1 de outubro de 2013

29 - A verdade nua e crua

 Uma história em quatro mãos - Laços do coração


            Rodrigo não estava assustado pela visita inesperada de Juliano, pelo contrário, estava abismado pelo jeito arrogante e metido dele. Tudo bem, até entendia ele querer proteger a sua irmã. Mas à custa do que? De transformá-la quase em sua prisioneira?
Estava furioso por que era ELE que estava começando a estragar as coisas, como poderia conversar com a Mel se ele não desgruda dela?
            Andou de um lado para outro, angustiado. Caio entrou e olhou para ele preocupado _ Está tudo bem?
            _ Esse cara é um sem noção.
            _ É, e esse sem noção pode ser seu cunhado – Deu de ombros.
            Rodrigo suspirou concordando passando a mão na cabeça _ Preciso falar com a Mel. Acho que vou lá.
            Caio arregalou os olhos _ Não é uma boa ideia.
            _ O que você quer que eu faça? Aonde a Mel vai ele está. Se não é no apartamento é no café.
            Caio pensou por um momento _ Tudo bem, sei que é importante para você. Acho que tenho uma ideia.
            Ele cruzou os braços e encarou o amigo, este compreendeu que daria certo, mesmo não sabendo como ou o que iria acontecer.

* * *

            Rodrigo levantou cedo, estava ansioso, torcendo para que de fato a ideia de Caio realmente desse certo. Para isso foi preciso convocar Dora, logo de manhã.
            Ele abriu a porta recebendo Dora com carinho. Esta olhou desconfiada para ele e assim que viu Caio saindo do seu quarto, ficou sem saber como reagir. Queria ser implacável, ser fria, qualquer coisa que pudesse à distanciar dele, mas infelizmente seu coração, suas emoções não deixaram. Quando seus olhos se cruzaram, os dois pararam envolvidos naquele pequeno instante.
            _ Oi, você! – Caio se aproximou.
            _ Oi, você! – Ela respondeu da mesma forma.
            Rodrigo ficou em seu canto observando os dois. Era estranho, pareciam de certa forma hipnotizado um pelo outro, entretanto, não demorou muito para que mudassem as suas atitudes, demonstrando um certo distanciamento.
            _ Está tudo bem com vocês? – Perguntou com cuidado, preocupado com Dora. Pois sabia que Caio não estava sendo justo. Primeiramente por que aquele passeio deixou Caio perdido quando voltou para casa e depois, na noite anterior ouviu uma  conversa entre ele e a tal da Luisa, por acaso. Não estava entendendo a dele, e não estava gostando de ter visto aquela cena segundos atrás.
            _ O que vocês querem para me tirar da cama a essa hora? – Dora cruzou os braços desviando os olhos de Caio para encarar Rodrigo.
            _ Desculpe Dora, mas preciso da sua ajuda. Tenho que falar com a Mel o quanto antes e você sabe que o Juliano não está facilitando nada.
            _ E? – Continuou imparcial.
            _ Temos um plano para despistar Juliano, pelo menos por alguns minutos.
            _ E?
            Rodrigo e Caio se entreolharam. Tinham certeza que poderiam contar com a ajuda dela, mas ela não estava demonstrando nenhuma alegria em ajudá-los, na verdade, não estava nenhum pouco disposta para isso.
            _ Para que isso? O que você quer falar com ela? Vai deixá-la magoada de novo? – fuzilou Caio com os olhos sem perceber.
            Este compreendeu tudo, o que deixou totalmente desconcertado e ficou em silêncio, desviando o olhar para não encara-la. As coisas talvez não seria mais as mesmas. Lamentou-se.
            Rodrigo percebeu a indireta para o seu amigo e então tirou ele de cena. Pegou carinhosamente a mão de Dora e a levou para a varanda do seu apartamento.
            _ Olha, sei que o Caio é um bobo as vezes, mas preciso mesmo falar com a Mel. Eu gosto dela de verdade, e não quero magoá-la de forma alguma, mas se eu não falar logo com ela, as coisas podem ficar piores e não quero que isso aconteça.
            Dora bufou irritada e concordou.
            Ao voltar para cozinha Caio não estava mais lá. Rodrigo acompanhou Dora até a porta e quando ele a abriu e avistou um homem no corredor, à poucos centímetros da porta.
            Dora levou um susto não acreditando no que seus olhos viam. Rodrigo encarou o homem alto por um longo tempo, enquanto em um silêncio perturbador ele olhava os dois, com um semblante confuso e desconcertado. Rodrigo demorou apenas alguns segundos para o reconhecer mas quando percebeu quem era ficou perdido. O que ele viera fazer ali depois de anos sem procurá-lo?
            Dora era a mais assustada e demonstrou uma raiva que surpreendeu à Rodrigo
            _ O que você faz aqui?
