30 de junho de 2014

Uma história em quatro mãos - Capítulo 42 - De volta pros seus braços

As provas se aproximavam e a tensão estava grande. Dora havia se reconciliado com Augusto e todos saíram pra comemorar. A família de Rodrigo estava completa, era sábado a noite e na manhã seguinte seria a prova e Dora mantinha o mistério de qual curso ela iria fazer.
⁃ Gente, o David acabou de me mandar uma mensagem. Disse que está quase chegando aqui.
⁃ E o que ele devia estar fazendo aqui?
⁃ Comemorando com a minha amiga. – falou ele a abraçando por trás, Mel notou a coloração dos olhos de Caio mudarem e sussurrou para o amigo a sua frente.
⁃ Se controla, por favor. – ele apenas arqueou a sombrancelha numa leve carranca na direção dos dois.
⁃ Boa noite pra você também Caio. Sou um homem família e estava doido pra conhecer todos vocês.
⁃ É bem vindo entre nós, David.
⁃ É claro que eu sei disso. – riu ele roubando uma azeitona da pizza de Dora e rindo pra garota em cumplicidade e pegando uma cadeira pra se sentar ao lado dela entre Rodrigo e Augusto. – Seu Augusto, saiba que eu estava torcendo muito pela reconciliação de vocês. Essa menina me dá muito trabalho tá mesmo precisando de um pai pra dar orientação. Dora lhe plantou um soco no ombro. – Ai! Tá vendo é disso que to falando! – todos riram menos Caio que se levantou abruptamente dando a desculpa de ir atender uma ligação. Mel pediu licença e foi atrás.
⁃ Ei, Caio! – ela o alcançou na calçada. – Você é péssimo pra disfarçar as coisas querido.
⁃ Era pra ser uma noite só nossa, sabia? Dos amigos e da família. Porque ela tinha que chamar esse cara! Parece uma sombra! E agora ele é o engraçado, parece o genro preferido, o amigão da galera!
⁃ Caio, na boa! Qual é a tua? A Dora estava ali o tempo todo e nada aconteceu entre vocês ou aconteceu e você pulou fora, daí aparece a Luiza que ressurge das cinzas direto pra sua vida e você parece não saber mais o que quer! A Dora sofreu perdas, cresceu e se tornou além de uma mulher linda, independente. Era fácil quando ela precisava de você. Agora tá no hora de mostrar que você precisa dela. Você precisa largar a mão de ser moleque, assumir o que quer da vida. E não ter raiva de quem sabe. A sua raiva é essa! Se o David fosse um canalha tudo bem, mole tirar do caminho. Se ninguém gostasse, melhor, mas todo mundo gosta inclusive ela e agora eu te pergunto: Vai fazer alguma coisa a respeito? Por que o ele parece estar fazendo!
⁃ Não é um bom momento pra uma cena, mas obrigado pelas verdades eu estava mesmo precisando. Quer dizer que ele é mesmo um cara legal?
⁃ É sim! Não mais que você amigo! Vem cá me dá um daqueles famosos abraços, você tá precisando. – ela o abraçou ou foi abraçada por ele. – Mas vê se toma vergonha logo tá!
⁃ Tudo bem Melzinha, mas eu vou pra casa, ok? Por mais bom moço que eu tente ser eu não estou conseguindo respirar lá dentro vendo eles dois. – o celular dele toca. – Peraí! Alô? Mãe! Mãe que voz é essa? O que está acontecendo? – a ligação caiu, ele tentava desesperadamente retornar.
⁃ Caio o que houve?
⁃ Meu pai, não tá nada bem Mel, tenho que voltar pra Ramos, agora. Vou passar em casa e pegar minhas coisas e vou. Não quero preocupar ninguém, volta pra lá e avisa quando estiverem saindo, ok?
⁃ Mas, Caio.
⁃ Por favor, Mel, é um momento importante pra Dora, ter a família reunida novamente. E eu preciso mesmo partir.
⁃ Tudo bem, entendo.
⁃ Diz que eu deixei um abraço em todos, menos no negão!
⁃ Vai logo! Eu digo e melhoras pro seu pai.
Ele pegou o próximo táxi direto pro apartamento, arrumar as malas era fácil, difícil era manter a mente longe do telefonema de sua mãe. Dona Lurdes parecia muito aflita.
Caio não perdeu tempo arrumou tudo o que podia levar, e foi direto pra rodoviária, enviou mensagem de texto pra Rodrigo, Mel e Dora: “Precisei voltar pra Ramos com urgência, meu pai está muito doente. Volto assim que der. Amo vocês!” Madrugada a dentro e ele só se lembrava do começo de toda essa história, essa vontade de se auto afirmar como homem para o pai de ser reconhecido por ele, sair de casa pra se encontrar, ser completamente dependente de Deus. Dar a distância como espaço necessário para estreitar vínculos com alguém que sempre esteve tão longe e tão perto. Se lembrou de como era quando pequeno, o desejo de seguir seus passos e nunca alcançar sua mão e agora estava ali dentro de um ônibus aflito e só novamente, pensando no perdão que precisaria dar e ansiava tanto por receber, talvez um abraço que nunca houve e talvez nunca houvesse.
Lágrimas quentes desceram pelos olhos verdes de Caio, a dor o medo apertavam seu peito. Amava seu pai isso era fato, o admirava como homem de Deus integro que sempre fora, mesmo que não fosse o homem mais afetivo do planeta e nem comunicativo. Era o seu pai, o homem que o apontou Deus acima de seu caráter falho e pecador, o homem que lhe mostrou verdades irrevogáveis e eternas. Começou a orar. “Hei, Deus, sei que eu errei muito nessa história de manter magoado com ele por todos esses anos e te peço perdão, mas ele não facilitou nada entre nós. Eu sei, eu sei, o lance da outra face, tornar o outro a causa maior, eu vi ele fazer isso por anos. Se dedicando a ajudar os outros não se importando com a própria saúde e as vezes nem mesmo a própria família. Eu sei que entendes de abandono, Jesus, sentiu isso na cruz e por isso sei que me entendes, conseguiste redenção pro mundo inteiro quando estava sofrendo e sozinho, me perdoe por me vitimizar por isso. Me ensina a ser melhor e alcançar teu perdão, mas me dá mais uma chance de falar com ele e estar com ele pra fazer isso. Só preciso de mais um pouco de tempo, só mais um pouco...”
Caio chegou a Ramos e foi direto ao hospital, encontrou sua irmã com uma das sobrinhas adormecidas sentada ao seu lado e seu irmão com a outra sonolenta e chorosa, a mãe estava no quarto com o seu pai e todos pareciam não dormir há dias. Bruna a sobrinha que estava quase dormindo por segundos esqueceu de onde estava e correu para o tio e em seguida desabou a chorar acordando a mais velha que se juntou aos dois num abraço longo e profundo, ele não se conteve e chorou também. Eram suas meninas, pre-adolescentes lindas, em um ano o rostinho redondo havia ganhado formas mais finas, ele as abraçava com força e as beijava muito. Tadeu e Rosa se aproximaram do irmão enquanto as meninas se afastaram e ficaram num canto abraçadas.
