31 de julho de 2013

Realização...



Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado.

Só a arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem.

A persistência realiza o impossível.

O progresso não é senão a realização das utopias.


30 de julho de 2013

Capítulo 20 - Decisões





Havia uma garotinha sentada sozinha numa cadeira afastada dos demais. Ela olhava fixamente para a chuva que caia lá fora, suas mãos estavam sobre os joelhos e ela apertava firmemente uma à outra, como se estivessem querendo obter uma força de algum lugar que não existia. Ela podia senti o frio congelante a envolvendo aos poucos e o silvar do vento de outono... a garotinha sentia-se sozinha. Mas, havia muitas pessoas a sua volta, muitas delas olhavam-na com um sentimento que ela não conhecia, até aquele momento, pelo menos, e sussurravam pensando que ela não estaria ouvindo. Mas ela os ouvia perfeitamente; todos faziam a mesma pergunta: “O que iria ser dela agora?”. Foi então que alguém surgiu entre as pessoas, alguém que ela nunca havia visto antes... e ele a olhava. Mas não da mesma maneira que os outros passaram a olhar nos últimos dias, era diferente... ele parecia feliz em vê-la, ele sorriu e se aproximou.
Vai ficar tudo bem agora, Melody. – ele falou segurando suas pequenas mãozinhas. Ela percebeu que ele falava de um jeito engraçado, mas não sorriu. Ela o encarou fixamente com seus olhos tristes. – Eu vou cuidar de você. − afirmou. − Você não está mais sozinha.
É Mel. – ela o corrigiu com a voz suave e fraca. – Ninguém consegue falar do mesmo jeito que a mamãe falava, era diferente... – ela esclareceu com naturalidade. – Você é o meu pai? Mamãe disse que você viria me buscar. Mas eu não quero ir embora daqui... eu preciso ficar. – sussurrou as últimas palavras como se estivesse contando um segredo.
Ele franziu o cenho, preocupado.
Sim, querida, eu sou o seu pai. – afirmou ficando em silêncio em seguida, a avaliando. A pequena Mel era esperta o bastante para saber que quando adultos agiam dessa forma, nunca significava boa coisa. E ela teve certeza quando ele falou após alguns minutos. – Mel... eu sinto muito pelo o que aconteceu com a sua mãe, querida. Eu sei que não está sendo fácil para você, que é só uma criança, lidar com a falta que ela faz à você... – respirou fundo, e prosseguiu com a voz extraordinariamente controlada. – Mas nós vamos ter que ir, eu moro em outro lugar... Você vai gostar de lá, tenho certeza... – Ele continuou falando com a voz mais calma que conseguia, algo em seus gestos metódicos diziam que ele também sofria, mas Mel só o observava e escutava. Não estava certo, ela não podia ir embora tinha que ficar... precisava permanecer exatamente ali.
Alguns minutos depois, a pequena Mel foi para o seu quarto e deitou na cama abraçando os joelhos, fechou os olhos como fizera nos últimos dias, mas nada acontecia, como sempre. Então, subitamente, decidiu ir para um lugar que estaria mais preto dela, ou pelo menos era o que pensava.