            O homem ficou mudo por um momento, olhando de Dora para Rodrigo e vice-versa.
            _ Vim saber como você está filha – Depois fitou Rodrigo que arregalou os olhos ao escutar aquela palavra, filha. Sua vontade era de tirar satisfação na mesma hora. Sua mente voltou ao passado, fazendo-o perceber algo que o deixou mais surpreso do que com raiva. Por que conhecia como conhecia, não duvidava de mais nada vindo dele. O pior, é que trouxe muita mais dor e raiva para Dora, sua querida Dora. Ele sabia o quanto ela detestava o pai, não suportava falar dele, aliás, nunca falara dele. Mas agora, as coisas mudaram de uma maneira que Rodrigo jamais imaginou.
            _ Estou muito bem, longe de você – Ela respondeu irritada pronto para ir embora, mas Rodrigo a deteve o que a deixou ainda mais nervosa, sendo até rude com ele. Pensou que estaria fazendo a coisa certa, mas pelo olhar de Dora concluiu que era melhor deixa-la ir e conversar seriamente com o homem que a deixou assim.
            _ Vocês estão juntos? – O homem perguntou assim que ficaram a sós.
            _ Melhor conversarmos aqui dentro – Rodrigo disse e logo em seguida respondeu _ Não, somos apenas amigos. Como você pode fazer isso?
            _ Eu sei Rodrigo, eu sei.
            _ Sabe o que? – Cruzou os braços encarando-o _ Que traiu a minha mãe quando eu tinha acabado de nascer? Ela tem 18 anos, eu 19. Faça as contas ou será que tenho que fazer isso por você.
            _ Me perdoe filho...
            _ Não é a mim que você deve pedir perdão, eu tenho um pai de verdade e não é você. Agora a Dora, só tinha a mãe, por que o pai é um mulherengo safado que não tem um pingo de sentimentos pelos filhos que deixa por ai.
            O homem respirou profundamente, sabia que Rodrigo tinha razão, era insensível mesmo, estragou a sua vida com os seus erros, queria concertar, mas percebeu que a situação era mais complexa do que imaginava. Ainda estava tentando compreender como Rodrigo e Dora acabaram se conhecendo.
            _ Sei que fiz tudo errado, e quero pedir perdão por ter me afastado todos esses anos de você.
            Rodrigo ficou em silêncio tentando reconhecer alguma mentira ou falsidade em seu semblante, mas por mais difícil que seja, percebeu a sinceridade dele. Depois daquela noite na praça da igreja, as coisas mudaram em sua vida. Estava tentando perdoar o seu passado, as pessoas que o machucaram, e pela primeira vez sentindo a verdade em seu coração, respondeu  _ Eu já te perdoei. Só não sei como vai ser as coisas com a Dora.
            _ E com você? – Perguntou com esperança.
            Rodrigo deu de ombros _ Vai devagar Augusto, não é do dia da noite que as coisas vão ser como você quer. Você errou e muito e agora tem que se virar com as consequências – Dizendo isso abriu a porta para ele sair e o ignorou. Por mais que tivesse o perdoado, ainda era difícil essa situação, essa nova situação.
            Estava frustrado. Não, frustrado era pouco. Estava perplexo pelo o que acabara de saber. Como iria contar isso Dora? E se sua mãe soubesse? Tudo bem, que ela reconstruiu sua vida quando ele a deixou, e até casou-se novamente com um homem que ama ele como um filho, de verdade. Ele sim o chamava de pai com orgulho, mesmo que há mais de um ano não se viam, por conseqüências do acontecimento de sua ex-noiva estar casada com seu irmão. E precisava concertas essas coisas também.
            _ Desculpe Rodrigo, foi difícil não escutar – Caio estava com os olhos arregalados _ Isso... Isso é verdade?
            Rodrigo suspirou e encarou o amigo _ Sim, Caio, pelo jeito é a verdade.
            Os dois se entreolharam tentando digerir aquela notícia.
            Então, depois de alguns minutos tentando se recompor, sem dizer nada Rodrigo saiu do apartamento, estava para bater na porta do apartamento de Mel, quando escutou uma voz quase histeria. Era Dora, falando, chorando, gritando, de uma forma que o deixou assustado. Estava para abrir a porta quando escutou algo que o deixou ainda mais transtornado. Mudou de direção e voltou para o seu apartamento fuzilando Caio com os olhos _ Você beijou a Dora?
            Caio ficou assustado pelo semblante alterado de Rodrigo _ Responda! _ É... Foi... Sem querer... _ Como se beija alguém sem querer Caio? – Aproximou de seu amigo com a voz agressiva. _ Aconteceu, não era pra acontecer, mas aconteceu, não vai se repetir. - disse exasperado e confuso, entendendo que Rodrigo estava coberto de razão por repreendê-lo _ Caio Cruz, não quero que você toque um dedo a mais nela. Escutou bem? _ Escutei...- passou a mão pelos cabelos, para afastar a lembrança que quando viva o atormentava e agora a realidade das consequências batia a sua porta, vindo de seu melhor amigo, um espelho de sua consciência. _ Você entendeu? Não quero mais saber de você dar em cima da Dora. _ Certo – Foi a única coisa que ele conseguiu responder, sabendo que não iria adiantar de nada conversar naquele momento. Não sabia como ele descobriu mas o fato é que as coisas mudaram de uma forma estranha.