⁃ Como ele está?
⁃ O quadro é incerto, ele teve um AVC, foi de repente o trouxemos pra cá e logo entrou em coma. A igreja inteira está orando desde que souberam da notícia. – falou Tadeu passando a mão no pouco que lhe restava de cabelos.
⁃ Meu Deus! Coma! – respirou fundo e se sentou com um irmão em cada lado.
⁃ Eu ia te ligar, mas a mãe resolveu fazer isso. Caio ele precisa ver você falar com você. – disse Rosa.
⁃ Ele nunca quis isso antes. – sorriu fracamente sentindo a dor da mágoa voltar a rasga-lo por dentro.
⁃ Nos últimos dias ele ficava falando muito de você de como era quando pequeno das coisas que aprontava da mania de correr pelado pela fazenda e comer coisas que achava no mato. Lembra daquela vez que foi internado que comeu...
⁃ Urtiga achando que eram folhas de hortelã.
⁃ É foi um susto danado.
⁃ Eu vivia dando sustos tentando chamar atenção. Raramente conseguia.
⁃ Caio, não é porque ele não estava sempre presente que ele não te amava. Cada um tem um jeito de demonstrar.
⁃ Ele é um avô maravilhoso para as meninas, eu já vi ele com elas. Eu vejo que ele sempre favorece vocês, não é ciúme, não. Veja bem é fato, porque ele sempre me tratou diferente com mais distância que qualquer um.
⁃ Caio? – chamou D. Lurdes ao sair do quarto e ver o filho de olhos vermelhos e cansados conversando com os irmãos.
⁃ Oh D. Lurdes. Como você está?
⁃ Cansada, exausta mas em paz.
⁃ Como?
⁃ Seu pai é um bom homem e tá lutando, temos orado bastante e eu creio que Deus fará o melhor. Se o deixar bem veremos seu poder se o levar ele o verá em breve, ou seja, sempre o melhor.
⁃ Ok. – falou ele entre um suspiro e uma longa pausa pra digerir as palavras sábias de sua mãe e a envolveu num profundo e longo abraço mais pra ter dela o conforto que ela encontrava do que dar o que ele deveria estar oferecendo com seus braços.
Ele foi falar com os médicos e entender a posição e deram 24 horas pro quadro melhorar, ele precisava acordar logo ou as sequelas seriam graves ou mesmo as chances de cura cairiam. Ele pediu pra ficar a sós com o pai no quarto, ficou olhando pra ele se aproximou e sentou-se ao seu lado. Não era fácil ver aquele homem dinâmico e determinado, agora fraco e pálido numa cama entubado junto a aparelhos do qual dependia a sua vida.
⁃ Eu não sei porque isso está acontecendo. E eu nem sei como iniciar uma conversa com um cara em coma e isso porque esse cara simplesmente é você. Não me lembro de termos conversado sobre nada relevante antes, sobre mim ou sobre você. O que sei de você é o que vi, observei e senti, conheço pouco de suas histórias pessoais e você parece não tomar conhecimento de nada das minhas. - respirou fundo e se afastou. Me chamo Caio Cruz, a propósito o nome que você escolheu pra mim e me registrou como seu. Tenho 20 anos, gosto conhecer pessoas, amo fazer novos amigos, ouvir e aconselhar pessoas. Amo tocar piano, a música é algo que me escapa entre os dedos pra que eu possa me libertar de alguns medos, dores, frustrações, ou simplesmente traduzir sentimentos. Me apaixonei perdidamente duas vezes, na verdade uma, Luiza, e isso o senhor deve saber. A segunda na verdade não me apaixonei perdidamente, aprendi a amar devagar e com medo, muito medo de errar, de ser uma paixão leviana, de eu ferir ou me machucar. Acho que me tornei meio covarde com o tempo, não sei. Trabalho com um velho sábio luthier, tenho novos amigos que são como uma família pra mim. Tenho acima de tudo Deus como meu norte e foi você quem me ensinou isso, me ensinou tanto no banco daquela igreja pai, mas demonstrou tão pouco no sofá lá de casa, quando eu queria correr pros seus braços pra te mostrar meu novo machucado ou quando queria contar sobre uma descoberta na horta do tio… ahhhh… - respirou fundo e voltou a olhá-lo - Tá difícil compreender uma vida inteira em poucos minutos. Mas eu quero te falar sobre quem eu quero me tornar. Eu quero me tornar um homem que abraça seus filhos com ou sem motivo, quero ser um pai que participa de suas vitórias e tá do lado nas suas derrotas porque eu quero que eles saibam que nunca estarão sozinhos, quero ser um homem capaz de apontar Deus acima do meu exemplo de vida porque eu vou errar com eles em muitos momentos, mas Deus não e eles vão precisar saber disso. Quero ser tão amigo de meus filhos a ponto de minha menina poder me contar do seu primeiro beijo, mesmo que eu me tranque no banheiro pra infartar ou queira ameaçar todo garotinho que se aproximar dela na escola. Quero que ela saiba que é a princesinha do papai e que eu não vou deixar ninguém machucá-la. Quero ensinar meu moleque a chutar bola assim que aprender a andar e levá-lo ao estádio pra gente torcer junto. Quero amar muito a minha mulher a ponto dela confiar em mim pra ser seu parceiro pra uma vida inteira. Sabe o que é mais interessante seu Paulo? É que mesmo que eu me torne esse homem eu ainda vou querer ser um pouco como o senhor. Ser este homem honesto e justo, honrado e bom, que se preocupa com o outro e faz o bem, porque embora as lacunas e mágoas sejam grandes eu tenho algo a confessar que eu nunca tive a oportunidade antes de dizer… - se aproximou da cama e pegou em sua mão: - Eu te amo, pai! - deu-lhe um beijo na fronte e saiu do quarto sem notar uma lágrima rolar no canto esquerdo do olho de seu velho pai.
—————————
Não havia a menor explicação para o que havia acontecido. Rosa, D. Lurdes e Caio foram pra casa com as meninas porque elas tinham escola no dia seguinte e ambos precisavam trocar de roupa. Eles colocariam a menina na escola e voltariam para o hospital. Tadeu ficara com seu Paulo que ainda não apresentava nenhum quadro de melhora, a igreja passara a noite em Vigilia. Cleiton um amigo de infância de Caio também músico chegou na casa deles cantando pneu. D. Lurdes sentou esperando a má noticia. Duas palavras saíram da boca de Cleiton quando Caio abriu a porta:
⁃ Ele acordou!
Caio saiu correndo pro carro deixando a mãe sentada na cozinha, saiu do carro e voltou correndo pra pegar D. Lurdes, Rosa que tava no banho quase ficou pra trás.