As cenas lhe vinham como flashes e estavam a perturbando diariamente, desde que ficou sabendo do falecimento da mãe de Dora. Constantemente, ela evitava pensar sobre coisas que pudessem despertar tais lembranças, mas, nos últimos dias as mesmas a visitavam sem pedir permissão.
Melody suspirou pesadamente encarando o vazio, tentando decidir o que fazer a seguir. As chances eram pequenas, afinal Dora já era uma adulta e não uma criança de oito anos, mas decidiu que iria procurá-la no lugar em que estava pensando mesmo assim. Foi até o sofá e pegou sua bolsa indo em direção à porta em seguida.
Mel?! – Rodrigo sobressaltou-se ao perceber que ela saíra do transe em que estava há algum tempo e que iria sair. – Onde você está indo?
Algumas horas haviam se passado, e ninguém conseguia encontrar Dora. Depois que Rodrigo e Caio foram até onde antes ela morava com a mãe e a irmã, fizeram algumas perguntas aos vizinhos, e não obtiveram nenhuma informação, ficaram sem saber o que fazer, pois não tinham ideia de onde ela poderia ter ido. “Por que ela fez isso?” Caio perguntava olhando de Mel para Rodrigo com um olhar de desespero, nos últimos dias ele fora uma espécie guardião para Dora, mas Mel sabia que não estava adiantando muito. E agora eles estavam aqui parados sem saber onde mais poderiam procurá-la. Decidiram que não deveriam ligar para Lia e deixá-la preocupada, talvez Dora só estivesse saído para caminhar um pouco. Mas ela estava demorando demais.
Preciso sair. – Mel continuou andando enquanto falava, e jogando todas as lembranças para longe. – Eu acho que sei onde ela pode estar.
Rodrigo a segurou pela mão fazendo-a parar e encará-lo.
Eu vou com você. – disse afirmativamente sem a mínima intenção de ser questionado.
Eu também. – Caio falou decidido, porém com uma aparência cansada.
Não! – Mel exclamou rapidamente, sua voz saiu mais severa do que ela pretendia. Respirou fundo buscando controle, ela sentia-se esgotada e tensa, essa situação toda estava mexendo muito com ela, mais do que qualquer um poderia imaginar. – Você fica Caio... – o fitou por um curto espaço de tempo. – Eu sei exatamente como a Dora deve está se sentindo nesse momento, e não vai adiantar nada se você vai estar por perto ou não, se não for o quê ela realmente quer. Acredite, não podemos obrigá-la a aceitar que a mãe dela morreu e que mesmo assim ela tem que seguir em frente porque é preciso. Ela não tem que ser racional, ela está sofrendo... – parou por um minuto tentando desfazer um nó na garganta. – A Dora precisa ficar um pouco sozinha e pensar no que vai fazer de agora em diante, é um direito dela. E eu sei disso porque... foi o mesmo que senti quando a minha mãe morreu... – revelou, Caio e Rodrigo entreolharam-se rapidamente sem saber o que dizer, Melody fechou os olhos e mordeu o lábio, prosseguiu. – Eu me senti sozinha e desamparada, e não servia de muita coisa o que as pessoas a minha volta diziam para mim. – disse por fim. Virou-se para Rodrigo e falou acompanhado de um sorriso fraco: – Acho que vou aceitar aquela carona, afinal. – Rodrigo piscou os olhos um pouco confuso, seus olhos ainda estavam fixos em Mel, como se estivesse a analisando e acabado de chegar a uma conclusão. Ainda segurando-a pela mão, eles saíram do apartamento a procura de Dora.
Tem certeza de que ela está aqui? – Rodrigo perguntou olhando para o portão de ferro após parar a moto. Mel ainda tentava se recuperar do susto de andar naquele mostro de duas rodas que ele insistia em chamar de meio de transporte. − Mel?
Não tenho certeza, é só um palpite. – entregou o capacete um pouco zonza e suspirou olhando na mesma direção que Rodrigo. Havia poucos dias que eles estiveram ali, e Mel não esperava voltar tão cedo. Voltou-se para Rodrigo e falou rapidamente. – Eu vou entrar, você pode ir.
Ele ignorou o seu pedido.
Não vou a lugar nenhum. – falou descendo da moto e se colocando ao seu lado. – Não posso deixá-la aqui sozinha, até porque o seu pé ainda está machucado.
Ela revirou os olhos, tentando parecer indiferente à sua preocupação e presença, mas era uma tarefa inútil.
Eu vou ficar bem, Rodrigo. – Mel lhe assegurou, tentando não olhar diretamente para os olhos dele. As coisas ainda estavam confusas na sua cabeça depois do que acontecera entre os dois, e não ajudava muito eles estarem passando os últimos dias mais próximos um do outro do que ela gostaria. Na verdade ela gostava, só não deveria. – Obrigada por me trazer... agora eu preciso conversar com ela.
