7 de julho de 2015

Uma história em quatro mãos - Capítulo 41 – A tempestade antes da paz - Denise Beliato


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Afastando-se da mãe de Rodrigo e de seus amigos, Dora foi para um canto onde pudesse pensar e não percebeu quando Caio se aproximou, pois não havia notado que ele correrá atrás dela assim que se ausentou. Reparando na presença do jovem ela sentiu-se constrangida por ser encontrada chorando. Tudo aquilo estava revirando a cabeça dela, fazendo com que lembra-se de fatos e detalhes dolorosos que ela preferia esquecer. 
Acanhada tampou seu rosto com as mãos na intenção de enxugar as ultimas lágrimas e esconde-lo para que Caio não visse seu estado. Suspirou fundo tentando controlar-se.
-Ei, tá tudo bem. – Advertiu o rapaz com a voz carinhosa. – Pode chorar o quanto quiser. Não precisa ter vergonha.
Ela virou-se para ele analisando seu olhar preocupado.
-Já acabei. – Disse se recompondo.
-Que bom. Pois, agora é hora do abraçoooo. – Com um sorriso no rosto ele abriu os braços para ela. 
-Nem vem. – Rindo da cara dele ela balançou a cabeça negando. 
Caio ainda com os braços abertos permaneceu observando-a esperando que ela mudasse de atitude.
-Se não vir logo eu que vou começar a chorar. – Aconselhou-a tentando parecer sério – Não vai quer ver a cena de um belo jovem de olhos verdes com quase dois metros de altura chorando. Vai?
-Deve ser hilário. – Ela cruzou os braços decidida – Estou pagando pra ver.
Ele revirou os olhos desconformado. 
-Vamos lá. Se alguém pudesse nos ver agora eu estaria pagando o maior mico com esses braços abertos.
-E se alguém pudesse nos ver abraçados poderia pensar alguma coisa de nós. –Contestou ela. – E é você que está querendo o abraço e não eu.
-Ok. – Desistiu ele – A Dora que eu conhecia adoraria ganhar um abraço depois de algumas horas de choro, mas não você. Isadora Evanz é bem mais forte e decidida que a minha velha amiga... 
-Hum...
Caio percebeu que ela não se renderia tão fácil ao seu jeito amável, ela estava decidida e pelo jeito nada que ele dissesse mudaria sua posição.
-... E o pior é que vocês são a mesma pessoa. – Abaixou a cabeça parecendo triste. – Você mudou e não precisa mais de mim, então o que me resta é me acostumar com isso. – Levantou a cabeça e olhou-a nos olhos. 
Ela demostrou preocupação quando notou que ele estava muito sério para estar brincando.
- Não pensei que você fosse tão dramático. – Analisou ela arqueando as sobrancelhas.
- Um pouco talvez. – Concordou ele. – Porém sendo assim não vou insistir em te abraçar. – Virou-se de costa – Nunca mais.
- Como assim nunca mais? – Ela deu um salto alerta na direção dele abismada. – Não vamos generalizar a coisa toda. Além disso... Nunca mais é muito tempo. –Disse sem jeito – Sabe que as pessoas falam...
- E você se importa com o que as pessoas dizem? – Ele se virou e encarou-a.
- Esquece o que eu disse e me abraça logo. – Implorou ela um pouco sem graça.
Eles deram um passo em direção um ao outro e logo estavam frente à frente, ele envolveu os braços nela e ela aninhou a cabeça no peito dele sentindo aquele calor muito bom e o rosto de Caio contraiu num sorriso.
Ficaram por alguns minutos curtindo a presença e o conforto daquele abraço. O silêncio era constante, porém muitas palavras poderiam ser ditas apenas com um cruzar de olhares. Estar nos braços de Caio para Dora era como se estivesse apoiada para não cair, para ele àquilo era muito significativo, a amava e por ser homem tinha que conter seus impulsos para não fazer besteira, tinha medo de magoa-la, entretanto não conseguia manter distancia, então sempre se colocava ao seu lado para protege-la. Mas até quando conseguiriam segurar seus sentimentos? Até quando conseguiria conter as palavras que gritavam dentro de si?
- Dora? – Caio a chamou fazendo com que ela despertasse daquele momento de paz e afastando se um pouco ambos olharam um nos olhos do outro. – Talvez o que venha dizer seja a coisa mais louca... – começou meio sem jeito - ... mas, eu acho...
- Dora, Caio... 
Uma voz o interrompeu fazendo com que os dois se soltassem e olhassem para a direção de onde ela vinha. Ambos engoliram seco quando viram o olhar de Rodrigo tentando compreender a situação dos dois.
-Tá tudo bem? – Perplexo pela cena esqueceu o que iria dizer realmente e perguntou a primeira coisa que veio a cabeça.
Dora afirmou com a cabeça um pouco envergonhada olhando para o lado e cruzando seu olhar com o de Caio que tentou suavizar a sua expressão de desapontado com um sorriso brando.
- Sim. – Completou baixo.
- Que bom. – Argumentou nada convencido. – Eu vim avisar que o almoço está pronto. Vamos? – Encerrou olhando para Caio.
- Claro. – Respondeu o jovem saindo na frente.
-Algum problema? Eu atrapalhei alguma coisa? – Cochichou para a irmã que respondeu negando com a cabeça.
Era lógico que ela não iria falar o que estava acontecendo para seu irmão. Não que não confiasse nele, porém não havia nada acontecendo e mesmo e apesar da dúvida em relação aos sentimentos de Caio por ela, Dora ficou desapontada porque o rapaz não pode concluir o que ele iria dizer. Ela almejava que as palavras dele fosse em relação ao seus sentimentos por ela, mas Dora não tinha dúvida de que Caio ainda sentia algo por Luiza. Ela conseguia reparar que ele sentia algo, mas ela não conseguia se convencer de que isso era real, ela não conseguia acreditar que alguém gostava dela, após o abandono do seu pai ela acabou criando essa barreira dentro de si própria impedindo que alguém a ultrapasse.