⁃ Rosa, tem três segundos pra sair desse banheiro. O Pai tá de volta, estamos indo agora com o Cleiton.
⁃ Peraí, gente, pelo amor! - saiu ela desesperada caçando um vestido e o colocou meio molhada mesmo e saiu de casa com o cabelo pingando.
⁃ Podia ter trago a toalha Rosa tá me encharcando aqui.
⁃ Meu pai acordou do coma e você tá incomodado com meu cabelo Caio, não enche!
⁃ Esse é o meu trabalho. Vem cá maninha. - ele a agarrou e deu um beijo na bochecha molhada mesmo, ela começou a chorar e tremer.
⁃ Meu Deus isso é milagre! Eu nunca tinha visto um milagre antes, aos 30 anos eu nunca… meu pai.
Eles chegaram ao hospital e o médico ao ver D. Lurdes de cara vermelha de tanto chorar e sorriso no rosto, seus filhos igualmente emocionados não conteve ninguém de entrar no quarto, entraram todos. Tadeu já estava lá com ele. Caio o viu sentado na cama e quando seus olhos se encontraram tal foi a surpresa de todos quando seu Paulo disse:
⁃ Vem cá meu filho, me dá um abraço. - era a primeira vez que ele chamara Caio de filho e também a primeira vez que lhe oferecia um abraço, as pernas de Caio pareciam que não se moveriam até Rosa empurrá-lo estava praticamente em choque.
Ele costumava saber muito bem como abraçar alguém, como envolver e se deixar envolver por um abraço, mas esse era O abraço que sempre sonhara em receber e estava além de relutante receoso, se aproximou e foi envolvido pelos braços de seu pai, se sentiu um menino de quatro anos, ele um homem de 1,95 de altura, se aninhou nos braços de seu pai. Seu Paulo lhe falou ao ouvido só pra ele.
⁃ Desculpe ter demorado tanto, me perdoe por todos esses anos e… filho eu também te amo muito!
Caio o olhou nos olhos espantado querendo saber se ele ouvira tudo o que disse na noite anterior. E ao sinalizar com a cabeça ele confirmou.
⁃ Eu ouvi cada palavra. Inclusive Lurdes deixa eu lhe falar uma coisa, aquele médico tá de olho na senhora. Esperando eu bater as botas pra ficar com a minha viúva. Eu escutei cada elogio!
⁃ Paulo, pelo amor de Deus!
A gargalhada foi geral dentro do quarto e D. Lurdes vermelha demais. A tensão sendo dissipada no local, eles ficaram todos em volta da cama, ouvindo as histórias de seu Paulo. Caio se manteve ao seu lado o tempo todo, dois dias depois estavam todos em casa. E na mesa do café preparado por Caio, seu Paulo quis saber mais sobre a sua vida em 4Rios.
⁃ Me fala sobre a tal menina por quem você não está perdidamente apaixonado.
⁃ Dora…suspirou ele segurando a xícara entre os dedos longos e lembrando do sorriso dela. - Ela parece com morangos de inverno pai! Sempre uma surpresa, as vezes azeda, as vezes doce, tem o tamanho perfeito e eu simplesmente adoro o cheiro que ela tem. Ela tem aspirações tão pequenas, simples sabe? E um futuro tão grande que as vezes querer ela só pra mim parece egoísmo.
⁃ Ou covardia né Caio! Quando você se envolveu com a Luiza eu temi uma tragédia, não tinha nada contra a pobre garota veja bem. Ela sofreu mais na vida do que muita gente e se não fosse você a salvá-la nem sei o que seria dela hoje. Mas você ficou cego e louco por ela, mudou sua vida, deu margem ao sangue quente da família e não pensa que eu não sabia que quando você dormia na casa de Tadeu era porque estava embriagado porque eu sabia, eu só podia orar, eu não conseguia me comunicar com você. Eu não queria que você fosse como Tadeu ou Rosa e você nunca foi, eles pareciam sempre fazer a coisa certa e acabavam fazendo a errada. Você costumava mostrar quem era na primeira conversa, bom ou ruim estava ali transparente como a água e intenso como o mar e como tal difícil de se conter. Sempre achei que conquistaria o mundo, mas tá aqui jogando conversa fora sobre não conseguir conquistar uma garota!
⁃ Pai, a Luiza a transformou num protótipo dela. Hoje essa menina simples de óculos que conheci como babá, é uma super modelo de campanhas publicitárias e eu provavelmente sou mais um babando por ela.
⁃ Duvido, você está com medo de encarar os fatos. De encarar o comprometimento.
O telefone toca ele atende:
⁃ Escuta aqui, tá tudo bem aí com seu pai? - perguntou Seu Augusto um tanto irritado
⁃ Tá sim Seu Augusto, como vão as coisas? Ontem a noite liguei pro Rodrigo e expliquei tudo.
⁃ Tá e porque não falou com a Dora?
⁃ Não foi isso, eu não quero preocupá-la com nada. Já está tudo bem, meu pai tá em casa, logo eu volto pra 4 Rios.
⁃ Logo? Ok, eu vou ser rápido: Dora está indo embora!
⁃ Ela está o que? - Caio se levantou da mesa com o coração na mão.
⁃ Ela não permitiu que ninguém te contasse devido a tudo o que está acontecendo aí, mas eu precisava falar. Já que você não teve a decência de incluí-la neste momento da sua vida. - falou o homem com certa rispidez.
⁃ Caio fechou os olhos e imaginou o que seria Dora partindo pra Paris com David, ele enfim perdera de vez a batalha.
⁃ Quando ela parte e com quem? - falou secamente.
⁃ Ela não está indo pra Paris, deu uma confusão na agência entre ela Thais e Luiza e foram as duas demitidas.
⁃ Quem? Thais e Dora. Bom, Dora pediu demissão e Thais foi demitida por Luiza por que insultou Dora.
⁃ Sério que ela fez isso? Mas se ela não vai a Paris ela vai pra onde?
⁃ Sinop.
⁃ Onde raios fica Sinop?
⁃ Sério que ainda vai ficar discutindo isso comigo por telefone. Ela parte amanhã as dez!
⁃ Como eu vou chegar aí a tempo?
⁃ Se vira moleque! Tchau.
⁃ A Dora está indo embora e eu acho que é pra Tailândia, eu preciso ir atrás dela.
⁃ Lurdes, arruma as coisas do menino ele tem que voltar pra 4 Rios agora!
Chegar em 4 Rios em tempo recorde demandou tempo e bons contatos. Se ele pegasse o ônibus rodoviário não teria mesmo como chegar lá, devido as paradas e a lentidão do trajeto que é mais longo. Cleiton se ofereceu pra levá-lo ainda seria uma estrada longa até lá, mas chegaria a tempo dela embarcar.
⁃ Cara, eu nunca fui piloto de fuga antes, tomara que essa mulher valha a pena brother!
⁃ Vale sim! Mas quer saber eu to com muita raiva dela agora.
⁃ Como é que é? E tá me fazendo correr porque?
⁃ Por que com raiva ou não eu amo essa mulher e ela não vai sair do país enquanto não ouvir umas verdades.