            Rodrigo saiu novamente do apartamento e ao se virar no corredor seu coração quase parou e de repente voltou a acelerar rapidamente.
            _ Mel?
            _ Rodrigo! – Sua voz era suave e estranha. Ficou parada de onde estava, confusa, perdida e ao mesmo tempo angustiada.
            Sem se importar se Juliano iria aparecer ou não, abraçou-a aconchegando-se em seus cabelos. Como precisava daquele abraço, estar perto de Mel...
            _ Me perdoe por ter agido daquela forma. Eu não quero te perder.
            Seu coração pulsou ainda mais rápido ao ouvir aquelas palavras tão aconchegantes _ Você não vai me perder – Ela sussurrou e então com doçura pegou em seu rosto o fitando pela primeira vez depois de horas angustiantes e sem noticias suas.
            _ Eu... Eu... – Mel estava reunindo forçar para falar aquilo que estava em seu coração. Temia que se arrepende-se se assim dissesse, mas era mais forte que ela. Talvez era muito cedo para falar, não sabia, mas o que sentia por Rodrigo era algo muito intenso, ao mesmo tempo era algo incrível, como se fosse aquilo que tanto esperava em toda a sua vida.
            _ Eu... Te...
            _ Eu te amo Mel! – Rodrigo sussurrou terminando aquela frase tão profunda e verdadeira, junto com Mel. Ambos sorriram com aquela confissão genuína.
            O tempo parou naquele momento, o mundo desapareceu, os problemas deram lugar a um novo sentimento, a um momento em que ambos esperavam. Não importava se Juliano iria ter um ataque ao vê-los juntos, não importava o que os amigos iriam falar. Era apenas Mel e Rodrigo num momento sagrado, único.
            Seus olhos falavam, seus gestos diziam, seus lábios se aproximavam confirmando a verdade de seus sentimentos, mas Rodrigo parou ficando poucos centímetros de seus lábios _ Você tem certeza?
            Mel ficou surpresa com essa pergunta. Queria aquele beijo mais que tudo, mas por um momento seu bom senso entrou em ação. Foi taxativa com Rodrigo ao dizer que ele teria que resolver as coisas para poderem ir adiante. Entretanto, a sua consciência gritava que ela teria que fazer a mesma coisa. Então, ela bufou e afastou-se um pouco,
            _ Agora sou eu que tenho que resolver umas coisas.
            Rodrigo não ficou chateado pelo não beijo, apenas assentiu sentindo feliz por estarem entrando em um relacionamento sincero _ Eu te espero – Ele sussurrou em seus ouvidos e deu um beijo em suas bochechas deixando-a ainda mais encantada.
            _ A Dora – Mel de repente lembrou-se dela. Como pude esquecê-la?
            _ Como ela está? Acabei escutando os gritos dela -  Rodrigo ficou tenso por um momento.
            _ Nada bem, o pai dela apareceu de surpresa.
            _ Eu sei.
            _ Ela está com raiva dele e do...
            _ Caio... É, eu sei.
            Mel olhou de forma interrogativa para Rodrigo.
            _ O Juliano está com ela? – Perguntou com os olhos perdidos.
            _ Sim, está acalmando-a. Eu não consegui ficar, fiquei nervosa...
            Rodrigo pegou em sua mão e a conduziu para a escadaria _ Preciso conversar sobre a Dora.
            Mel ficou preocupada com o seu semblante. Pelo jeito o assunto era muito sério.
            Rodrigo não se importou com o PROIBIDO ENTRAR de uma porta e entrou do mesmo jeito, subindo mais alguns degraus até ficarem no topo do prédio com uma visão incrível da cidade. Era de manhã, o sol estava ficando mais forte. Estava atrasado para o trabalho, aliás, pelo jeito, todos. Mas, tem certas coisas na vida que eram mais importante que o trabalho.
            _ Nem sei como começar Mel. Ainda estou surpreso com o que acabei de descobriu.
            Mel não disse nada, apenas continuou olhando em seus olhos pedindo para continuar.
            _ Eu conheci o pai da Dora. Ele estava perto da minha porta quando ela estava lá em casa... Fazia anos que eu não o via, mas nunca esqueci da sua cara.
            _ Como assim?
            _ Mel – Rodrigo suspirou antes de confessar _ A Dora é minha irmã.
            Ela ficou estática ao ouvir aquilo.
            _ O pai dela também é o meu pai.

           

           



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