Olhando para Mel e Rodrigo junto ela desejava poder estar assim com Caio, entretanto tudo parecia possível para os outros e não para ela. 
- Dora... – a mãe de Rodrigo chamou a atenção da Dora tirando-a do transe – Está tudo bem? Você quase não está comendo.
Dora ficou sem graça porque todos a olhavam aguardando uma resposta. Ela ainda estava aérea por ter se perdido em pensamento e não sabia bem o que dizer.
- Me desculpa... Não vai mais acontecer, eu viajei, mas a comida está uma delicia. – Explicou sem jeito.
-Não tem problema e que bom que gostou. – Dona Suelen sorriu satisfeita e Dora sorriu agradecida pela compreensão.
Após o almoço eles ficaram mais um pouco conversando até que decidiram percorrer o caminho de volta para casa, deixando bem claro que voltariam em outro momento.
-Eu jamais pensei que fosse dizer isso, mas foi muito bom conhecer a senhora. – Dora declarou abraçando a mãe do Rodrigo – Obrigada por me receber em sua casa e por não ter raiva nenhuma de mim.
Dona Suelen sorriu.
- Não haveria motivo para ter raiva de você. Você não tem culpa de nada, viu? – disse fazendo carinho nos cabelos dela – A magoa sempre nos faz achar um culpado e muita das vezes culpamos inocentes, mas eu tenho aprendido muito com Deus. Augusto errou muito, porém eu perdoei e não só porque estou casada e sou feliz, mas porque eu aprendi que perdoar é divino e isso nos liberta e liberta a outra pessoa também para que seja feliz e siga cada um a sua vida em paz.
Dora não gostava muito de falar do pai, porém ouvir àquela senhora te trazia certa paz, só não sabia o porquê.
- Uma vez eu li – Continuou Suelen – que guardar ressentimentos é como tomar veneno e esperar que o outro morra...
-Willian Shakespeare. – Refletiu Dora.
- É esse mesmo. Talvez agora você não venha entender, mas é preciso que você perdoe seu pai. – Dora sobressaltou os olhos. – Isso fará um bem imenso a você e claro a ele também. 
- Por que insistem nisso? – Dora abaixou a cabeça triste. – Ele está bem. Ele tem a família dele. 
- E você, está bem com tudo isso? Você não acha que a falta de perdão tem atrapalhado em muito na sua vida? – Comentou. – Sabe Dora, a oração do Pai Nosso que Jesus ensinou é um modelo para nos instruir na hora de falarmos com Deus e quando citamos aquela parte “perdoa-nos assim como nós perdoamos a quem nos ofendem” estamos pedindo perdão pra Deus por nossos erros e nossos pecados e como Deus iria nos perdoar se não perdoamos o nosso próximo. 
Dora ouvia em silêncio e atenta.
- Como poderia perdoar se eu estou chateada com ele? – Indagou confusa.
- Ai é que está à chave para seus questionamentos, primeiro você libera o perdão para a pessoa mesmo que no momento você não sinta vontade, com essa liberação o tempo vai passar e no fim você vai ver que a magoa passou e que a dor que sentia foi cicatrizada. – Dora a olhava receosa. – Se quiser posso orar com você, afinal isso não vai machucar. 
- Não custa tentar. – Declarou temerosa.
Dona Suelen a abraçou forte e fez uma bela oração para que Deus tirasse toda magoa do coração de Dora e que desse lugar ao perdão, para a garota aquilo não fez diferença em relação ao Augusto, porém no fim sentiu certo alivio que lhe fez bem. Agradeceu a recepção daquela mulher bondosa e correu para o carro onde os outros a aguardavam.
A viagem de volta foi um pouco cansativa, não pela distancia, mas sim pelo pequeno transito que enfrentaram. 
Todos estavam exaustos, porém cientes que esse breve momento que passaram valeu muito à pena principalmente para Dora. Chegando ao condomínio cada um foi para seus respectivos apartamentos ficando Caio e Dora para trás.
-Ei! – Caio a surpreendeu puxando-a de leve pelo braço- Como você está?
Dora suspirou aliviada pensando em tudo que aconteceu.
-Estou bem. Digamos que foi melhor do que eu pensava. – Sorriu e Caio retribui – Bem melhor.
-Que bom. Mudando de assunto... Está preparada para o vestibular? Já é no próximo domingo. – Ponderou – E por falar nisso eu ainda não sei pra que curso você se inscreveu?
- Ah sim, só direi depois do resultado da prova. – Falou decidida – E quanto ao estar preparada, acredito que sim. Estudamos o suficiente não acha?
Caio consentiu com a cabeça.
- Não estou gostando nada desse mistério todo sobre o curso escolhido...
Caio foi interrompido pela música do celular da Dora.
-É minha irmã... – Dora disse ao olhar no visor – terminamos a conversa depois.
- Ok.
Dora entrou em casa e foi direto para seu quarto ao mesmo passo em que conversava com a irmã.
-Casar? – Sentou estarrecida na cama devido ao anuncio da irmã.
- Sim Dora, afinal eu e o Rafa namoramos a mais de 5 anos. – Disse Lia do outro lado da linha. – Já estava na hora, né?
Dora não conseguia acreditar nos fatos, não sabia se estava mais surpresa pelo casamento repentino que a irmã anunciou ou se por não fazer ideia que Lia e o namorado já estão juntos a tanto tempo. Onde ela estava quando esse tempo todo passou? E porque ser avisada assim tão em cima da hora.
- Mas,... neste sábado?! Eu tenho prova no domingo. – Ela estava confusa que não sabia mais o que dizer – Você não acha que marcou tudo muito rápido? O que seu pai acha de tudo isso?
- Já tem um tempo que estamos planejando e meu pai está de boa. Só faltava convidar você, mas acho que foi um erro, não é? Você é muito ocupada. – Disse Lia que esperava uma reação melhor da irmã. – Mas, o convite está feito sei que se você quiser pode pegar um voo rapidinho pra cá. Até mais.
-Lia espera...