Ao descer no aeroporto Caio viu de longe o pessoal saindo, Mel e Rodrigo, incluindo David, o que o irritou mais, estava muito tarde pra ele, ela já devia estar na sala de embarque. Sorte, Cleiton ter conhecidos no aeroporto e ter feito o check-in do próprio Caio para livre acesso ao portão de embarque. A galera não o viu até ele tropeçar no próprio cadarço e quase cair no chão do aeroporto o que seria uma grande cena, mas conseguiu se equilibrar a tempo de continuar a corrida com o bilhete na mão e nem fazia ideia do destino. Quando chegou Dora não estava no saguão e ele nem conseguia respirar mais, primeiro pela corrida e segundo pelo desespero, quando a viu saindo do banheiro ajeitando alguma coisa na bolsa. Respirou fundo de alivio e em seguida exclamou em alto e bom som pra todo mundo ouvir:
⁃ Então é isso? – ele falava gesticulando e caminhando firmemente em sua direção com olhos fixos e faiscantes, lindos e provocantes.
⁃ Caio? Que isso! Ta fazendo um escândalo! – ela não imaginava vê-lo muito menos alterado desse jeito, mas estava internamente feliz, pois ele estar ali mesmo que a apavorando.
⁃ Não viu nada ainda. Quer dizer que meu pai adoece e quase morre em Ramos e você friamente trama ir embora e não deixar que me avisem? Esse alisamento e maquiagem por acaso afetaram seu caráter Dora? - falou ele dando um tapa em uma das mechas de cabelo dela a assustando um pouco que acabou acuada entre ele e uma parede.
⁃ Você foi pra Ramos e nem se despediu ligou pro Rodrigo e nem falou comigo.
⁃ É vingança? Uma disputa? Jura? O que está acontecendo aqui? Fala! - gritou ele a fazendo tremer.
⁃ Ca-a-aio! Você está me assustando. – falou ela com voz tremula ao que ele aquiesceu respirou fundo tentando encontrar as palavras e com olhos ternos falou ainda irritado, num tom mais brando.
⁃ Eu é que to assustado eu to apavorado e essa é a minha pobre desculpa por nunca conseguir dizer o que eu realmente sinto por você.
⁃ Não se sinta pressionado a dizer nada só porque eu estou indo embora Caio, por favor. – isso o irritou mais
⁃ Cala a boca Dora! Ca-la essa boca! - ela cometeu o erro terrível de rir debochadamente dele.
⁃ Tá achando que pode vir com essa banca toda pra cima de mim e me mandar calar a boca? Tá muito enganado Caio Cruz! - falou ela se afastando dele no que ele a puxou de uma só vez pelo cotovelo.
⁃ Ah não to não! - e antes mesmo dela poder reagir estava em seus braços sendo beijada como nunca antes ele fez, era um beijo possessivo, apaixonado, desesperado e ainda sim contendo um certo carinho que lhe derretia o coração. Era a doçura e a paixão fazendo acelerar aqueles dois corações.
Caio estava implorando pra ela ficar num beijo. E o que viria depois? Que futuro é esse? Sem emprego namorando um rapaz de 20 anos, que não sabia o que queria. Ela não queria a vida de sua mãe, num subemprego pra sobreviver com duas filhas porque se apaixonou pelos homens errados e “seguiu seu coração”. Ele não era o homem errado, ela estava sendo injusta, ele fora um porto seguro pra ela todas as vezes, ela amava aquele garoto que nunca fora capaz de libertar essa frase de seus lábios, apesar de seus beijos. Esses mesmos doces lábios que lentamente a abandonavam agora para encontrar em seus olhos uma resposta. E que olhos lindos, verdes e reveladores, ela ia sangrar muito pra dizer o que tinha que dizer. Ele a interrompeu.
⁃ Eu sei que não posso te pedir pra ficar, mas não quero que fuja de mim, nunca mais. – ela entre abriu os lábios pra responder quando a voz soa fria e metálica sobre ambos.
⁃ Última chamada para o voo destino Sinop, passageira Isadora Evanz, compareça ao portão de embarque. - ela sobressaltou ao ouvir seu nome e pegou a mala que caiu no chão com o beijo avassalador.
⁃ Eu preciso ir. - ela se desprendeu dele e se encaminhou até o portão entregou o bilhete para a comissária. Caio foi atrás.
⁃ Hei! Eu sei que você se recusa a ouvir a verdade e eu to realmente cansado de ser interrompido. Vai ser aqui e agora. - a aeromoça falou no rádio comunicando o incidente frente ao portão de embarque. – Pelo visto a moça chamou a segurança temos pouco tempo, então lá vai! Não dá pra eu fingir que quero ser só seu amigo e nem você fingir que não sente o mesmo por mim. Já chega! E também não dá pra eu ficar vendo você acreditar que eu amo outra mulher, porque eu só posso dizer “eu te amo” a uma mulher se eu estiver olhando nos seus olhos Dora. Você é a mulher que eu amo! Só você! Que me deixa louco desde a primeira petulância e doçura que é uma mistura arrebatadora pra mim. Deixei de ter medo do definitivo. Quero você! Quero você pra namorada, noiva, esposa, e avó dos meus netos. Eu te quero menina!
Os seguranças chegaram pra levar ele pra fora dali. A aeromoça estava vermelha demais pra falar chorando rios pretos de rímel. Dora sacou um lencinho pra ela e lhe entregou sussurrando em seu ouvido:
⁃ Acho que vai precisar disso e eu preciso que você peça pra descarregar minha mala do avião, por favor. - falou Dora, a mulher apenas sinalizou que sim com a cabeça, enquanto se recompunha.
⁃ E para que conste, exagerado Caio Cruz me visualizar como avó cheia de netos foi longe demais. Um dia de cada vez, pode ser? - ela acenou para os seguranças o soltarem eles riram e saíram de cena.
⁃ Se forem todos com você eu topo! – sorriu daquele jeito sacana meio rasgado de lado a puxando pela cintura num beijo doce e demorado.
No portão ao lado uma loira enxugava as lágrimas enquanto colocava os escuros óculos e embarcava num voo sem retorno pra Itália.
Eles encontram Cleiton do lado de fora do aeroporto, que respirou fundo ao vê-los juntos e sorriu para o feliz casal. Caio os apresentou e pediu uma carona para casa antes dele voltar a Ramos pra conhecer o pessoal.
⁃ A propósito se isso foi um pedido de casamento eu quero um anel? - provocou Dora ao entrar no carro de Cleiton.
⁃ Que isso criatura estava só pedindo em namoro mesmo o lance de “noiva-esposa-avó” foi pra dar ênfase no discurso e você não subir no avião.
⁃ Cleiton para esse carro!
⁃ Segue, Cleiton! E você vem cá! - falou ele a puxando de volta para os seus braços ela sorriu.
⁃ Eu te odeio Caio Cruz.
⁃ Também te odeio Isadora Evanz! - e ela o beijou mais uma vez, agora seu, sem nenhuma dúvida, todo seu Caio.