Melody não esperou por mais uma recusa da parte dele e caminhou em direção ao portão do cemitério onde ela achava que Dora poderia estar. Caminhou lentamente, e suprimiu todas as imagens que ameaçavam vir à tona e tomar conta dos seus pensamentos. Talvez ela não fosse tão forte quanto imaginava. Os últimos dias foram torturantes e ela não fora uma boa amiga para Dora, não sabia muito bem o que dizer ou fazer já que, na realidade, não existia nada que pudesse falar para amenizar a dor que ela estava sentindo. Mas, por outro lado, deveria ter tentado um pouco mais. Até oferecera seu apartamento para a amiga, mas sabia que não era o bastante. Permaneceu ao lado dela em todos os momentos, mas também sabia que não era o suficiente... Então parou de tentar, apenas acordava e seguia o resto do dia sem ser de muita ajuda. As visitas de Rodrigo e Caio e até mesmo da pequena Carol pareciam fazer mais diferença do que a de Mel. Ela desconfiava que havia sido por isso que Dora resolveu sumir sem falar nada. Ela poderia ter dito coisas do tipo: Você sempre irá sentir que algo está faltando, e que esse espaço não pode ser preenchido de maneira alguma. E realmente não pode. É claro que você não vai ficar bem por um tempo... Mas do que tudo isso adiantaria? Palavras, algumas vezes, são bastante eficazes, mas não para um momento como esse. Para uma situação como essa, elas não têm significado algum.
Melody respirou aliviada quando notou a presença de Dora alguns metros a sua frente, foi em sua direção e parou ao lado dela, que estava sentada num banco de madeira rodeado por folhas secas.
Posso? – Mel indagou e aguardou a resposta de Dora, mas ela permanecia parada. O vento balançava algumas mechas do seu cabelo, deixando-a com uma aparência serena, como se ela estivesse ali apenas para aproveitar alguns momentos de paz. – Eu sabia que encontraria você aqui. – disse sentando-se ao lado dela e fitando o céu azul, que aos poucos ia adotando uma cor mais escura no horizonte.
As duas permaneceram em silêncio por um longo tempo.
Não é estranho como tudo na vida pode mudar em questão de minutos? – Dora perguntou atraindo a atenção de Melody. – Olha só aquelas nuvens lá em cima... – suspirou. – Há alguns minutos atrás elas estavam perfeitas, sem nenhuma indicação de que alguma chuva estaria por perto... Mas agora elas estão diferentes. Elas mudaram porque era necessário, não porque queriam. – assinalou, deixando Melody preocupada.
Muitas mudanças são indispensáveis, Dora. Faz parte da nossa história. – Mel falou, agora olhando diretamente para a amiga. − Em alguns momentos da vida somos obrigados a aprender a transformar algo doloroso em aprendizado... em evolução. É um processo. – sentiu um aperto no peito, respirou fundo. – O único problema é que não existe um manual para isso... Algumas pessoas lidam com a perda de alguém importante de uma maneira, enquanto outras lidam de outra completamente diferente. – e algumas pessoas somente preferem fugir... como eu, Mel pensou com tristeza. – Depende de cada um, e nesse caso, depende somente de você. O que importa é como você vai lidar com a sua. Talvez, um dia você acorde e simplesmente descubra que a dor ainda existe, só está um pouco menor.
Dora encarou Mel por alguns instantes.
Mas isso não é justo! Eu me sinto tão... – fechou os olhos por um momento. − Eu não sei... sufocada... irritada.
Você tem razão, não é justo. Mas... eu não tenho certeza do que devo dizer na verdade, sabe. – afirmou vendo as folhas das árvores sendo agitadas pelo vento. – A única coisa que eu posso afirmar é que você é forte Dora, eu sei que é.
Não sei se consigo. Eu tenho medo, e não sou tão forte como você imagina. – retrucou. – Eu não gosto de toda essa atenção... não quero que as pessoas tenham pena de mim. Eu sou assim sabe, prefiro sofrer em silêncio, sem ninguém por perto.
Então resolveu sumir sem deixar sequer um bilhete, ou algum indicio de onde poderia estar? Decidiu fugir e deixar os seus amigos preocupados e sem notícias suas? Simplesmente resolveu esquecer que não está sozinha? Tem razão, eu devo ter me enganado, essas não são atitudes de alguém forte, não é? – Mel falou tudo de única vez, sabia que estava sendo um pouco dura.
Mel...
