8 de outubro de 2013

Capítulo 30 - Exagerado






Dora não podia acreditar no que estava acontecendo. Logo agora que as coisas estavam se ajustando em sua mente seu pai tinha que aparecer e trouxer de volta todos aqueles sentimentos ruins que ela tinha procurado esquecer e se já não bastava toda a situação com Caio. Tinha segurado o que deu, mas ao entrar em seu apartamento após ter reencontrado o homem que a abandonou não conseguiu conter o choro. Tentou abafar colocando a mão na boca, porém a dor era tanta que estava descontrolada. Juliano e Melody apareceram na sala tentando conforta-la e perguntar o que havia acontecido e eles só conseguiram ouvir ela resmungar aos prantos palavras como vagas como pai apareceu, Caio beijou. Juliano não sabia nada da história, mas juntou tudo e compreendeu o que estava acontecendo. Melody estava nervosa com tudo que estava acontecendo e não sabia o que fazer e foi dar uma volta no corredor. Juliano muito prestativo e eficiente conseguiu acalmar a Dora. Como a garota trabalhava só mais tarde Juliano sugeriu que ela dormisse um pouco para descasar as ideias e foi o que ela fez. Conseguiu dormi umas três horas, entretanto ainda estava abatida com os últimos acontecimentos. Levantou-se e desolada olhou para os lados – parecia que tinha chorado por horas – Tentou se levantar, mas estava desanimada, tudo que ela queria era poder deitar e não acordar mais. Receava que as coisas pudessem ficar piores, porém afastou tais pensamentos e se levantou, arrastou os pés até o banheiro e acendendo a luz fitou seu reflexo no espelho como sempre fazia.
─ Ele não pode ficar interferindo em minha vida. Ele não tem direito nenhum sobre mim. Afinal das contas... – Orientou-se - Ninguém tem. Eu vou fazer o que eu quero. – Falou pra si própria decidida. Terminou de arrumar e foi buscar a Carol. Na saída da escola as duas decidiram tomar um sorvete. Compraram um milk-skate na sorveteria perto da escola e foram para a pracinha mais próxima sentarem em um banco.
Dora queria muito falar com a menina que sorrindo deliciava seu sorvete.
─ Carol, eu preciso conversa seriamente com sua mãe, mas... – Falou pausadamente refletindo no que iria dizer ─... Mas, eu não poderia conversa com ela antes de falar com você. Você se tornou tão importante pra mim que o que vou dizer não é tão fácil. Ela gostaria de não ter que fazer isso, entretanto não tinha outra escolha. Já era hora de dar um novo passo para seu futuro.
─ Pode falar. ─ disse a garotinha toda inocente que fez Dora dar um sorriso fraco.
─ Olha, desde quando eu comecei a trabalhar a única coisa que fiz foi cuidar de criança e de todas essas crianças que eu cuidei a que me deu mais medo de continuar neste trabalho foi você – Carol arregalou os olhos e riu por ser temida – Por um lado foi por que você não queria babá e pensei que faria qualquer coisa para eu desistir do empego e depois de ver que você tomou conta do meu coração o meu maior medo é de não poder mais ser sua babá.
─ Como assim? – Carol perguntou surpresa.
─ Carol... eu não vou cuidar mais de você. – Sua voz embargou neste momento e as lágrimas começaram a descer – Não é que eu não queira estar perto de você, mas chegou a hora de eu buscar algo novo pra mim. Eu não sei se você entende...
─ Eu entendo. – Carol interrompeu sua babá – Só não quero. – jogou o copo de milk-shake no chão e saiu correndo chorando.
─ Carol! – Dora levantou-se gritando. A babá catou o copo do chão e jogou no lixo junto do seu e correu atrás da menina. Felizmente a garotinha correu para o balanço do parquinho ali na praça. Dora chegou e sentou-se no balanço ao lado do dela e as duas ficaram juntas em silêncio fugando o nariz. Carol gostava muito da babá e não consegui esconder a tristeza de ver que estava perdendo-a.
─ Uma vez falei pra minha mãe que você era a melhor babá e que eu gostava tanto de você e ela me alertou que você não ficaria pra sempre. - A garotinha revelou triste e se balançou levemente – Eu sabia que esse dia iria chegar, mas não pensei que fosse tão rápido. – Confessou olhando-a de lado – A gente ainda vai ser amiga e você vai me visitar?
─ É claro minha linda. – Dora respondeu mais feliz – E você pode ir ao meu apartamento a hora que quiser, é claro, quando eu estiver lá. – Carol sorriu e saiu do balanço e foi até a babá e deu lhe deu um abraço. Mesmo triste as duas se convenceram e Carol compreendeu a situação da babá.
─ É o seguinte. – Dora puxou Carol para olha-la nos olhos – Eu tenho que estudar e muito, pois eu quero prestar vestibular, então eu tenho que ir à biblioteca pegar alguns livros. Você vai comigo?
─ E eu tenho escolha? – Carol indagou sorrindo.
Touché.
─ O que é isso. – A menininha perguntou curiosa.
─ Significa tocado em francês. É o reconhecimento de um golpe, dito pelo esgrimista que foi golpeado. – Explicou a babá.
─ Ah. – Impressionou-se Carol.
Chegando à biblioteca Carol sentou-se e foi ler uns livros infantis ilustrados enquanto Dora se desdobrava para encontrar os livros que precisava. Estava irritada com a bibliotecária que nem se levantou para ajuda-la a encontrar o que ela queria. Depois de meia hora em sua busca conseguiu encontrar um dos livros que queria. O livro era grosso e estava bem preso aos outros e a garota teve que fazer muita força para conseguir arranca-lo. Puxou com tanta força que quando conseguiu tira-lo o livro bateu na cara de quem passava atrás dela.
─ Ai...
─ Me descul... – Dora se virou desculpando-se no mesmo instante que ouviu o rapaz resmungar.
Totalmente sem graça Dora fitou o rapaz de olhos verdes. Não sabia se sentia alivio ou raiva por ver Caio ali.
─ Tudo bem. Eu sei que foi sem querer. – Analisou Caio – Encontrei-me com Carol e ela me disse umas coisas sobre você não cuidar mais dela. – Caio olhou para ela e percebeu que ela tinha os olhos tristes – Poxa vida, Dora. – Ele sabia que essa tristeza era em parte dele – Eu preciso conversa com você sobre o parque...
─ Não. – Dora o interrompeu negando com a cabeça – No momento eu não quero saber de mais nada. Abraça-me Caio. – Disse ela se entregando aos braços dela e ele a envolveu nos seus braços. – Por favor, esquece o que aconteceu e continua sendo meu amigo. – Ela segurou no rosto dele e olhou nos olhos dele – Eu preciso de você.
Caio manteve o silêncio até Dora se sentir melhor para conversa. Ele não sabia se era uma boa ideia não resolverem o beijo do parque, mas como Dora estava enfrentando tantos conflitos preferiu esperar outro momento.
─ Então? – Dora recompôs-se e soltou Caio ─ O que faz aqui?
─ O mesmo que você. – Ela olhou-o confusa – Livros pra estudar. – Ela fez sinal de que entendeu. – Como sugeri a gente pode estudar junto.
─ Ok. – Concordou ela.