Bienal Online com Adriana Ramiro - Entrevista

1        




E a Bienal Online trás a primeira entrevista da autora Adriana Ramiro. 
     Pegue seu cafézinho, fique à vontade e venha com a gente e conheça um pouco 
     mais sobre a nossa querida autora, Adriana Ramiro :)

      Como nasceu a vontade de escrever?

Escrevo desde que ganhei um diário aos sete anos de idade. De lá para cá, sinto imensa necessidade em escrever.  Entretanto, depois de uma ressaca literária por causa da saga Crepúsculo – em 2010 li cinco vezes a saga -foi que em todas às tardes, durante um mês, eu me fechei no quarto e pari um romance teen. Eu o li várias vezes. Amo-o. Se vou publicar, não sei. No entanto, um sonho tomou forma no meu coração.  Mas foi em 2011, quando conheci Lycia Barros e já tendo escrito um segundo romance que pretendo publicar no próximo semestre deste ano, que entrei para seu grupo de autores iniciantes a fim de aprimorar minha escrita. Então, vieram as antologias com grupo Ases da Literatura, sob a organização da Lycia. De 2012 até junto deste ano, publiquei quatro contos: A Integração, Razões, O Protegido e Princípios das respectivas antologias: O Último Dia Antes do Fim do Mundo, Amores Impossíveis, Segredos de Família e Aconteceu Na Copa. E nos intervalos entre uma antologia e outra escreviquatro romances ainda não publicados. Amo escrever, tenho ainda dezenas de ideias estruturadas para um possível romance.

2.      Como foi o desenvolvimento da história?

Dos livros, ainda não publicados:a ideia vem, para tudo, pego um caderno e começo a estrutura-la. No caso dos contos que têm temas estabelecidos pela organizadora, faço da mesma forma após surgir a ideia, estruturo os argumentos e só então a escrever. Preciso organizar tudo do começo ao fim: fichas de personagens, acontecimentos chaves, pastas de pesquisas e então começo a escrever. Claro, com muita música na cabeça.

3.      Como está a expectativa?

Para a publicação de meu romance solo, em fase de revisão, estou morrendo de ansiedade a cada dia. Ressuscito no dia seguinte e “bora lá” revisar, lapidar para entregar algoexcelente ao editor. Sou perfeccionista. Quanto aos contos já publicados, a ansiedade é sempre a mesma, porque eles passam por um processo de avaliação e não sendo aprovados, não entram nas antologias. Então eu sempre tenho a sensação de que nunca vou entrar. Mas graças a Deus, sempre acontece o melhor. Espero o mesmo para o meu livro solo.

4.      Como foi todo processo para a publicação?

A primeira antologia, o grupo Ases da Literatura publicou pela EditoraNovo Século, com o selo Academia de Autores. As demais, o grupo que passou a ser também um selo de mesmo nome e sob administração da Lycia Barros, foram publicadas por ele. Não deixa de ser uma publicação independente, mas a força do grupo, e de cada membro se disponibilizando a trabalhar pelo ideal comum, tem tornado as publicações dos Ases algo bem visto no universo literário nacional. Tanto que o próximo passo para minha publicação solo é de publicar pelo selo Ases da Literatura.

5.      Tem outros trabalhos, além desse? Se sim, quais?

Estou a vias de entregar meu romance para publicação. Espero que consiga publicá-lo no segundo semestre deste ano. A princípio, o nome dele é Fontes Altas. E no mês que vem será publicado outra novidade fenomenal, para qual fui convidada. Uma honra, mas é surpresa. Só sei dizer que é um presente de Deusestar com pessoas renomadas do mercado literário nacional. Também, este ano ainda, algumas poesias minhas serão publicadas com autores de várias partes do país, mas ainda não tenho a data especifica.

6.      Em cinco palavras, defina o seu livro.

Tanto para as antologias como para tudo o que eu escrevo: Deus, Vida, Fé, Amor e Esperança.

7.      Escrever é...

Cara...Até sorrio ao ouvir essa palavra. É minha metade mais real, mais emocionante, que me impulsiona a viver. Depois de Deus, é claro. Não fico sem os dois.

8.      Deixe uma mensagem para quem está atrás de seus sonhos.

Por muito tempo eu passei a vida sonhando. Acho que a melhor parte do sonho é quando você acorda e resolve vive-lo. Como? Faça o mínimo, o máximo, o possível, o impossível, o ilógico ou lógico, mas comece de alguma forma, trabalhando por você. Isso já é cinquenta por cento da realização dos sonhos. Quanto à escrita, não acredite em mágica. O mundo literário está se tornando algo mais que possível para o autor nacional. Porqueas editoras, agora, caiem do céu? Não! Claro que não. Elas ainda nos olham do alto. Entretanto, agrande maioria acordou do sonho e foi realiza-lo. Meteu a cara na publicação independente, jogou o livro no Wattpad, no Widbook, Amazon, pequenas editoras e chega dessa chorumela de bancar a “vitima não publicada”. E com isso, até quem nunca sonhou publicar um livro, realizou-se estando lá. Dessa forma muitas editoras, boas, têm achado grandes autores nessas plataformas. Contudo, faça o melhor trabalho em cima do que você ama. Comece publicando um conto para analisar a aceitação do leitor.Estude o seu publico. É Mentira que escritor escreve para si,portanto pode escrever como quiser. Tem que se aprimorar, buscar excelência no que faz. Escritor tem que estudar sim! É obrigatório buscar novas ideias, novas ferramentas. Tem que entender da Websfera; redes rociais movem o mundo e vendem livros. O novo autor nacional é proativo, multifuncional, ele tem que ter o mínimo de conhecimento das novas tecnologias. Não adianta achar que o livro publicado se venderá sozinho, assim como ele não se publica sozinho. Ficar invisível ao mundo literário é suicidar-se como autor. Se envolva, mostre interesse pela escrita, faça amizades que agreguem coisas boas à sua escrita. Se espelhe em autores que venceram dando bons exemplos. Aceite as criticas e use-as para sua inovação. Saiba ouvir mais e falar menos. Fuja de “barracos literários” nas redes. Construa uma imagem vendável, responsável e que passe a ideia deque seu livro é livro bom. Porque começam comprando sua história, se gostarem, comprarão seu nome nas livrarias. E leia, leia de tudo. Escritor bom é aquele sem preconceitos de gêneros e estilos. Transforme todos os nãos em sim. Você pode!


27 de junho de 2014

Primeiro capítulo - Cinco anos - Cristiane Broca

O Blog Eclética teve alguns imprevistos, por isso a postagem do capítulo está nesse blog.
A nossa Bienal Online está com tudo!!! Obrigada a cada um!!!

Você já conferiu várias entrevistas da autora e conheceu mais detalhes do livro, certo?! Agora você  vai poder ler o PRIMEIRO CAPÍTULO desse lindo romance. 