Eu sou sua amiga, Dora. Posso não ser a pessoa mais fácil de conviver em todo o mundo... mas sempre estarei aqui quando você precisar de mim... – declarou com um sorriso sincero, porém, no segundo seguinte algo chamou sua atenção, quando olhou para o lado direito viu duas pessoas conhecidas. – Assim como aqueles dois bobões ali. – ergueu o queixo na direção de Caio e Rodrigo, lançando um olhar acusatório para ambos. Rodrigo deu de ombros, e Caio nem mesmo pareceu notá-la, seus olhos e cuidados estavam direcionados à Dora. – Desculpe, acho que eles me seguiram. Na verdade o Rodrigo deve ter contado ao Caio onde nós estávamos, ele me trouxe até aqui.
Você andou de moto? – Dora perguntou sabendo da aversão de Melody pelo veiculo.
Pois é. Para você ver o quanto me preocupo com você. – sorriu um pouco. –Não tive outra opção se não andar naquela coisa. – soou um pouco dramática.
Dora sorriu.
Ah, Mel. Você é a melhor amiga do mundo! – disse a abraçando, Mel a abraçou de volta. – Me desculpe por ter saído daquela maneira, eu não estava fugindo... eu só...
Precisava refletir um pouco.
Ela teria gostado de você, a minha mãe. – Dora inspirou lentamente contraindo os lábios. – Não acredito que ela não está mais aqui... é assustador. É como se uma parte minha tivesse sido arrancada, como se tivesse deixado de existir. – disse ela, enquanto algumas lágrimas caiam pela sua face. – Eu vi até aqui porque sentia que não tinha me despedido como devia, foi tão rápido... E dói tanto.
Como uma ferida na alma. – Melody refletiu.
As duas permaneceram abraçadas por mais alguns minutos, aproveitando o silêncio. E alguns metros dali, Rodrigo e Caio continuavam as aguardando.
Como sabia onde me encontrar? – Dora perguntou a Melody, enxugando algumas lágrimas com as costas da mão.
Melody temia essa pergunta.
Ah... Bem... – parou por um instante recolhendo todo o oxigênio que podia antes de prosseguir. – Quando a minha mãe morreu eu não sabia o que fazer, éramos somente eu e ela, sempre juntas. Uma vez ela me disse que quando não estivesse mais comigo e eu sentisse muito a sua falta, eu deveria fechar os olhos e imaginá-la na minha frente... cantando para mim dormir. – Mel manteve os olhos fixos no nada, enquanto podia sentir o peso do olhar de Dora sobre ela. – Mas, depois que ela faleceu eu percebi que não daria certo... toda a vez que eu fazia isso, o contrário acontecia... o rosto dela ficava desfocado e eu não conseguia ouvir a voz dela, só o silêncio. Lembro que fiquei desesperada, com medo de não poder mais lembrar o rosto dela, ou esquecê-la completamente. Então passei a dormir todas as noites com uma foto dela junto ao peito... – parou para respirar novamente. – Um pouco antes de ir morar na Itália com o meu pai eu tive medo mais uma vez... dessa vez tive medo de que se ela aparecesse para cantar para mim poderia não saber onde me encontra... Foi aí que eu fugi. Todos ficaram preocupados sem saber onde eu poderia estar, me acharam algumas horas depois... eu tinha ido até o cemitério onde eu pensava que ela estava... eu precisava contar onde eu estaria caso ela não soubesse. Eu tinha só oito anos na época, então acreditava em coisas diferentes. – esclareceu com um sorriso fraco. Foi inevitável que algumas lágrimas caíssem, ela as limpou rapidamente.
Eu não sabia... Mel... – Dora não sabia o que dizer após a revelação da amiga, apenas a olhou com admiração. – Mel, você é incrível... esses dias devem ter sido tão difíceis para você... e você preferiu tentar me ajudar. – ela a abraçou mais uma vez.
Sinto muito. Era eu quem deveria estar te dando força, não o contrário. – Mel recompõe-se rapidamente.
Bem, acho que ambas podemos fazer isso. – Dora sugeriu sorrindo. – Agora é melhor irmos embora, daqui a pouco vai começar a chover.
As duas seguiram em silêncio por alguns minutos, até Dora falar.
Obrigada por vir atrás de mim. Sinto muito por deixá-la preocupada.
Mel sorriu.
Eu te perdoo. Mas acho que você deve mais dois pedidos de desculpas. – disse indicando os dois rapazes que pareciam um tanto impacientes.
O Caio parece... cansado. – Dora afirmou.
Eu liguei para ele quando você sumiu. Agora, tenho certeza de que ele está aliviado por te ver. Nossa, ele estava insuportável, quase pensei em atirá-lo pela janela. Por favor, nunca mais desapareça. Combinado? – indagou erguendo uma sobrancelha.
Pode deixar.
Ótimo! Vamos antes que essa chuva nos alcance. – disse. – Ainda temos uma mudança para organizar. – Melody ressaltou.
Humm... Sabe Mel, não quero ser chata nem mal agradecida, mas é que o seu apartamento é um pouco pequeno para nós duas e nossas coisas.
É, percebi. Mas, sem stress, já pensei em tudo. – garantiu, fazendo Dora franzi o cenho em dúvida. – Vamos nos mudar, nós duas.