≈ • ≈ • ≈

Quando Marta mãe de Carol chegou Dora teve a conversa decisiva com ela e ficou acertado que Dora ficaria só mais duas semanas com Carol e depois disto a própria Marta tomaria conta da filha, a mulher recentemente descobrira que estava grávida de dois meses e era de risco, então o médico orientou que ficasse mais em casa e tomasse os remédios receitados.
Dora ficou aliviada de saber que Carol não poderia estar em mãos melhores do que a própria mãe e de certa forma sentiu saudades da sua e deixou algumas lágrimas saírem dos seus olhos. Antes que entrasse em seu apartamento Dora secou as lágrimas e Rodrigo apareceu no mesmo instante. Dora olhou-o e deu um leve sorriso e segurou na maçaneta da porta do seu apartamento.
─ Espera Dora. – Rodrigo a deteve segurando em seu braço fazendo com que a garota o olha-se o entranhando – Eu gostaria de conversa com você. –Falou cuidadoso.
─ Ai, Rodrigo vai ter que deixar pra outra hora, outro dia. Meu dia já foi cheio e eu estou esgotada. – Confessou nervosa e foi logo entrando deixando-o no vácuo. – Até mais.
Qual é a dele? – Pensou ao entrar.
Ela não estava com fome e não queria falar com mais ninguém, se trancou em seu quarto, tomou uma ducha e adormeceu. Ela realmente precisava dormi um pouco do que de costume, sabia que se ficasse acordada ficaria remoendo tudo e acabaria chorando. Dormiu repetindo pra si mesma que aquilo tudo iria passar.