Dora só conseguiu ouvir o toque da ligação cair. Que raiva que ela sentiu dela mesma. Lia só estava convidando-a para o dia mais feliz de qualquer garota, porém seus medos tinham que se intrometer e estragar tudo. Ela não poderia deixar as coisas ficar assim. Iria ao casamento. Estava decidida a não perturbar e deixar que seus receios estrague seu convívio com as outras pessoas.
A semana foi corrida e agitada na agencia, porém no sábado após o almoço Dora pegou um voo rápido para não poder perder o casamento da irmã e logo depois pegaria outro voo para casa, por causa do vestibular no outro dia.
- Eu sabia que não poderia perder esse casamento por nada. – Dora falou ao entrar no salão que a irmã estava para se arrumar para o casamento. – Fiquei sabendo que a noiva mais linda do mundo estaria nele.
Lia abriu o sorriso ao olhar para irmã e foi até ela e a abraçou.
- Que bom que você veio. – Declarou feliz.
- Uma noiva sem sua dama de honra não será uma noiva completa. – Dora iluminou seu rosto com um belo sorriso. – Lia me perdoa por ter sido um pouco rude ...
- Não diga mais nada. – Lia interrompeu-a – Já está perdoada só por estar aqui.
E as duas se abraçaram de novo sorrindo e emocionadas.
O casamento foi lindo e emocionante pena que foi rápido, pois Dora achou tudo muito fascinante e se emocionou muito ao ver a dança pai e filha. Após a festa partiu rumo a Quatro Rios, foi tudo corrido e cansativo, então aproveitou para dormir um pouco no voo e conseguiu dormi o resto da noite ao chegar em casa e no outro dia estava descansada para a prova que foi tudo muito tranquilo.
***
-Dora tem ótimas novidades para você. – Thais entrou no camarim anunciando logo após Dora ser maquiada.
A garota olhou-a confusa aguardando as “ótimas noticias”.
- Uma agencia de Paris estão atrás de uma jovem modelo brasileira e eles estiveram dando uma olhada em suas fotos e gostaram muito do que viram. – Thais disse muito animada – Estarão enviando o contrato ainda essa semana e em menos de dois meses você estará “embarcando” para França.
- Ah, que legal. – Dora não demonstrou nem um pouco de empolgação.
-Eu mencionei que é Paris na França, certo? – Dora afirmou com a cabeça – E porque raios de motivo você está com a animação de que o contrato seja para Belém do Pará?
- Porque talvez eu não aceite. – Ela disse confiante.
Thais ficou abismada com a resposta e lançou um olhar incrédulo para Dora.
- Thais meu contrato com a agencia está se findando e eu avisei que se tudo correr como eu tenho previsto estarei me mudando para cursar a faculdade. Lembro-me de ter mencionando isso semana passada com você. – Esclareceu Dora.
- Ah, sim. – A mulher fez pouco caso do que ela disse – Mas, esse negocio de faculdade simplesmente é para que você estude, se forme, trabalhe na sua área para no fim ganhar dinheiro e tem pessoas como você que não tem necessidade disso por que desde o berço nasceu com um rostinho bonito a ponto de ganhar o mundo. Porém, se você insistir nisso é só lembrar que está abrindo mão de um sonho que muitas meninas almejam e que poucas conseguem. 
- Eu sei disso. Só não é o meu sonho. – Disse de cabeça baixa refletindo.
- Pense bem. – Thais foi até a porta ameaçando em sair – Uma oportunidade não bate duas vezes na mesma porta. Acho que se o David estivesse aqui ele conseguiria colocar juízo na sua cabecinha. Ótimo momento para ele estar viajando.
Ela saiu e deixou Dora ainda mais indecisa sobre seu futuro. As coisas já não estavam nada fáceis e agora tinha que lidar com mais decisões. Ela precisava de ar, precisava pensar com calma sobre tudo, então saiu dali e foi dar uma volta na praça.
Sentada no banco tentava por em ordem a bagunça que estava na cabeça. As coisas que a Thais dissera rodava na sua cabeça. E se mais uma vez ela não conseguisse passar? Ela estaria abrindo mão da sua única oportunidade concreta. Quanta coisa na sua mente estava deixando atordoada. Fechando os olhos passou a mão no rosto puxando os cabelos para trás na tentativa de poder apagar tudo que a incomodava e ao abri-los avistou ao longe uma garotinha correndo em direção a um homem que Dora julgou ser o pai dela. O homem pegou a garota e a girou no ar e menininha sorria.
Tudo que ela tem feito até hoje em sua vida era correr para longe de qualquer homem diferente daquela garotinha e ela sabia de quem era a culpa. Já estava na hora de se distanciar ela precisava de explicações e tinha que ser direto da fonte. Estava na hora de correr em direção a seu pai.
Chegando ao escritório de Augusto, Dora o avistou fechando a porta e quando ele se virou deu de cara com ela o que fez dar um leve sorriso.
-Olá. – Cumprimentou ele vendo que ela não dizia nada. – Quer me dizer alguma coisa?
- Não vim para o que você está pensando, então não precisa ficar feliz. – Falou séria se segurando.
- Você veio até aqui e isso pra mim significa muito. – Analisou ele – Já é um começo.
- Não é um começo pra nada. Só quero explicações. 
- E eu darei todas que você quiser. – Balbuciou Augusto. – O que quer saber? Quer que eu conte tudo o que aconteceu, porque eu sai de casa ou ...