• • • •

Quando Mel dissera a Dora que elas estavam de mudança falara sério. Não precisaram sair do prédio, pois havia um apartamento vazio no mesmo prédio, e para a surpresa das duas, no mesmo andar. O único problema havia sido a localização do apartamento. Mais especificamente os seus novos e inesperados vizinhos.
Tem certeza de que esse é o único apartamento disponível? – Mel perguntou pela quinta vez, achando que o destino, ou o quê quer que fosse, só podia estar de brincadeira com ela.
Sim, pela última vez, esse é o único apartamento disponível no prédio, como também em todo o condomínio. – o síndico respondeu com um pouco de impaciência.
Tudo bem. – se deu por vencida, olhou para Dora que concordou rapidamente. – Nós vamos ficar com o apartamento.
Ótimo! Vou preparar os documentos.
Que mal-humorado. – Melody reclamou assim que o síndico saiu do apartamento, que era visivelmente mais espaçoso que o último.
Coitado. Você quase o fez pedir demissão. – Dora comentou sorrindo e indo até a janela. – Não consigo entender o motivo de tanto desagrado em se mudar para cá. Tem bastante espaço, e eu gostei da vista.
Eu também gostei. – Mel concordou. – E não é desagrado, eu me preocupo é com as pessoas que moram logo ao lado. – afirmou fazendo uma careta.
Ainda assim, não consigo entender.
Melody fechou os olhos por um momento e suspirou ao ouvir o som de passos.
Espere só mais alguns segundos e você entenderá. – falou apenas.
Olá vizinhas, querem ajuda? – Caio perguntou entrando no apartamento sem ser devidamente convidado.
É claro que elas querem. – Rodrigo afirmou entrando logo em seguida.
As duas garotas trocaram um rápido olhar cúmplice.
Acho que vamos ter que manter a porta bem fechada. – Dora falou com um pouco de humor. Depois da conversa que tiveram, ela parecia melhor, é claro que Mel sabia que era apenas um tipo de fachada, mas esse era o jeito dela de lidar com as coisas, concluiu.
Concordo plenamente. – Melody sorriu fitando os rapazes que não entenderam o diálogo das duas.
Graças aos seus vizinhos bastante prestativos, a mudança ocorreu tranquilamente e mais rápido do que elas imaginavam. Já que eles queriam ajudar, elas não se opuseram em aceitar e usar a disposição e músculos dos dois. Mesmo porque, não tinham outra opção já que, mesmo Dora estando aparentemente bem, Caio se recusava a sair de perto dela. Por outro lado, Mel e Rodrigo não estavam agindo naturalmente um com o outro. Dora percebeu o modo estranho que ambos vinham agindo, e quando teve a oportunidade questionou a amiga. Mel não sabia como contar o que acontecera, mas quando percebeu já havia falado sobre o beijo, deixando Dora levemente surpresa.
Foi algo... momentâneo. – Mel explicou rapidamente percebendo o sorrisinho cheio de significados de Dora. Colocou duas xácaras de chocolate quente sobre a mesa e prosseguiu. – Não significa que exista algum sentimento profundo entre nós dois. Como também não significa que precisamos sequer falar sobre isso. Foi só um beijo... nada mais. – declarou. Mas toda a vez que parava para pensar no que acontecera, seu coração acelerava descontroladamente, também não ajudava muito quando ele se aproximava mesmo que sem segundas intensões.
No entanto, ele não deveria tê-la beijado daquela forma repentina. Em um momento eles estavam conversando como bons amigos e ela conta algo que, certamente nunca revelaria a alguém. E no momento seguinte ele decide beijá-la? Talvez tenha sido pela surpresa ou confusão do momento que a fez reagir da forma que reagiu quando eles se separaram.
Desculpe-me. – Rodrigo havia dito tão confuso pelo o que acontecera quanto Melody, que o encarava atordoada. – Mel? – ele chamara quando viu que ela se afastava – o máximo que o seu pé machucado permitia –, para longe dele em direção ao seu apartamento. – Mel, espera!
Ela parou para olhá-lo novamente.
Vá embora Rodrigo, por favor! – pediu numa voz fraca.
Eu... eu sinto muito, não deveria ter feito isso. – explicou-se, mas algo em seus olhos não demostrava nenhum arrependimento pelo ocorrido. Tudo o que Melody queria era continuar o seu caminho em direção ao apartamento sem lhe dar ouvidos, e esquecer o que acabara de acontecer, no entanto ela permanecia parada o encarando enquanto um turbilhão de sentimentos batalhavam dentro dela. – Mel? Por favor, fala alguma coisa.
Ela piscou os olhos rapidamente voltando à realidade.
Esquece isso. – aconselhou sem olhá-lo nos olhos, tinha medo de que se o fizesse cometesse um erro. – Vá embora, por favor, eu preciso ficar sozinha. – deu as costas a Rodrigo e seguiu para casa, parando apenas um momento para lhe dizer algo. – O que acabou de acontecer... não pode se repetir. – sua voz saiu estranha, e sentiu que o mundo oscilava a sua volta.
Tudo bem. Eu realmente não... – Rodrigo estava um pouco deprimido e confuso, mas entendia o porquê do modo de Mel agir daquela forma. Ela havia acabado de confessar que já sofrera por amor, beijá-la não foi só um grande erro, mas também uma enorme precipitação que talvez não conseguisse concertar, ele podia ver nos olhos dela o quanto a magoara. – Me desculpe.
Melody entrou no seu apartamento trancando a porta atrás de si, como se de alguma forma isso pudesse a proteger do que estava sentindo. Sentou no chão e encostou a cabeça na porta, sussurrando: Não foi nada. As pessoas se beijam o tempo todo, é normal. É, isso foi só um beijo sem importância... você vai sobreviver. Mas em seu íntimo uma voz dizia que já era tarde demais, ela não tinha escolha do que poderia ou não sentir. Quanta dor um coração é capaz de suportar?, perguntou mentalmente a si mesma. Ela não queria encontrar um novo... amor, mas acima de tudo lutava para não voltar a sentir a dor que sentiu a tão pouco tempo. Decidiu que deveria evitá-lo, não pretendia encontrá-lo tão cedo, então recebeu uma mensagem de Caio avisando o que havia acontecido com a mãe de Dora, e a partir daí acabavam ficando sempre no mesmo local.
Não estou tão certa assim. – Dora falou arrancando Melody dos seus pensamentos, após tomar um pouco do chocolate quente. – Principalmente depois de tudo o que você me contou... os acontecimentos que sempre os colocavam no mesmo lugar. Você não acha que talvez... sei lá, hum... você devam ficar juntos?
Não! – exclamou sentindo que fora uma péssima ideia ter contado tudo a Dora. – Isso seria impossível, Dora... temos histórias diferentes e passamos por coisas um pouco... parecidas. Ser traído não é algo com que se possa conviver sem que criemos uma defesa natural para qualquer tipo de sentimento. – declarou com firmeza. – Ele foi traído pelo próprio irmão e a mulher que ele amava... e eu... eu confiei na pessoa errada, e hoje não consigo confiar totalmente em alguém. Assim como tenho certeza de que ele também não. Além disso, foi a surpresa inesperada do reencontrar aqueles dois que fez com que ele.. me beijasse.