CINCO ANOS
 CRISTIANE BROCA

Capítulo 1


Era maio de 2007. Há apenas dois anos no mais alto posto da igreja católica, o Papa Bento XVI estava de visita ao Brasil para vários compromissos, dentre eles a canonização do primeiro santo nascido em terras brasileiras, Santo Antônio de Santana Galvão, popularmente conhecido como Frei Galvão.
            O pontífice desembarcou no país no dia 9 de maio e ficou hospedado no mosteiro de São Bento, em São Paulo. Após concluir os compromissos da capital, incluindo a missa de canonização do santo, o Papa embarcou rumo ao interior do estado para visitar as cidades de Aparecida e Guaratinguetá.
            Aparecida, famosa por possuir o maior santuário mariano do mundo, a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, cuja imagem foi encontrada por três pescadores em 1717, estava em festa, assim como a vizinha Guaratinguetá, terra natal de Frei Galvão, onde o Papa visitaria uma organização social que trata dependentes químicos com foco no trabalho, convivência e espiritualidade, a Fazenda da Esperança.
            A imprensa se mobilizou toda para cobrir o evento também no interior.
            Ângela Barros era uma jovem de vinte e um anos nascida e residente em Aparecida. Recém-formada em Jornalismo, ela concorria a uma vaga na equipe do Vale impresso, jornal com sede em Guaratinguetá, onde estagiava. Sua concorrente direta à vaga era Lúcia Reis, uma jovem de vinte e dois anos, estatura mediana, cabelos castanhos curtos, um rosto bonito e olhos pequenos e redondos.
            O jornal tinha saída semanal e contava com uma equipe de nove funcionários fixos, mais as duas estagiárias que competiam para virar o colaborador de número dez. Sua proprietária era Andréa Albuquerque, jornalista com boa formação universitária e experiência adquirida na capital, que há oito anos havia realizado o sonho de lançar seu próprio jornal em Guaratinguetá. Ela tinha quarenta e três anos, olhos verdes e cabelo loiro com corte chanel, combinando perfeitamente com sua figura alta e esguia.  Era bonita, inteligente e mais rigorosa do que qualquer chefe homem que Ângela tivera antes. Sabia das dificuldades de se produzir um jornal de qualidade com pouco capital e uma equipe restrita, por isso levava o trabalho extremamente a sério e cobrava muito de seus jornalistas.
            Ângela e Lúcia, cada uma ao seu modo, eram boas, mas também tinham defeitos. No ponto de vista de Andréa, elas se completavam, pois enquanto Lúcia era organizada e confiável, Ângela era esperta e criativa. Os pontos negativos de Lúcia incluíam a falta de visão e capacidade de improvisação, coisas que Ângela tinha de sobra. Os problemas de Ângela eram sua desorganização e os atrasos constantes. Andréa era sistemática e prezava muito a pontualidade. Ela nunca havia trabalhado com alguém com tanto potencial e ao mesmo tempo tão crua quanto a jovem. Como não podia efetivar as duas e só tinha até o fim do mês para decidir, no momento estava ficando com Lúcia.
            Às 19h do dia 11 de maio, Ângela penteava os cabelos molhados em frente ao espelho. Á água escorria cada vez que a escova descia até as pontas, jogando respingos por todo o lado. Ela estava com pressa e, ao penteá-los sem o menor cuidado, arrebentava vários fios e agradecia a Deus por ter lhe dado um cabelo liso, mais simples de cuidar do que se fosse cacheado.
            Ela olhou de relance para a cama, onde a pequena bolsa de viagem a esperava com algumas peças de roupas, entre elas o terninho que usaria no dia seguinte. Vestiu sua calça jeans de lavagem clara, uma camiseta branca justa, calçou seu inseparável All Star azul-marinho e passou gloss nos lábios. Olhando para o espelho, julgou-se bonitinha em seus 1,70m de altura. Seu corpo era magro, porém não muito, pois tinha curvas acentuadas nos locais certos como o bumbum arrebitado, traço marcante das brasileiras. Ângela era definitivamente o estereótipo da mulher brasileira: bonita, alegre e batalhadora.
            Antes de sair ela ainda se deu conta de que precisava cortar o cabelo. A franja reta já estava na altura dos olhos, e o cabelo quase na cintura. Anotou mentalmente aquele compromisso para a próxima semana, pegou suas coisas e foi até a sala se despedir de seu pai. Estava propositalmente adiantada para seu compromisso porque queria fazer algo antes dele.
— Já vai, fia? — Francisco perguntou da forma carinhosa e interiorana que era acostumado a falar, ou, como ele mesmo dizia, caipira.
            — Já, pai, me deseje sorte — disse ela de forma parecida. Por ter estudado, seu vocabulário era bem melhor que o do pai, mesmo assim falava o “r” puxado como a maioria das pessoas do interior de São Paulo.
            — Boa sorte, minha princesa — desejou Francisco, sabendo que a filha teria muito trabalho por aqueles dias.
            — Obrigada. Vou ligar para saber se o senhor está bem e vou pedir à Malu que passe aqui para te ver enquanto eu estiver fora, está bem?
            — Não precisa incomodar a menina, deixa ela quietinha com o maridinho dela.
            — Mas, o senhor vai ficar bem?
            — Claro fia, eu tô bem hoje.
            — Então está bem. Te amo, pai.
            — Também te amo, fia.
            Ângela beijou o pai, pegou a filmadora que havia emprestado de um vizinho, colocou as coisas no carro e saiu, torcendo para não se atrasar. Não estava muito feliz pelo compromisso que a aguardava, mas precisava impressionar a chefe e não dar a ela motivos para se zangar, já que havia se atrasado duas vezes somente naquela semana.
            Cinco minutos depois de sair, parou o carro e caminhou em direção a um dos quatro portões da basílica, o mais próximo à sua casa. Ela procurou um bom lugar para ficar, fora do cordão de isolamento, de onde pudesse filmar a chegada do Papa à sua cidade natal.
Não demorou nada e dois helicópteros surgiram na escuridão. Em um deles estava o Papa. Eles aterrissaram no heliporto que ficava em um morro de frente para a basílica, que estava toda iluminada. Era uma cena linda de se ver, concluiu Ângela, observando a beleza imponente da igreja enquanto os sinos ecoavam pela atmosfera e uma música mariana embalava o momento. Apesar de ter nascido e morado a vida toda ali, ela ainda se surpreendia com a beleza daquela construção.