- Eu estou cansada de tudo na minha vida não dar certo e quando eu paro para analisar a resposta é você. Tudo começou porque você me abandonou. – Ela desabou tudo pra cima dele – Eu abandonei o balé porque você fez pouco caso do meu recital, eu nunca consegui olhar no espelho e me ver como uma mulher bonita porque eu não tive o olhar masculino do meu pai para me dizer que eu era assim, eu nunca consegui continuar com um namoro porque eu pensava que todos os homens fariam como você que abandonou a minha mãe e a mim porque não me amava eu nunca conseguir acreditar em uma palavra de amor e sempre desconfiei de todo o tipo de afeto que alguém demostrava ter por mim. – Ela reparou que ele derramava algumas lagrimas e ela começou a derramar algumas também e controlou a raiva para continuar. - Sabe hoje eu vi uma criança no parque com o pai, ela estava com um lindo vestido de princesa e corria toda feliz e confiante para os braços do pai dela que a girava no ar e o sons das suas gargalhadas se misturaram. Eu pensei que eu nunca tive um pai que eu confiasse assim. Nunca tive um pai que pensasse em mim como sua princesinha. E depois de ver o casamento da minha irmã e a dança pai e filha eu percebi que eu também não poderia viver isso. Porque nunca tivemos um relacionamento pra que eu confiasse em você pra me guiar numa igreja ou me conceder a um homem no altar. Sabe, isso é triste de verdade Augusto! 
- Dora, eu não posso te pedir que instantaneamente confie em mim. – Augusto falou pausadamente - Eu não posso te pedir pra esquecer suas lembranças, nem as consequências delas, mas eu tenho uma esperança tão forte de que você tenha se tornado melhor do que eu e possa me perdoar. Dar-me uma chance pra ser melhor. Eu não posso negar que errei eu não vou me justificar e nem pedir desculpas, pois quem pede desculpas se exime da culpa, eu te peço perdão porque assumo o meu erro e quero mudar. Eu tenho um amor tão grande pra te dar pelos próximos anos que eu puder viver. Quero que ensine a suas irmãs como é ser linda e confiante como você. Eu quero ter a honra daquela dança pai e filha e te conduzir no altar, quero conhecer o homem que será digno de você, mas principalmente quero poder merecer te conhecer melhor pra quem confie em mim pra vivermos juntos tudo isso. Permite-me? Perdoa-me?
Dora o olhou e ele estava com os braços estendidos a aguardando para um abraço e veio a sua mente a última lembrança de Caio daquela forma e não hesitou correu mais uma vez, porém não na direção oposta. Foi em direção ao encontro do abraço, aquele abraço que tanto ela almejava em receber e ali mesmo chorou tudo que podia

4 de julho de 2015

Uma história em quatro mãos - Capítulo 40 - Um ponto final? - Joice Lourenço



Aqueles dias no cruzeiro foram incríveis, mesmo tendo que aquentar as tentativas de Juliano de me afastar de Mel. Tentava de todas as formas ter a atenção dela para ele. Em meio a isso, acabávamos disputando a sua atenção, sempre brigando para ficar com Mel. Ela apenas ria da situação e as vezes conseguia escapar de Juliano para ficar comigo.
Mas, apesar de tudo valeu a pena passar mais tempo com Mel. Ela realmente me tira do sério, no bom sentido. É que percebo que a cada dia amo-a cada vez mais e isso as vezes se torna torturante. No bom sentido, novamente. Estou sentindo que preciso fazer alguma coisa por nós dois, mas... Não sei... Sinto que ainda falta alguma coisa, algo que ela esconde. Seu passado ainda é um mistério e realmente fico chateado por sua falta de confiança em me contar sobre a sua vida”. 
Chegaram à terra firme no dia 3 de Janeiro, ainda restavam quatro dias de férias. Todos pareciam felizes com aquelas férias no cruzeiros, todos, exceto Caio que parecia frustrado com a presença repentina do novo amigo de Dora, que não a largava por nada. E ela parecia gostar da companhia dele. Isso estava se tornando insuportável para Caio. 
Não havia conseguido falar muito com ela. Precisava urgentemente conversa. Tudo bem, sabia que já tinham conversado, mas vendo-a ao lado daquele sujeito insuportável o deixou com os nervos à flor da pele. Por mais que soubesse, só naquele viajem teve a certeza: a queria como nunca quis ninguém. A desejava de uma forma que o pegou desprevenido. A única coisa que percebeu era que a amava. Sim, a amava e não sabia o que fazer para poderem ficarem juntos. 
Rodrigo já em seu apartamento, tirou suas roupas da mala e escutou o celular tocar, olhou o visor e atendeu feliz. Quanto tempo que não escutava a sua voz e não há via? Sentiu a doçura da sua voz na primeira palavra. Como a amava e naquele instante sentiu-se triste por tê-la afastado da sua vida. Ela não tinha nada a vê com o que aconteceu com seu irmão e sua ex-noiva. Por que ele teve que agir daquele jeito? Era injusto, totalmente injusto.
_ Mãe! Que saudades!
_ Lembrou de mim? – Perguntou ela, brincando com o filho.
_ Sempre lembro da senhora.
_ Poxa, faz mais de um ano que você não vem aqui Rô.
Ele engoliu em seco e suspirou.
_ Eu sei mãe, eu sei...
_ Por que não vem passar um dia comigo? Estou com saudades, filho.
Houve um momento de silêncio entre eles. Ele nunca mais queria pisar o pé naquela casa, não era só pelas lembranças do que o irmão lhe causara. Na verdade elas nem eram mais tão fortes como antes. Quando finalmente Rodrigo conseguiu perdoá-lo, de alguma forma as lembranças, tudo de tornou mais suportável, a dor não era mais como antes. Talvez uma pequena mágoa ficou, mas sabia que com o tempo ela iria ficar cada vez mais distante. O problema é que aquilo que aconteceu foi como uma rachadura na sua família, seria como que ter que enfrentar a dor novamente. Sabia que precisava disso, sua mãe precisava dele e do seu irmão juntos novamente, como uma família. 
Respirando fundo e tomando toda coragem do mundo, respondeu seriamente _ Tudo bem, mãe. Posso levar alguns amigos? Preciso te apresentar duas pessoas muito especiais.
_ Claro, filho. Traz todos os seus amigos, vou preparar tudo do melhor para vocês...
_ Está bem! – Ele riu com a animação da sua mãe. A conhecia o suficiente para saber que se deixasse ela iria continuar a falar sem parar, revelando tudo o que estava pensando em fazer. Não sabia como iria reagir com a notícia de que Dora era a sua irmã, mas sentia que precisava fazer isso. Dora fazia parte da sua família assim como Mel. 