Eu realmente não penso assim. – Dora falou com os olhos fixos em Mel. – Tem certeza de que não confia no Rodrigo?... Não sei não Mel, você fala dele com tanta... ternura. – Mel tentou não rir, pois Dora parecia querer bancar o cupido inconveniente.
Dora... – Melody fechou os olhos e respirou profundamente.
Não custa nada falar.
Eu não tenho certeza, acho que sim, mas sei que não deveria. – respondeu surpreendendo-se. – Eu gosto de saber que ele se preocupa comigo... mesmo algumas vezes exagerando um pouco. Acho que isso é um pouco como confiar, não sei. – balançou a cabeça em dúvida.
Mas depois do acidente você ficou tão zangada com ele. Por quê? – sondou.
Por quê? Não tenho certeza se fiquei zangada com ele. Eu fiquei... irritada, com raiva, de mim por ser tão... insensata em mentir para mim mesma dizendo que sou forte. E a culpa é toda dele... me sinto frágil quando ele está por perto, mas não de um jeito ruim... me sinto protegida. Isso me apavora. – afirmou encarando a xícara a sua frente, sentindo-se completamente incoerente.
Humm... E quando ele te beijou, o que você sentiu?
Melody sorriu para Dora, sentindo-se em uma visita ao analista.
Ah, será que podemos parar por aqui? – sugeriu tentando se desviar da pergunta.
Não estou perguntando por mim, é por você. – ressaltou. – Mel, você deveria entender o que está acontecendo aqui.
Como assim?
Você se sente segura quando o Rodrigo está por perto. Você gosta de saber que ele se preocupa e quer proteger você. Além do quê, também tem o fato de sentir algo por ele diferente de tudo o que já sentiu por alguém. – ergueu uma sobrancelha e pôs o indicador sobre o queixo. – Hum... vamos analisar tudo isso. – após um minuto cruzou os braços em cima da mesa e falou. – Agora me diga, o que você acha que está acontecendo?
Não é preciso ser nenhum gênio para saber que eu gosto dele. – Melody confessou nervosa.
Não! – Dora falou negativamente agitando a cabeça. – Existe uma diferença. Gostar não é bem a palavra certa para definir o quê eu sei que você está sentindo pelo Rodrigo.
Talvez eu saiba a palavra certa, Dora. Eu só não quero pronunciá-la ou pensar nela, assim, de certa forma, eu possa fingir que nada está acontecendo dentro de mim e fazer com que esse sentimento desapareça. – Melody falou em sua defesa.
Boa sorte com isso. – a amiga ironizou, e Mel apenas revirou os olhos ignorando seu comentário. – Mas, acho que vocês deveriam conversar. – aconselhou.
Dora tinha razão. Ela e Rodrigo deveriam conversar, assim como deveriam esquecer o que havia acontecido entre os dois. Mas como poderia fazer isso se não conseguia estar no mesmo ambiente que ele sem ter vontade de sair correndo? Será que deveria procurá-lo e sugerir que deveriam agir como se tudo estivesse bem, e seguirem naturalmente como simples amigos? Ou talvez fosse melhor apenas ignorar como vinha fazendo? Ela não sabia a resposta para nenhuma dessas perguntas, pois sentia que nenhuma das opções eram válidas. Estava cada vez mais impossível esquecer algo que mexera tanto com ela. Aquele beijo tinha mais significados do que ela pôde concluir no momento, ele funcionou como um selamento, uma afirmação de quê o que nascia dentro dela era verdadeiro, existia e ela não tinha outra alternativa a não ser lidar com ele. E esse era o xis da questão, ela não queria lidar com nada daquilo, preferia de bom grado lutar contar do que a favor de um sentimento que parecia se expandir dentro si.
Tentando encontrar uma solução, chegou à conclusão de que só existia uma saída: eles tinham que manterem-se afastados, seguir cada um o seu caminho e romper de vez qualquer laço que estivesse querendo ligá-los.
Foi pretendendo fazer isso que ela parou em frente à porta do apartamento dele e, respirando fundo após contar mentalmente até dez, bateu na porta.
Ele abriu a porta quase que imediatamente. Sem dar chances de retorno do que pretendia, ela falou rapidamente.
Rodrigo, eu preciso falar sob... – deteve-se ao perceber que ele não estava sozinho. É claro, ela esquecera que agora ele dividia o apartamento com outra pessoa, que estava encarando Melody com um vinco na testa. – Hum... Oi Caio.
Er... Oi. – ele respondeu desconfiado, vendo que Mel e Rodrigo permaneciam em silêncio, que estava começando a ficar um pouco desconfortável, falou: − Vocês querem que eu saia?
Não! – exclamou com rapidez exagerada. – Quer dizer, você pode ficar Caio. Eu só... bem, eu só queria dizer... – inspirou calmamente e decidiu mudar de direção. – Eu vim me desculpar por ter agido daquela forma com você depois... do acidente. Aconteceu tanta coisa depois daquilo e, bem, você só estava tentando me ajudar, aliás peço desculpas à você também Caio. – falou se dirigindo ao amigo, que ainda não estava entendendo nada. – Eu não sou tão... impulsiva ou... mimada quanto fiz parecer, só não gosto quando tentam me dizer o que fazer. Acreditem, o meu pai tenta fazer isso o tempo todo e não se sai muito bem. – riu sem humor. – Sinto muito por todo o transtorno que causei, prometo me manter em segurança de agora em diante... – respirou fundo e prosseguiu. – Desde tudo o que aconteceu também não tive a chance de agradecer... Bem, obrigada por me salvar de algo bem pior. Eu também gostaria... – mordeu o lábio e mudou mais uma vez o rumo da conversa que pretendia ter com ele. − do meu iPod de volta.
Rodrigo nada disse, apenas a encarava como se entendesse definitivamente o que ela estava querendo dizer. Dando uma última olhada em sua direção saiu deixando Mel e Caio a sós, e este ainda parecia querer encontrar uma explicação para o comportamento dos dois.
Algum problema? – Mel indagou sem interesse percebendo o olhar fixo dele sobre ela.
Não sei, isso sou eu quem deve perguntar. – disse cruzando os braços e franzindo a testa, indagou. – Aconteceu alguma coisa que eu não esteja sabendo?
Não. Está tudo ótimo! – garantiu com entusiasmo demasiado.
Um minuto depois Rodrigo apareceu.
Aqui está. – entregou o iPod de Melody, sua voz parecia um pouco diferente. – Eu... acabei apagando algumas músicas... só por precaução.
Certo. Não vou precisar de nenhuma delas. – Mel afirmou. – Eu tenho que ir... er... – lançou um último olhar em sua direção, como se fosse o último em toda a sua vida. Sorriu fracamente para Caio, que ficou ainda mais intrigado. – Tchau!