            Alguns minutos depois da descida do helicóptero o Papa surgiu, descendo a colina da igreja de papa móvel e acenando para as pessoas que se aglomeravam atrás dos cordões para vê-lo. Tais cordões atravessavam a cidade até o seminário Bom Jesus, onde ele ficaria hospedado em sua estadia em Aparecida. Foi tudo muito rápido e Ângela ficou entusiasmada com a experiência. Era um grande acontecimento para a cidade, que vive do turismo religioso, e para a região em geral. Quando o papa João Paulo II visitou Aparecida, em 1980, ela ainda não era nascida. Desta vez estava presenciando a história e, um dia, pensou, iria contar aos filhos. Não que pensasse no assunto o tempo todo. Queria ter uma família algum dia, mas a sua prioridade no momento era crescer na carreira e cuidar de seu pai. Desejava ter estabilidade para proporcionar a ele uma velhice melhor. Ele sempre dizia que não duraria muito e que ela precisava se casar, ao que ela respondia que ele não se atrevesse a deixá-la, porque a mãe já havia feito isso.
            Reparando nas pessoas que se dispersavam animadas com o momento que haviam presenciado, ela caminhou tranquila pela noite fria de maio e não percebeu que estava atrasada até entrar no carro e pegar o celular que havia deixado no banco do carona.
            Imediatamente ela se lembrou do cordão de isolamento impedindo a passagem nas principais avenidas da cidade e soltou um “Putz, estou ferrada”, enquanto dava partida no Fusca 68, de cor branca, e fazia o retorno a fim de pegar a Via Dutra.
            A Andréa vai cuspir fogo com mais esse atraso, pensou, sabendo o quão frágil era sua situação no jornal. Ela assumia que era desorganizada, mas não irresponsável. O fato é que tinha um pai idoso e doente que dependia de seus cuidados. Costumava ficar acordada até altas horas da madrugada com ele e por isso se atrasava, mas não podia dizer a ninguém porque, mesmo sendo verdade, soaria como um impedimento ao cargo. O jornal era respeitado na região, a equipe trabalhava duro com o que tinha nas mãos, e Ângela queria muito fazer parte daquilo, mesmo com todos os seus problemas.
            Na Via Dutra ela estava a 90 quilômetros por hora, o que era muito para o velho fusca, que parecia gritar por socorro. Não me abandone agora, amigão, dizia a ele, com medo de acabar provocando um acidente caso o pobre veículo se desmontasse ali mesmo. A ferrugem cobria boa parte de sua lataria e corroía sua pintura branca. Os assentos estavam ruins, assim como as maçanetas. O medidor de gasolina não estava funcionando e ela havia ficado na estrada na semana anterior por conta daquilo. Ouvindo o barulho do motor, sabia que a qualquer momento ele a deixaria na mão. Isso nunca tinha acontecido desde que o comprara havia dois anos, enquanto cursava a faculdade de Jornalismo e trabalhava meio período em um escritório de contabilidade para ajudar nos estudos. Aquele havia sido um tempo difícil, em que ela e o pai gastaram todas as suas economias para manter a casa. No último ano, já sem dinheiro, eles se endividaram. Francisco precisava de remédios, uma boa alimentação e assistência médica constante. Ângela ganhava um salário mínimo como estagiária, e ele ganhava um salário mínimo de aposentadoria. Eles viviam apenas com esses dois salários que mal davam para passarem o mês, e o empréstimo que ela havia feito no banco estava com juros sobre juros e já havia virado uma bola de neve que ela não conseguia mais controlar. Agora estava sem dinheiro, sem crédito na praça, com muitas dívidas, e precisando desesperadamente de um emprego. Tentava ser otimista e manter a mente tranquila, mas sabia que se não fosse efetivada no jornal só teria chance de conseguir um emprego do mesmo nível em outra cidade maior e mais distante, onde só o transporte consumiria boa parte de sua renda e muito do seu tempo. O Vale Impresso era o único lugar onde ela poderia ganhar razoavelmente bem, ficando perto de seu pai e, ainda de quebra, fazendo o que gostava. Era sua única chance.
            Com a cabeça quente, assim que saiu da Via Dutra, ela agarrou o celular e ligou para Malu.
— Alô — disse Maria Laura Rangel, sua melhor e inseparável amiga. 
            — Oi Malu, tudo bem?
            — Tudo, e você?
            — Eu estou uma pilha de nervos! – reclamou.
            — Por quê?
            — Porque estou atrasada para um compromisso importante. Vou conhecer o jornalista com quem irei trabalhar durante a passagem do Papa pela região e já estou causando uma péssima impressão. A Andréa vai me matar.
            — Calma, vai dar tudo certo. Você é ótima e ela sabe disso.
            — Sei – Ângela bufou. - Tão ótima que ela me emprestou para outro jornal que não tem nada a ver com o nosso. Toda a nossa equipe vai estar lá fazendo matérias, produzindo... enquanto eu fui emprestada. Com certeza isso é um mau sinal.
            - É nada – Malu retrucou. – Esta vai ser uma experiência única na sua carreira. Você irá trabalhar com quem entende do assunto e terá a chance de aprender com eles. Quem sabe até algumas portas não se abrem para você a partir deste evento?!
Ângela sorriu, porque Malu era uma boa amiga. Otimista incorrigível, ela sempre sabia o que dizer.
Malu era a filha caçula de seis irmãos. Ela era loira, tinha olhos cor de mel, lábios grossos e bem desenhados, e um corpo curvilíneo. Madura, era como uma irmã mais velha que estivera ao lado de Ângela nos piores momentos, como nas vezes em que seu pai enfartara, quando ele tivera um derrame, e na ocasião da morte de sua mãe.
Há pouco mais de dois anos ela havia conhecido Carlos Rangel, um jovem simples de boa família que era tão ou mais tímido que ela. O romance ficou só na troca de olhares por um tempo, até que ele criou coragem e a chamou para sair. Os dois haviam se casado em dezembro do ano anterior e ainda estavam no período de lua de mel, curtindo um ao outro e se adaptando à nova vida.
Ângela não tivera tanta sorte no amor. Bernardo, seu único namorado desde a adolescência, a deixara após a morte da sua mãe, diante dos problemas familiares que ela enfrentava. Diante de toda a correria que sua vida se tornara, no fim, achou melhor que aquele relacionamento não tivesse ido adiante, pois lhe sobrara mais tempo para cuidar do pai e se concentrar nos problemas que eles enfrentavam.
Depois de Bernardo Ângela não quis se arriscar a ter nada sério com mais ninguém. Já fazia tempo que não tinha nada, nem sério, nem não sério, com ninguém. Não tenho tempo para isso, dizia a si mesma quando pensava no assunto. Felizmente sua vida era tão corrida que sequer tinha tempo de sentir solidão. Tudo o que sentia era ansiedade e medo de não conseguir o trabalho de que precisava tanto.