≈ • ≈ • ≈

Dora levantou-se cedo escovou os dentes e foi até a cozinha. Lá se encontrou com Melody que tomava seu café calmamente.
─ Bom dia. – Cumprimentou Dora.
Melody sabia que se perguntasse para a amiga se ela estava bem ela piraria, pois por pouco tempo que conhecia Dora sabia que ela detestava o cuidado que as pessoas tinham com ela. Dora sorriu para a amiga em resposta e logo em seguida ouviu baterem na porta.
─ Eu atendo. – Disse saindo da cozinha.
Dora abriu a porta e deu de cara com Rodrigo.
─ Como você está? – Rodrigo perguntou preocupado com sua mais nova recente irmã.
Dora olhou-o desconfiada, estranhou a súbita visita matutina do rapaz.
─ Estou bem. – respondeu com os olhos semicerrados.
Rodrigo percebeu o desconforto da garota e tentou relaxar e procurou retirar a tensão entre eles.
O que será que ela está pensando? – É o que ele pensava aflito.
─ Fiquei preocupado no outro dia... Com tudo que está lhe acontecendo e... – Ponderou suspirando – Eu ouvi você chorar. – Disse olhando nos olhos dela o que a deixou mais inquieta.
─ Já passou. – Disse em um tom fraco – Quer tomar café com a gente? – Ofereceu recobrando o animo e pegando-o pelo braço e ele a seguiu como se não tivesse escolha, mas seus pensamentos recusavam na ideia de se encontrar com Juliano.
Ao chegar à cozinha encontrou apenas Mel degustando seu café da manha e surpresa com a presença de Rodrigo. Dora percebeu a reação da amiga e procurou uma desculpa.
─ Caio acordou atrasado e não preparou o café dele, então já sabe né. Vizinhas boazinhas geram amigos folgados. – Disfarçou o incomodo que o Rodrigo estava causando. – Eu vou ao quarto pentear meus cabelos e pegar meus óculos. – Disse saindo.
Dora saiu e cruzou com Juliano na sala. Sorriu cumprimentando-o e fez uma careta ao passar por ele sabendo que vai dar confusão quando este chegar à cozinha, porém preferiu não se meter e continuou em direção ao seu quarto. Depois iria se explicar com Mel, pois o seu namorado entre aspas estava muito preocupado com ela.
Juliano cruzou os braços num estado de fúria ao entrar na cozinha.
─ Sente-se Rodrigo. Não vai comer de pé, ou vai?! – Propôs Mel sorrindo sem perceber a presença do irmão.
Rodrigo sério fitou Juliano fazendo com que Melody percebesse e virou-se para encarar o irmão.
─ O que ele está fazendo aqui? – Indagou nervoso olhando para sua irmã.
Rodrigo o confrontou com um olhar.
─ Não se preocupe que eu sei responder. E dessa vez meu assunto é com a Dora e não com a Mel. – Falou no mesmo tom de Juliano.
Juliano o olhou mais bravo ainda.
─ Você não acha que ela já está passando por uma barra pesada para você vir irrita-la mais ainda? – Indagou Juliano bem agressivo.
─ Não é da sua conta. – Rodrigo disse na defensiva.
Mel estava paralisada com aquela fúria toda daqueles dois.
─ Gente a Dora vai ouvir vocês. – Mel falou preocupada.
─ Como assim não é da minha conta?! O que se tratar do bem estar da Dora e da Mel é da minha responsabilidade. Eu sou o homem desta casa. – Esbravejou Juliano.
Mel levantou-se e foi até a porta na tentativa de ver se Dora não estava vindo para ouvir a discursão dos dois.
─ A Mel pode até ser da sua conta, entretanto a Dora é de minha responsabilidade. Então não se intrometa. – Rodrigo disse tentando finalizar o assunto.
─ Ah tá, sei – Disse com um sorriso sarcástico. – Eu não vou permitir que você ou o Caio machuque ainda mais a minha irmã ou Dora por isso eu peço que se afaste delas. ─ Falou sério.
─ Coisa impossível de fazer... – Juliano olhou curioso querendo entender o porquê era impossível. ─ Juliano... – Rodrigo disse mais calmo – a Dora é minha irmã.