• • • •

Os dias seguintes passaram-se com rapidez. Por algum motivo a chuva recusava-se a abandonar a cidade. Ela continuou branda, tranquila, e acompanhou o final de semana. E tudo aos poucos fora se normalizando. Dora e Mel finalmente conseguiram chegar a um meio termo em relação a organização da casa. Enquanto Mel era metódica e organizava cada detalhe com perfeição, Dora tinha um modo diferente e completamente próprio para manter sua coisas adequadamente arrumadas.
Dora voltou ao trabalho na segunda seguinte, mesmo com a mãe de Carol dizendo que ela poderia demorar mais um pouco se quisesse, mas Dora não aceitou, Mel a compreendia. Melody também voltou ao trabalho, mesmo não tendo certeza de que ainda teria um. Primeiro fora o pé machucado, depois o fato de Dora estar precisando dela, e em seguida a mudança de apartamento. Mesmo sabendo que não precisava necessariamente do emprego, ela gostava de tê-lo. E estava morrendo de saudades de Bia, que por algum motivo não quis ajudá-la na mudança e nem apareceu para visitá-la. Mel achou estranho.
Quando chegou ao café descobriu que o emprego ainda lhe pertencia, como também concluiu que havia alguma coisa de errada acontecendo com sua amiga. Tentou em alguns momentos questioná-la sobre o que poderia estar havendo, mas Bia dizia que estava tudo bem. Mel sabia que não era verdade.
O Rafael acabou de ligar. Ele quer que você vá até lá. – Bia falou numa voz monótona.
Humm... Ele disse o que queria? – indagou.
Não. – Bia respondeu com indiferença enquanto folheava uma de suas revistas habituais. – Talvez só sua companhia, como todos os outros. – murmurou.
Melody tinha uma pequena noção do que deixando Bianca chateada, mas achou melhor falar com ela depois e com calma, precisava da espontaneidade dela de volta. Foi até a luteria de Rafael, onde o encontrou ao lado de Caio, ambos conversavam distraidamente sobre alguma coisa. Caio sorriu para ela e Rafael a chamou até o balcão onde lhe mostrou um pequeno instrumento, que fez os olhos da garota brilharem.
É um Stradivarius? – perguntou com uma admiração explicita.
É sim. – Rafael respondeu sorrindo e lançando um rápido olhar na direção do seu ajudante. – Mas, como você sabe?
Mmmm... – parou um instante. – Bem, tecnicamente, pela aparência. – respondeu com naturalidade. – O verniz está um pouco envelhecido, mas, mesmo assim, faz com que a cor seja diferente dos outros, única... especial. – desviou os olhos daquele que sempre fora o seu instrumento favorito – por vários motivos –, e voltou-se para o luthier. – Além de outros detalhes, mas o senhor sabe melhor do que eu. – deu de ombros um pouco sem graça.
Devo admitir que estou impressionado. Como alguém tão jovem como você pode possuir tamanha sensibilidade e conhecimento sobre esse assunto? É admirável.
Eu tenho um violino, um Stradivarius na verdade. – declarou tímida. – Minha avó me deu de presente de aniversário quando completei quinze anos. Eles são incríveis, não é? O som é... surreal.
Tem razão. Há varias teorias quanto ao segredo da sonoridade, desde o verniz utilizado, que muitos acreditam conter cinzas vulcânicas, até o uso de madeiras de navios naufragados. – Rafael relatou a Caio, e este ouviu atentamente como se estivesse em uma aula de história instrumental.
Eu não sabia. E qual é a verdadeira? – Caio perguntou com interesse.
São meras especulações garoto. Em minha opinião, o segredo estar no talento. – disse olhando para Melody.
E na magia da música. – ela falou sorrindo.
Sabe querida, às vezes eu tenho a nítida impressão de que já te conheço de algum outro lugar. Mas, não consigo me lembrar de onde, exatamente. – Rafael disse a analisando brevemente com os olhos estreitos.
Sério? Talvez seja só impressão mesmo. – Mel tentou disfarçar o nervosismo repentino. Quais as chances de alguém saber quem ela era de verdade? Quem era sua família e quem fora a sua mãe?
É. Talvez. – ele concordou, mas algo em seu semblante dizia que ele não estava tão convencido assim.
Ah, então, o que o senhor deseja de mim? – perguntou mudando de assunto.
Isto! – Rafael disse indicando o violino à sua frente.
Não entendi.
O meu mais novo ajudante é muito talentoso, no entanto, infelizmente, violino é um dos poucos instrumentos de corda que ele não tem prática em tocar. – revelou.
E nem me atreveria, principalmente agora depois de presenciar a cena de admiração do “Santo Instrumento”. – Caio falou fazendo aspas no ar e com um sorriso brincalhão nos lábios. Demorou alguns segundos até Melody entender o que Rafael queria que ela fizesse. Seu coração acelerou.
Você quer que eu...
Toque para mim. – ele completou afirmativamente com um sorriso gentil. Mel sentiu como seu estômago estivesse cheio de borboletas. Talvez ele soubesse exatamente quem ela era, não podia ser coincidência ele pedir para ela tocar especificamente um violino. Rafael prosseguiu. – Veja bem, eu preciso saber se está tudo bem com ele depois da pequena restauração pela qual passou. Só confio em você para realizar essa tarefa. E nem tente se opor, por favor!
Er... Tudo bem, depois dessa intimação não tem como dizer não. – falou segurando o objeto com cuidado. – Algum pedido especial? – perguntou engolindo o nervosismo.
O que você quiser. – sorriu encorajando-a.
Melody respirou profundamente. Certo, você faz isso há anos. Você consegue, é só se concentrar, disse a si mesma. Fechou os olhos, e começou a deslizar o arco como sempre fizera, com doçura e maestria. Aos poucos o som foi se formando, sendo lapidado como um raro e perfeito diamante. O timbre envolvente das notas tocadas, com suavidade e emoção, envolveram rapidamente o espaço a sua volta. E Melody sentiu-se como se estivesse em uma espécie de paraíso particular, onde só existiam ela e a melodia da sua canção favorita.
Reabriu os olhos e desejou que não o tivesse feito. Não sabia em que momento ele havia entrado na luteria e se deparado com Melody tocando. Mas Rodrigo estava lá, seus olhos presos na imagem da garota a sua frente, como se estivesse contemplando um anjo, e seu sorriso a deixou tranquila. Ela sorriu na direção dele, enquanto prosseguia com a música, que ela intitulara de “Primavera de Lírios” a sua primeira composição que falava de coisas simples como o reaparecimento das flores depois que o inverno fora embora.
As flores significavam algo em que, antes, ela acreditava com afinco, elas eram como uma enchente de sentimentos que lutavam querendo de volta o seu espaço e ignorando a paisagem abatida a sua volta. Porque elas poderiam mudar, tinham o poder de dar cor e brilho à estação que era somete delas. E olhando para o rapaz que não desviara os olhos dos dela em nenhum momento, Melody concluiu que estava pronta para acreditar novamente, afinal ele não parecia o tipo de pessoa que a faria sofrer, ele era diferente... especial.
Uau! Isso foi incrível! – Caio disse fazendo Melody se sobressaltar, ela estava tão imersa em pensamentos que não percebera que havia acabado de tocar a canção.
Uma eximia violinista, sem dúvida! – Rafael disse, ela sorriu um pouco tímida.
Você... – Rodrigo ainda continuava olhando-a, seus olhos brilhavam demostrando algo... admiração? Então percebendo que todos o encaravam, recompôs-se rapidamente sem conseguir formular o que poderia dizer. – Você toca muito bem!
Esplendidamente bem, eu diria. – uma outra voz surgiu às suas costas. Melody abriu um sorriu radiante ao reconhecer aquela voz doce e musical. O sotaque era inconfundível e familiar demais para esquecer, afinal convivera boa parte da sua vida a ouvindo diariamente. Virou-se na direção de onde a voz surgira, seus olhos pararam em um rapaz alto, de ombros largos, cabelo loiro-dourado levemente ondulado, olhos de um azul claro, quase cinza. Era uma aparência que chamaria a atenção de qualquer garota, fazendo suas pernas tremerem e o pulso acelerar... Mas Melody estava enfeitiçada por aquele sorriso intenso característico que fazia com que qualquer coisa ruim fosse expulso para longe dela, ele era o seu anjo protetor.
Devolveu rapidamente o violino para o seu lugar, e correu na direção do rapaz que não desviara nem mesmo por um segundo seus olhos dos dela.
Juliano! – ela exclamou sorrindo e atirando os braços ao redor do pescoço do irmão que a envolveu em seus braços no mesmo instante.
Mel! – Juliano falou o seu nome com sonoridade, que para Melody era a melhor canção de todas.