Agora precisava saber como iria contar isso para Dora. Desligou o celular e ignorando o mal humor de Caio que estava jogado no sofá e a cada cinco segundos resmungava algo, passou por ele e foi até o apartamento de Mel.
_ Você de novo? – Juliano resmungou _ Cara, larga do pé da Mel. Não passamos as férias todas juntos? Dá um tempo!
Rodrigo não disse nada, seu semblante estava sério e em seus olhos haviam um escudo de proteção. Nada do que ele dissese iria fazer mudar o seu semblante. Tinha problemas mais sérios para resolver do que aquela intriguinha infantil com Julino.
_ Vê se cresce! – Foi a única coisa que disse antes de passar por ele e entrar no apartamento. 
Logo avistou Dora saindo do seu quarto. Assim que o viu ela começou a sorrir e então parou percebendo que Rodrigo estava estranho.
_ O que aconteceu?
_ Preciso falar com você.
Ela não disse nada, apenas abriu a porta do seu quarto para conversarem a sós. Entrou e ficou esperando. Cade ele? Voltou para a porta e então viu o irmão abraçado na Mel. Iria achar aquilo romântico, se não fosse o olhar estranho de Rodrigo. Mel, parecia também não compreender o estado em que estava. Antes que pudesse falar alguma coisa, escutou ele falar.
_ Depois conversamos – E então Rodrigo entrou no quarto e fechou a porta.
Dora o observou por apenas alguns segundos, não aguentando a agonia de vê-lo daquele jeito. Algo estava acontecendo. Ele não era de agir assim. Agora, sabendo que era seu irmão e o tempo que estavam passando juntos, o conhecia muito bem para saber disso.
_ Fale logo Rodigo, o que aconteceu?
Ele surpirou e falou _ Ainda não aconteceu, mas vai acontecer.
Ela estreitou os olhos não entendendo nada _ O que vai acontecer? – Tentou ser paciente.
_ É difícil Dora, mas... – olhou para o chão naquele instante _ Preciso que você vá comigo, visitar a minha mãe.
Dora arregalou os olhous _ O QUÊ???
Ele então encarou a irmã que estava nervosa _ Preciso que você vá comigo Dora – Ele repetiu com a voz mansa. 
Ela abanou a cabeça negativamente _ Você ficou louco, só pôde. Sua mãe deve me odiar. Eu faço parte da família que destruíua a sua. Será que lembra desse detalhe? – Ela gesticulava sem parar.
_ Sei disso Dora. Também faço parte da família que destruíu a sua. Não entende, que nós somos inocentes nisso? Não têmos nada a ver com o erro do nosso pai.
Escutar falar do “nosso pai” foi como se tivesse levado um sôco no estômago. Sabia disso, mas ouvir aquilo novamente, depois de tanto tempo sem tocar no assunto, mexeu com ela e a deixou ainda mais indignada.
_ Não Rodrigo, eu não vou a lugar algum com você. Esquece essa história de conhecer a sua mãe. Você não tem noção do que está pedindo. Não tem ideia de como me sinto.
Rodrigo de repente começou a perder a paciência e aumentou seu tom de voz _ Não entendo Dora? Eu? Não entendo? Fui traído da pior forma possível e pelo meu irmão. Você não tem ideia do quanto eu sofri, mas consegui perdoar os dois. Mas tive que me segurar, o que acha da mulher que tanto amava ter um filho com seu irmão, um filho que poderia ser MEU. Acha isso justo? Eu fiquei doido da vida, mas ainda assim conheci a minha sobrinha – Naquele instante sua voz diminuiu _ E eu amo ela Dora, amo a minha sobrinha. E ela é como você, inocente. Eu consegui amá-la e sei que minha mãe também vai fazer isso. Ela é a pessoa mais justa e amorosa que conheço.
Dora não evitou que uma lágrima caísse ao ouvir aquela confissão da boca do irmão. Sabia o quanto ele sofreu, mas nunca conversaram direito sobre isso. Realmente era difícil aquela situação. Tinha medo de ser rejeitada novamente. Não sabia o que pensar naquele instante e então apenas se lançou nos braços do irmão.
Ficaram assim por algum tempo. Aqueles abraços era o que ambos precisavam, era reconfortador e diziam que jamais um abandonaria o outro. Dora ficou surpresa assim como Rodrigo. Em pouco tempo como irmãos, perceberam que o laço entre eles era mais forte do que imaginavam. Dora o amava, era a sua família.
_ Vou com você! – Dora escutou as palavras saírem de sua boca. Aquilo a causou espanto e ao mesmo tempo algo dentro dela dizia que era a coisa certa a fazer.
Depois de alguns minutos se separaram do abraço e então combinaram de ir no dia seguinte para a casa da mãe de Rodrigo. Ele ficou um pouco mais aliviado por Dora ter aceitado. Sabia que não seria fácil, mas realmente acreditava no bom coração da sua mãe. Era a pessoa mais sentata e sábia que conhecia. Apesar de tudo que sofreu com seu pai, ainda assim ela conseguiu perdoa-lo e prosseguiu a sua vida. Ela ainda não sabia de Dora e essa seria a parte mais difícil do dia seguinte. Explicar a história. Só de pensar nisso começava a ficar apreensivo.
Rodrigo saiu do quarto da Dora pronto para a sua próxima missão: Mel! Precisava estar com ela, não só nesse dia, mas em todos os próximos que se seguiriam. Necessitava da sua doçura, da sua presença para lhe dar força naquele momento que era tão delicado para ele. Talvez nem todos compreendessem isso, mas só ele sabia que não estava sendo fácil isso. E o quanto resolver antes, melhor. Precisava fazer isso por ele, por sua mãe, para ter a família novamente reunida.
Encontrou Mel na cozinha, sentada e olhando fixamente para seu chá. Parecia longe nos pensamentos, seu semblante estava sério e quando enfim percebeu a presença de Rodrigo o olhou com tristeza. Ele se aproximou e sentou ao seu lado olhando-a com preocupação.
_ O que você tem?