≈ • ≈ • ≈

Dora voltou a cozinha e a ira havia sido dissipada, porém Melody não estava mais ali.
─ Cadê a Mel? – Perguntou olhando de Rodrigo a Juliano.
─ Ficou irritada e foi trabalhar. – Juliano respondeu cruzando os braços e
Rodrigo manteve o silêncio.
─ Vocês dois estão tirando qualquer uma do sério. – Comentou demostrando a própria ira.
─ Eu? É ele. – Os dois falaram juntos apontando um para o outro fazendo Dora revirar os olhos.
O celular de Dora tocou e ela analisou o numero desconhecido e fez sinal para os dois ficarem em silêncio.
─ Alo? – Atendeu.
─ Oi, Dora. – A voz do outro lado era conhecida – Filha sou eu. Seu pai.
Dora deu uma risada sarcástica.
─ Meu dia não poderia começar melhor. –Ironizou – Quem te deu meu número? – Perguntou brava.
Rodrigo e Juliano se entreolharam sabendo de quem se tratava.
─ Me responda. – Ordenou Dora incomodando-se com o silêncio de Augusto.
─ Foi o Rodrigo... – Após ouvir o nome do amigo, Dora desligou o telefone.
Respirou tentando manter a calma.
─ Tudo bem, Dora? – Perguntou Rodrigo se aproximando.
─ Não está tudo bem e não toca em mim. – Falou quase gritando e se esquivando de Rodrigo – Qual é o seu problema Rodrigo?
Juliano saiu para seu quarto deixando os dois à sós.
─ Só quero o seu bem Dora. Preocupo-me com você. – Disse em um tom afetuoso.
─ Faz o favor pra mim?! – Pediu mais calma e Rodrigo fez um sinal com a cabeça – Para de se preocupar comigo.
─ Não dá. – Falou mantendo a calma, ele sabia que não era uma boa hora pra contar a verdade – Você é muito importante pra mim. Você é minha amiga.
─ Por favor, Rodrigo. – Dora fechou os olhos se acalmando – Sai daqui de casa. Você já está exagerando.
Rodrigo acenou com a cabeça.
─ A gente conversa outra hora. – Ele falou saindo.
Era só o que faltava. Não bastava Augusto ter o endereço dela agora ele tem seu número de celular e tudo culpa do cara que se diz seu amigo e que está agindo de forma estranha com ela nesses últimos dias.
Dora precisava ir ao café e conversa com Mel. Com certeza a amiga estava brava pela insistência de Rodrigo com ela e a garota tinha que se explicar.
Chegando ao café Dora puxou Melody para as mesas do fundo.
─ A gente precisa conversa. – Principiou cautelosa.
─ Conversa sobre o que Dora? – Para Dora Mel agiu como se não estivesse acontecendo nada. – E logo agora?!
Dora olhou em volta e não havia quase ninguém na cafeteria e os que tinham já estavam servidos.
─ É importante. – Dora objetivou – Eu não sei se você percebeu o jeito do Rodrigo e de como ele está tão preocupado comigo. Eu sei que somos amigos, mas ele está exagerando. – Falou com cautela – Eu só quero que saiba que não tem nenhum interesse da minha parte nele. Agora não sei o que deu nele. – Dora cruzou os braços.
Melody riu da amiga pensando que o motivo de Rodrigo se preocupar com ela era por ele sentir algo a mais e o fato mesmo é que ele tem o carinho de um irmão por ela, porém não seria certo Mel contar a verdade.
─ Dora... – Mel colocou a mãos sobre o ombro da amiga reconfortando-a – Não se preocupa, ele só quer te ajudar assim como o Caio, Juliano e eu. Ele se importa com você como nós.
─ Mesmo assim... – Dora parou ao ver que Mel sorria ao olhar para porta. ─ Tenho que ir. Faço questão de atender aquelas clientes. – Disse Mel deixando a amiga sozinha.
─ Ok. – Conformou-se e se virou para ver quem seria as clientes e não acreditou no que viu. – Mel. – Chamou a amiga baixinho só que era impossível a amiga ouvir.
Dora se sentia inferior àquela mulher e não queria ter que se encontrar com ela novamente e o pior de tudo é que desta vez Luísa estava acompanhada. Antes que as duas se virasse em sua direção Dora se sentou escondendo-se.
E agora como sairia dali?


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