26 de julho de 2013

Resenha - Amor és real



Sinopse - Amor, és real - Se o amor chegar , saberá que não é mais uma armadilha ? - Daniele Nhasser

Mariana, uma jovem do interior de Minas, já sofreu muito por amor e atualmente mantém a ideia fixa na cabeça de que esse sentimento não passa de invenção das pessoas para criar filmes e vender muitos livros. Rodrigo, um paulistano, chega na cidade de Formiga e se apaixona logo de cara pela linda garota, mas vai perceber que para ter a mulher amada não bastará galanteios, presentes e buques, para derreter e conquistar a confiança da amada passará um dobrado. Resistente ao amor, Mariana custa a aceitar o sentimento que brota em seu coração. E o que Rodrigo terá de fazer para conquistar de vez a moça. Quem ler, Amor, És Real, saberá? 

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A história

Mariana é uma moça que sofreu desde cedo com os homens e isso deixou-a transtornada e com receio deles. Até que decidiu evitar cair na lábia de algum homem que tenta-se conquista-la.
E isso aconteceu até que ela se esbarra com um "anjo" e desde então de todas as formas tenta o ignorar, sendo rude e chata. Encontros e desencontros acontecem, e por mais que tente ignorar de todas as formas pensar naqueles olhos azuis e pronunciar o seu nome, uma força maior a domina experimentando pela primeira vez algo que nunca havia sentido.

Ele tenta de todas as formas conquista-la, então acontecem encontros, mas nada de acontecer um beijo. O que é estranho, mas ao mesmo tempo ela fica feliz, pelos menos poderia ficar mais tempo com ele enquanto ainda não se beijassem, pois pensava que assim que isso acontecesse ele a abandonaria.

Quando tudo finalmente está se ajeitando e o primeiro beijo acontece, ela começa a acreditar que talvez nem todos os homens são ruins. E quando tudo parece estar indo bem, seu ex-namorado começa a assombra-la de uma forma doentia.

Marina não sabe o que fazer. Seu amor está com o pai doente e essa notícia apenas poderá complicar as coisas. O que será que vai acontecer com Marina?!

O que achei

A leitura é tranquila e em primeiro pessoa, demonstrando fortemente o trauma de Mariana e sua baixa estima. Realmente tem pavor dos homens e se acha diferente das amigas gatas que ela tem.
Conforme fui lendo, em dado momento a própria personagem chega a dizer que está ficando chato ela falar tanto da falta de caráter dos homens e que o amor não existe. Achei interessante.
A história vai crescendo, conhecemos alguns dos namorinhos que teve e que a deixou ainda mais desacreditada no amor. Entretanto, ela se tromba com o seu homem anjo e seus sentimentos despertam.

A autora nos faz sentir a própria dor da personagem e o quanto ela precisa melhorar, pois não acreditando no amor acaba de alguma forma afastando as pessoas do seu lado.
Personagens únicos e aos poucos tudo vai se encaixando na vida deles, principalmente em sua vida.

Mariana é uma personagem única, com seus medos, seu temperamento e que começa a aprender que o amor existe, o amor és real.

Um romance lindo, verdadeiro e inspirador.
Uma leitura gostosa. Vale a pena ler, é uma linda história.

 renata massa