa situação, essa nova situação.
Estava
frustrado. Não, frustrado era pouco. Estava perplexo pelo o que acabara de
saber. Como iria contar isso Dora? E se sua mãe soubesse? Tudo bem, que ela
reconstruiu sua vida quando ele a deixou, e até casou-se novamente com um homem
que ama ele como um filho, de verdade. Ele sim o chamava de pai com orgulho,
mesmo que há mais de um ano não se viam, por conseqüências do acontecimento de
sua ex-noiva estar casada com seu irmão. E precisava concertas essas coisas
também.
_ Desculpe
Rodrigo, foi difícil não escutar – Caio estava com os olhos arregalados _
Isso... Isso é verdade?
Rodrigo
suspirou e encarou o amigo _ Sim, Caio, pelo jeito é a verdade.
Os dois se
entreolharam tentando digerir aquela notícia.
Então,
depois de alguns minutos tentando se recompor, sem dizer nada Rodrigo saiu do
apartamento, estava para bater na porta do apartamento de Mel, quando escutou
uma voz quase histeria. Era Dora, falando, chorando, gritando, de uma forma que
o deixou assustado. Estava para abrir a porta quando escutou algo que o deixou
ainda mais transtornado. Mudou de direção e voltou para o seu apartamento
fuzilando Caio com os olhos _ Você beijou a Dora?
Caio ficou assustado
pelo semblante alterado de Rodrigo _ Responda! _ É... Foi... Sem querer... _
Como se beija alguém sem querer Caio? – Aproximou de seu amigo com a voz
agressiva. _ Aconteceu, não era pra acontecer, mas aconteceu, não vai se
repetir. - disse exasperado e confuso, entendendo que Rodrigo estava coberto de
razão por repreendê-lo _ Caio Cruz, não quero que você toque um dedo a mais
nela. Escutou bem? _ Escutei...- passou a mão pelos cabelos, para afastar a
lembrança que quando viva o atormentava e agora a realidade das consequências
batia a sua porta, vindo de seu melhor amigo, um espelho de sua consciência. _
Você entendeu? Não quero mais saber de você dar em cima da Dora. _ Certo – Foi
a única coisa que ele conseguiu responder, sabendo que não iria adiantar de
nada conversar naquele momento. Não sabia como ele descobriu mas o fato é que
as coisas mudaram de uma forma estranha.
Rodrigo
saiu novamente do apartamento e ao se virar no corredor seu coração quase parou
e de repente voltou a acelerar rapidamente.
_ Mel?
_ Rodrigo!
– Sua voz era suave e estranha. Ficou parada de onde estava, confusa, perdida e
ao mesmo tempo angustiada.
Sem se
importar se Juliano iria aparecer ou não, abraçou-a aconchegando-se em seus
cabelos. Como precisava daquele abraço, estar perto de Mel...
_ Me perdoe
por ter agido daquela forma. Eu não quero te perder.
Seu coração
pulsou ainda mais rápido ao ouvir aquelas palavras tão aconchegantes _ Você não
vai me perder – Ela sussurrou e então com doçura pegou em seu rosto o fitando
pela primeira vez depois de horas angustiantes e sem noticias suas.
_ Eu...
Eu... – Mel estava reunindo forçar para falar aquilo que estava em seu coração.
Temia que se arrepende-se se assim dissesse, mas era mais forte que ela. Talvez
era muito cedo para falar, não sabia, mas o que sentia por Rodrigo era algo
muito intenso, ao mesmo tempo era algo incrível, como se fosse aquilo que tanto
esperava em toda a sua vida.
_ Eu...
Te...
_ Eu te amo
Mel! – Rodrigo sussurrou terminando aquela frase tão profunda e verdadeira,
junto com Mel. Ambos sorriram com aquela confissão genuína.
O tempo
parou naquele momento, o mundo desapareceu, os problemas deram lugar a um novo
sentimento, a um momento em que ambos esperavam. Não importava se Juliano iria
ter um ataque ao vê-los juntos, não importava o que os amigos iriam falar. Era
apenas Mel e Rodrigo num momento sagrado, único.
Seus olhos
falavam, seus gestos diziam, seus lábios se aproximavam confirmando a verdade
de seus sentimentos, mas Rodrigo parou ficando poucos centímetros de seus
lábios _ Você tem certeza?
Mel ficou
surpresa com essa pergunta. Queria aquele beijo mais que tudo, mas por um
momento seu bom senso entrou em
ação. Foi taxativa com Rodrigo ao dizer que ele teria que
resolver as coisas para poderem ir adiante. Entretanto, a sua consciência
gritava que ela teria que fazer a mesma coisa. Então, ela bufou e afastou-se um
pouco,
_ Agora sou
eu que tenho que resolver umas coisas.
Rodrigo não
ficou chateado pelo não beijo, apenas
assentiu sentindo feliz por estarem entrando em um relacionamento sincero _ Eu
te espero – Ele sussurrou em seus ouvidos e deu um beijo em suas bochechas
deixando-a ainda mais encantada.
_ A Dora –
Mel de repente lembrou-se dela. Como pude esquecê-la?
_ Como ela
está? Acabei escutando os gritos dela -
Rodrigo ficou tenso por um momento.
_ Nada bem,
o pai dela apareceu de surpresa.
_ Eu sei.
_ Ela está
com raiva dele e do...
_ Caio...
É, eu sei.
Mel olhou
de forma interrogativa para Rodrigo.
_ O Juliano
está com ela? – Perguntou com os olhos perdidos.
_ Sim, está
acalmando-a. Eu não consegui ficar, fiquei nervosa...
Rodrigo
pegou em sua mão e a conduziu para a escadaria _ Preciso conversar sobre a
Dora.
Mel ficou
preocupada com o seu semblante. Pelo jeito o assunto era muito sério.
Rodrigo não
se importou com o PROIBIDO ENTRAR de uma porta e entrou do mesmo jeito, subindo
mais alguns degraus até ficarem no topo do prédio com uma visão incrível da
cidade. Era de manhã, o sol estava ficando mais forte. Estava atrasado para o
trabalho, aliás, pelo jeito, todos. Mas, tem certas coisas na vida que eram
mais importante que o trabalho.
_ Nem sei
como começar Mel. Ainda estou surpreso com o que acabei de descobriu.
Mel não
disse nada, apenas continuou olhando em seus olhos pedindo para continuar.
_ Eu
conheci o pai da Dora. Ele estava perto da minha porta quando ela estava lá em casa... Fazia anos
que eu não o via, mas nunca esqueci da sua cara.
_ Como
assim?
_ Mel –
Rodrigo suspirou antes de confessar _ A Dora é minha irmã.
Ela ficou
estática ao ouvir aquilo.
_ O pai
dela também é o meu pai.
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