Ela não respondeu, desviou seu olhar e novamente e fitou a xicara à sua frente. Parecia receosa com alguma coisa. Depois de um minutos em um silêncio conturbado ela soltou um suspirou pesado e sem olhar para Rodrigo sussurrou _ Acabei escutando a conversa de vocês.
Rodrigo continuou olhando-a esperando que ela continuasse. Ainda não entendia qual a razão de ela ter ficado daquele jeito. Não havia falado nada de errado, nada do que ela já não soubesse. Alias, não tinha segredos para ela. Mas, Mel tinha segredos, quem deveria ficar com aquela cara era ele.
_ Ela era a mulher da sua vida? – Mel perguntou num sussurro ainda sem coragem para encara-lo.
_ Quem? – Rodrigo não estava entendendo.
_ Você disse a amava muito, sua noiva – disse cabisbaixa.
Rodrigo arregalou os olhos, agora entendendo a agonia dela. Deu uma risada gostosa e então pegou carinhosamente no queixo de Mel trazendo-o para o lado, fixando seus olhos firmemente nos dela.
_ Mel, isso é passado. Quem eu amo e quem é a mulher da minha vida é você, apenas você e mais ninguém. Meu passado foi sofrido e apesar de amá-la ela não se compara em nada com você. Você é bem mais do que pedi a Deus.
Ela deu um meio sorriso, piscando para não deixar as lágrimas caírem.
_ Meu coração é inteiramente seu, Mel, mas... – ele olhou para o lado e soltou um suspiro _ Preciso saber se você também pensa assim. Se isso é mesmo recíproco.
Ela sobresaltou-se com aquela frase. Como poderia duvidar do seu amor? Rodrigo percebeu a sua agitação, mas continuou encarando-a seriamente.
_ Claro que sinto o mesmo – ela respondeu ainda não compreendendo o que ele estava querendo dizer.
Ele enrolou uma mexa do cabelo dela na sua mão e então disse com uma voz muito séria _ Não é o parece Mel. Você ainda não confia em mim completamente.
Mel fechou os olhos ao sentir o impacto daquelas palavras. Foi doloroso escutar aquilo, mas era a verdade. Não tinha como negar isso. Até confiava no Rodrigo, mas sabia que não tinha se aberto totalmente para ele. Os dois precisavam da sinceridade no relacionamento, antes que as coisas pudessem piorar entre eles.
Rodrigo continuou brincando com seus cabelos e percebendo que Mel estava longe com os pensamentos, mudou de assunto. Não queria que essa conversa inesperada causasse um mal estar entre ele. Precisava cumprir o próximo passado da sua missão.
_ Amanhã vou visitar a minha mãe, a Dora também vai junto. Queria que você também fosse. Falei pra ela que quero apresentar duas pessoas muito especiais. A Dora e você
_ A Dora vai? – Mel ficou espantada por um momento com a atitude de sua amiga.
_ Sim. Ela é bem mais forte do que imaginava – sorriu com satisfação _ Você vem comigo? Você sabe como isso é importante para mim.
_ Reviver tudo? – Ela indagou estreitando os olhos. Não sabia o que estava acontecendo com ela, mas sentia-se nervosa com tudo aquilo. A aproximação com a família e o passado dele, mexia com ela de uma forma tão forte que não sabia como agir.
Rodrigo a encarou frustrado. Abriu a boca para falar algo, mas desistiu. Mel, logo percebeu a sua burrada e tentando remendar a situação disse _ Vou junto com vocês! Também quero conhecer a sua mãe.
_ Tem certeza? – ele perguntou num sussurro.
_ Sim, quero conhecê-la – Tentou ficar ainda mais animada.
Rodrigo sorriu para sua namorada. Não foi um sorriso sincero como os que ela conhecia. Era apenas uma forma de aliviar um pouco aquela situação. Era melhor parar por ali e se verem no outro dia. Sentiu que ela precisava ficar sozinha e ele precisava arrumar suas coisas e comprar um presente para sua mãe.
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Acabou que todos foram juntos para passar alguns dias na casa da mãe de Rodrigo, dona Suelen. Juliano, por ser carrapato de Mel e Caio para ficar mais perto de Dora, ainda mais sabendo que as coisas não seria fáceis para ela. Ninguém falava nada, mas todos sabiam que isso estava sendo difícil para Rodrigo. Desde o dia anterior ele estava quieto e pensativo e agora no volante, apenas ligou o som do carro e naquela uma hora de viajem ficou em silêncio.
Quando entraram numa pequena rua de chão ele avisou que estava chegando e Mel percebeu que estava tenso. Suspirava profundamente várias vezes e então entrou numa rua ainda mais estreita com inúmeras árvores cercando-a. Passaram por um portão aberto e depois de fazerem uma curva avistaram uma casa rústica com varandão cercando-a. 
_ Que linda! – Mel comentou, visualizando a casa e depois tudo o que a rodeava. Um jardim lindo e mais no fundo uma lagoa pequena. Havia uma senhora baixinha na varanda. Percebeu Rodrigo sorrindo ao vê-la e então estacionou o carro de frente para a varanda, a lado de um gol branco. Provavelmente o carro dela.
Desligou o carro e então olhou para Mel. Ela apertou sua mão e abriu um sorriso sussurrando _ Estou com você!
Ele abriu ainda mais o sorriu e então beijou-a na mão. Já não se importava com a presença de Juliano, ela era a sua namorada e nada do que ele falasse iria impedir isso. Olhou Dora pelo retrovisor e percebeu que também estava nervosa, quando virou o rosto para poder olha-la melhor, percebeu a mão de Caio sobre ela. Estavam entrelaçadas.
Apesar de não ter gostado daquilo apenas deu um leve sorriso. O que nenhum deles precisava agora era de uma discussão boba. Sim. Boba por que todos sabiam que algo rolava entre Caio e Dora, e Rodrigo sabia na pele o que era ter um irmão chato e ciumento. Por um lado até entendia Juliano, porém do outro, sabia que ele era extremo na maioria das vezes.