***

Presa a uma cancela e esperando pela passagem de um enorme trem cargueiro, Ângela tentava não se desesperar pelos vinte minutos de atraso. Cada vagão que passava parecia caçoar dela com suas rodas pesadas rugindo em atrito com os trilhos.
— Por que essa porcaria de linha férrea tem que cortar a cidade bem no meio? — desabafou nervosa, ciente de que a culpa pelo atraso não era do trem.
O jornal ficava naquele mesmo quarteirão, em um prédio de dois andares nas imediações da Praça Conselheiro Rodrigues Alves, centro comercial de Guaratinguetá.
Andréa a aguardava e ao olhar novamente para o relógio de parede da sala de reuniões, respirou fundo.
Vinte e sete minutos de atraso!
O jornalista à sua frente estava impassível. Ele era jovem e dinâmico. Tinha olhos grandes e escuros, assim como o cabelo liso, cujo comprimento passava metade das orelhas. Chamava-se Marcos Andrade e, apesar de ter apenas vinte e seis anos, já trilhava uma carreira de sucesso em um importante canal de comunicação de São Paulo, o RSS News. Ele começara a carreira no jornal impresso do mesmo grupo e atualmente trabalhava para a TV fazendo reportagens especiais.
            O presidente e fundador do grupo RSS, Roberto Simão, havia sido chefe de Andrea por mais de dez anos e apoiado o projeto dela de montar o próprio jornal. Ele era um grande amigo e por isso, quando pediu o apoio dela para sua equipe de jornalistas — liderada por Marcos — ela concordou imediatamente, cedendo uma de suas estagiárias para ajudá-los com o que precisassem.
            Agora começava a se questionar se havia escolhido bem, visto que Ângela poderia estragar tudo.
            — Será que ela vem? – perguntou Marcos, ansioso por se recolher no hotel onde sua equipe ficaria hospedada.
            — Não se preocupe, colocarei alguém mais responsável para assessorá-lo — ela respondeu e pegou o telefone. Enquanto discava o número de outro funcionário, Ângela entrou na sala, literalmente correndo, atraindo os olhares para sua figura ofegante.
            — Chefe! — disse ela, deixando Marcos surpreso.
            Deve estar havendo algum engano, essa garota é jovem demais, pensou irritado. Ele não queria a assessoria de ninguém, na verdade não queria nem ter ido ao interior. Tinha acabado de voltar do Mato Grosso, onde havia passado a semana toda percorrendo estradas ruins para uma série de reportagens sobre a malha rodoviária do Brasil. Estava cansado, com o corpo dolorido e nem um pouco feliz de perder o fim de semana ali, naquele fim de mundo, cobrindo a visita de um Papa. Mas não era todo dia que um Papa visitava o Brasil, e Roberto havia lhe pedido pessoalmente que fizesse o trabalho, deixando-o sem opção.
            Enquanto ele pensava no assunto, Andréa recolocou o telefone no gancho e encarou a jovem com uma fúria controlada.
            — Chefe, me desculpe pelo atraso, mas eu tive um bom motivo — disse Ângela, remexendo nervosamente em sua bolsa. Rapidamente ela começou a tirar coisas e mais coisas e, por fim, despejou todo o conteúdo sobre a mesa, fazendo-os recuarem para não serem atingidos. Encontrou a filmadora em meio à bagunça e entregou-a à Andréa.
            — O que é isso?
            — Eu filmei a chegada do Papa – Ângela respondeu com entusiasmo. – Podemos tirar algumas imagens da filmagem, e eu vou fazer um texto sobre o momento e...
            — Eu vou ver o que tem aqui — interrompeu Andréa —, depois digo o que você deve ou não fazer. Você aguarda um minuto, por favor? — perguntou a Marcos. — Vou checar isto aqui e em seguida cuidarei do seu problema.
            — Sem problemas — ele respondeu com uma voz grave e masculina, e pela primeira vez Ângela olhou para ele. Andréa saiu e os deixou sozinhos.
            Ângela gostava de olhar as pessoas nos olhos, mas ao se deparar com os dele, grandes e intensos, sentiu—se intimidada e desviou os seus.
            — Me desculpe por isso — disse a ele, tentando iniciar uma conversa e desfazer a provável má impressão que havia lhe causado. — Você deve estar cansado e cheio de coisas para fazer. Não achei que me atrasaria, mas bloquearam o caminho de todo mundo para o Papa passar e...
            — Tudo bem — ele disse descontraído, começando a achar aquilo divertido. A garota era maluca e tinha energia demais para entediá-lo. — Sou Marcos Andrade — apresentou-se estendendo a mão.
            — Ângela Barros — respondeu ela apertando a mão dele.
            — Prazer Ângela.
            — O prazer é meu...

24 de junho de 2014

Conto "Confia em mim" está pronto"

O conto está finalizado e posso mostrar para vocês a capa e a
sinopse. Vocês vão conhecer Érique de uma nova maneira, e 
irá se surpreender com os acontecimento nesse conto.
O que poderá acontecer em 30 dias??!!

Aguardem!!!


23 de junho de 2014

Bienal Online com Cristiane Broca

1     Sejam bem vindos a nossa querida Bienal Online, e hoje você vai conferir de pertinho uma super entrevista com a querida autora Cristiane Broca. Poderia falar mais sobre ela aqui, mas vou deixar que você mesmo a conheça mais, através desta entrevista e de todas as demais que estarão ao ar nesta semana, nos blogs parceiros da Bienal Online.

      Com vocês, a autora do romance "Cinco anos": Cristiane Broca!


-.      Como nasceu a vontade de escrever?
Escrever foi uma coisa muito natural para mim. Sempre tive mais facilidade para expor meus sentimentos no papel, e cada vez que lia algo novo sentia vontade de criar meus próprios textos e histórias.

2.      Como foi o desenvolvimento da história?
Cinco Anos nasceu de um sonho que eu tive com um casal em duas situações diferentes. A princípio, não pensava em publicar a história e escrevia apenas por hobby, mas com o passar do tempo, conforme a história foi ganhando força, decidi que iria publicá-la e que me tornaria uma escritora profissional. Sinto no fundo do meu coração que eu nasci para isso.

3.      Como está a expectativa?
Está ótima. Cinco Anos foi tão bem recebido pelos leitores, que parei o outro livro que estava escrevendo para escrever a continuação dessa história. Minha expectativa é continuar ganhando cada vez mais leitores e entregar um segundo livro tão bom quando o primeiro para meus leitores.

4.      Como foi todo processo para a publicação?
Eu enviei o original para algumas editoras e recebi algumas propostas. Por fim, decidi publicar pelo selo literário Ases da Literatura, porque eu já fazia parte do grupodo Ases e porque assim eu teria o livro do jeito que eu sonhava, podendo participar de cada etapa do projeto.Após todo o processo de edição, o livro ficou pronto. Gostei muito do resultado e consegui publicá-lo com um bom valor de capa.

5.      Tem outros trabalhos, além desse? Se sim, quais?
Sim. Meu primeiro trabalho foi o conto Amor Antes do Fim, da antologia O Último Dia Antes do Fim do Mundo, que foi publicada pela editora Novo Século.  Também participei de uma antologia lançada pelo SKoob em formato digital, Não é só Por Vinte Contos. A antologia teve como tema as manifestações que ocorreram no país em Junho de 2013 e o título do meu conto é: A Nova Sofia.

6.      Em cinco palavras, defina o seu livro.
Cinco Anos de muita emoção.

7.      Escrever é...
Um dom maravilhoso.

8.      Deixe uma mensagem para quem está atrás de seus sonhos.
Tenha foco. Não espere ter sucesso sem trabalho. Trabalhe bastante, que o sucesso será o resultado. Procure se especializar e não pare diante das dificuldades. Ouça outras pessoas, mas absorva somente aquilo que te servir. São muitos os caminhos para se chegar ao sucesso. Escolha o seu e vá em frente.

Não esqueça do super bate-papo com a autora 

dia 27 de Junho - 20h no Facebook :D

Vamos conhecer a nossa programação da Bienal Online e os blogs parceiros?? 


Domingo
Apresentação do nosso autor(a) convidado pelo blog, TSA
Apresentação do Book Trailer e/ou quotes, pelo blog Girland Star

Segunda - feira
Entrevista: Conhecendo o autor, pelo O reino de Betra

Terça - feira
Entrevista: O autor e a literatura nacional, pelo blog Doce sonho Alado

Quarta - feira
Entrevista: Inspiração de um autor, pelo Blog O diário de leitor


Quinta-feira
Um super bate-bola, pelo blog Graci Rocha


Sexta-feira:
Apresentação do primeiro capítulo, pelo blog Eclética



 renata massa