Rodrigo enfim abriu a porta do carro e então todos saíram dele. Dona Suelen os esperava na pequena escada da varanda. Rodrigo a olhou de longe e sorriu indo abraçá-la. Ela, como sempre, o recebeu de braços abertos apertando-o contra seu corpo. Era bom sentir o filho novamente em seus braços. Se pudesse ele nunca sairia dali. 
Rodrigo a beijou na testa e então sussurrou _ Estava morrendo de saudades!
Ela tentou segurar as lágrimas, em vão. Há meses esperava para ter um contato físico com o filho. E ele vindo até ali era por que as coisas iriam melhor entre eles, não apenas entre mãe e filho, mas na família toda.
_ Seja bem vindo ao lar, filho! – Ela disse e então voltou sua atenção para o grupo de amigos que ainda estavam parados ao lado do carro.
_ Entrem, por favor! – Ela os chamou e Rodrigo logo os apresentou e como sabia, ela também os recebeu de braços abertos, um por um.
Quando chegou a vez de Mel, dona Suelen percebeu no olhar do filho que ela era mesmo especial. Rodrigo alargou ainda mais o sorriso e olhou-a com admiração. Dona Sulene então abraçou-a dizendo o quanto estava feliz por conhecer a garota que fez o filho reviver. Essas palavras tocaram profundamente no coração de Mel. Ela estava sendo injusta com Rodrigo, ficando desconfiada de que ainda sentia algo por sua ex-noiva.
Dora estava atrás de Mel. Quando a namorado do filho deu espaço para ela cumprimentá-la, Rodrigo e Dora olharam-se tensos. Será que seria o momento de revelar quem realmente ela era? Ou seria melhor deixa-lá conhecer melhor, antes da revelação.
_ Você tem traços muito parecidos com os do Rodrigo – Escutaram dona Sulen falar.
Dora deu um passo para trás e arregalou os olhos. Não sabia se sorria, tentando disfarçar a verdade ou então saia correndo. Percebeu Caio do seu lado. Ele a olhou com ternura fazendo-a sentir-se um pouco mais calma.
_ E alguns traços do Robson também – Ela continuou, dando um sorriso sincero.
Agora foi a vez de Rodrigo se aproximar da irmã e então voltou os olhos para a mãe. Não sabia o que pensar. Será que ela realmente sabia de toda a história, mas como? Não, isso não seria possível a não ser que...
_ Robson me contou tudo o que aconteceu! – ela finalmente revelou.
_ Não acredito que ele fez isso – Rodrigo ficou irritado. Não poderia ter ficado quieto como foi combinado? Tinha que abrir a boca antes do tempo? Se já não bastasse tudo o que passaram ele o trai novamente?
_ Calma, Rodrigo! Ele fez bem! – dona Suelen o pegou em sua mão _ Na verdade já sabia que seu pai tinha outra família.
Rodrigo e Dora arregalaram os olhos surpresos.
_ Como assim, mãe? Você nunca contou nada.
_ Para quê? Você já estava magoado o suficiente. Queria contar, mas na hora certa. Quando você fosse mais maduro para entender, mas então o destino o fez por mim. Você e Dora virarem amigos? Não é por acaso – dona Suelen concentrou seu olhar sobre o de Dora que estava estática, tentando entender tudo o que estava acontecendo _ E você Dora, sei que seu pai aprontou e aprontou muito. Também já tive muita raiva dele – Soltou um suspiro _ E fico tão triste por todos vocês terem que passar por isso. Só quero que saiba que não guardo nenhum raiva dele, da sua nova família e muito menos de você.
Dora engoliu seco, ainda estava imóvel com tudo aquilo. Como isso era possível? Não tinha nenhuma raiva dela? Não, havia alguma coisa errada ali. Dora não conseguia compreender o que estava acontecendo. Não esperava nada daquilo. Ela ficou sem ar por um momento. Assim como as emoções foram abaladas, seu físico também. 
Rodrigo a olhou preocupado, Caio também. Mel a chamou tentando despertar daquele transe.
Dona Suelen então deu três passos em sua direção e a abraçou. Dora não se moveu naquele instante, continuou como estava, parada, mas dessa vez conseguiu respirar e suspirou profundamente. Como em câmera lenta, seus braços passaram ao redor da mãe de Rodrigo e então deixou-se ser abraçada. Ficaram assim por alguns segundos até que escutaram um soluço. Dora chorava em seus braços, era um choro que vinha diretamente da alma, do mais profundo do seu ser. Um choro que estava guardado por anos e anos, cheio de amargura e incompreensão. 
Todos acompanhavam aquele momento em silencio, mas não tinha como evitar que as lágrimas caíssem. Rodrigo e Mel se abraçaram de lado e suspiraram profundamente, comovidos pela dor profunda que Dora sentia. Caio estava com os olhos vermelhos assim como Juliano. Ninguém falou uma palavra, apenas se olharam em profundo respeito.

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O almoço que era para ser servido ao meio-dia, foi adiado. Assim que Dora saiu dos braços de dona Suelen, sentindo-se um pouco embaraçada pediu licença e saiu caminhando pelo lugar, mesmo que não conhecia. Precisava ficar sozinha, era algo urgente.
Rodrigo começou a andar atrás dele, mas logo Mel o impediu, percebendo que Caio caminhava em passos largos e decididos para junto de Dora.
_ Deixe com o Caio. Vai fazer bem pra ela.
_ Não sei, tenho medo que ele a machuque.
Mel sorriu docemente e então disse algo que o surpreendeu _ Ele a ama Rodrigo, ela também. Eles precisam ficar sozinhos. Não é só por causa desse momento, é tudo o mais. Dora precisa resolver as coisas sozinha.
Ele engoliu seco ao ouvir aquilo tudo _ Como você sabe que eles se amam?
_ Assim como meu irmão sabe que a gente se ama. Ele só não admiti – deu de ombros.
_ Filho, resolva o que tem que resolver. Vou estar aqui esperando todos vocês – Dona Suelen disse em voz alta. Ela parecia confiante e era realmente doce como Rodrigo falara. Apesar das dores que a vida lhe causou continuava firme e forte, ajudando quando e como pudesse. Era um ano na vida de todos.
Mel abriu um sorriso para ela. Rodrigo apenas concordou com a cabeça e viu Juliano sentado numa cadeira de balanço na varanda. Ele encarou os dois por um momento, mas não disse nada. Mel soltou um suspirou e virou-se para Rodrigo, então ele a pegou em sua mão e começaram a caminhar para dentro do bosque.
O lugar era lindo, as árvores eram imensas. O clima havia ficado mais fresco naquele lugar e era maravilhoso poder respirar aquele ar puro.
_ É lindo aqui! – Mel comentou, depois de alguns minutos andando pelo bosque.
Rodrigo não disse nada, apenas apertou a mão de Mel. Não era um aperto qualquer, ele estava tenso, muito tenso. De repente parou de andar e olhou para o lado direito. Mel o acompanhou em silencio.
Escutaram alguns passos do lado oposto e quando viraram para ver o que era, os dois ficaram surpresos. Robson e sua esposa estavam de frente para eles.
Houve um momento de tensão. Rodrigo respirou profundamente e apertou ainda mais a mão de Mel. Ela aguentou a dor que aquilo a causou. Rodrigo estava procurando forçar nela e então com dificuldade ela apertou sua mão e sussurrou _ Estou aqui Rodrigo. Sempre vou estar.
Robson e sua esposa se aproximaram e então o irmão perguntou _ Podemos colocar um ponto final nessa história?
_ Precisamos fazer isso – Rodrigo falou seriamente, engrossando a voz.
Mel olhou para os irmãos e fitou seus olhos para a ex-noiva de Rodrigo. Ela era muito bonita, e naquele instante estava calada, apesar de querer ficar com raiva dela por ter causado tudo isso com Rodrigo e de estar com ciúme por ela ser tão importante para ele, o que mais sentiu foi pena. Dava para ver que estava realmente arrependida.
Ela então percebeu Rodrigo se aproximar da ex-noiva, da mulher que um dia amou. O coração de Mel quase parou quando os dois se olharam seriamente e ele a abraçou. Ela disse algo, Mel não conseguiu entender e então os dois se afastaram.
Rodrigo e Robson se olharam mais uma vez em silêncio _ Está tudo bem! – Rodrigo afirmou e sem falar mais nada pegou na mão de Mel e continuaram a caminhar. Não falaram nada por muitos minutos. Isso deixou Mel nervosa, muito nervosa e como a cena do abraço não saia da sua cabeça resolveu perguntar _ O que ela falou?
Rodrigo não respondeu de imediato. Ficou pensativo por alguns minutos e então disse _ Ela disse que me amou de verdade e que não merecia nada daquilo e pediu perdão por ter agido daquela forma – Rodrigo ficou em silencio por mais alguns minutos, parecia querer dizer mais alguma coisa _ A verdade, é que ela começou a gostar do meu irmão quando estávamos juntos, mas não teve coragem de terminar comigo. O resto, você já sabe.
Dessa vez Rodrigo parou de andar e encarou Mel que parecia absorver tudo aquilo.
_ Se ela tivesse dito antes as coisas seriam diferentes. Por isso odeio segredos.
Mel engoliu seco e desviou o olhar.
_ E ela sempre vai estar na sua vida – Mel disse com ar de lamentação.
_ Sim, ela e o meu irmão. Não posso fazer nada em relação a isso Mel. Mas, o que aconteceu, é passado.
_ Um passado que você não parece esquecer.
_ Não estou entendendo. Aonde você quer chegar? – Ele solta a mão de Mel e cruzou os braços.
_ Por que viemos aqui Rodrigo? Aqui, no bosque? Para passar no mesmo lugar em que você os viu juntos? Para relembrar o que sentiu? Para lembrar dela?
Rodrigo abanou a cabeça negativamente e então riu cinicamente do que ela falara. Mel estava furiosa e despejava as palavras sem as medir.
_ Isso é ciúmes, Mel? Ciúmes por alguém que não representa nada para mim? Eu precisava vir até aqui, não por ela, mas por mim e pelo meu irmão. Fomos criados aqui, tenho muitas lembranças aqui, só não quero mais ter que pensar nesse lugar como algo ruim. Por mim e pelo meu irmão. Você não percebe que estou tentando unir a minha família?
Mel não disse nada, continuou olhando-o tentando tirar mais alguma coisa dele. na verdade, coisas que não existia. E então lembrou o que escuatara no dia anterior. Tentou segurar, mas não conseguiu _ E o fato de voê querer que a sua sobrinha fosse sua filha? Você não percebe que ainda sente alguma coisa por ela? Fale a verdade Rodrigo.
Ele fechou os olhous e soltou uma respiração pesada _ Mel, não faz isso comigo. Você está trazendo as coisas do passado, coisas que já esqueci para o nosso relacionamento?
_ Só estou dizendo o que ouvi da sua boca.
_ Sim, isso é o que dá ser mexeriqueira dona Mel. Minha conversa era apenas com Dora, para que ela entendesse que apesar da minha dor ser profunda eu consegui dar a volta por cima. E sim, há muitos meses atrás queria que a minha sobrinha fosse a minha filha, por que era tudo recente, não tinha te conhecido direito. As coisas mudaram Mel, mudaram totalmente na primeira vez que dei de cara com você.
Mel não disse nada, na verdade não sabia mais o que falar ou o que agir. Não estava entendendo o que estava acontecendo. Ela não era desse jeito, e cada palavra que saia da sua boca só piorava a situação entre eles.
_ Agora se você acha que não vai aguentar a minha família, mesmo com tudo o que aconteceu, não tenho o que fazer. Eu disse e repito Mel, meu coração é totalmente seu. Não sou de me apaixonar fácil e quando encontro alguém que vale a pena, faço de tudo para dar certo. Agora se não acredita em mim, o que posso fazer? – Levantou as mãos impaciente _ Está na hora de você se entregar inteiramente pra mim se você realmente me ama.
 renata massa