15 de outubro de 2013

Capítulo 31 - Mundo pequeno, pequeno demais

Uma história em quatro mãos - Laços do coração
A conversa no parque entre Caio e Luisa rendeu a ela alguns pesadelos nada agradáveis. Um passado horroroso que há tempos não a atormentava voltaram a lhe assombrar. E no trabalho ela ainda tinha toda a pressão de uma nova campanha. Quando chegou a noite não conseguia dormir e ligou pra Caio, ouvir sua voz lhe faria bem.

- Caio?

- Oi Luisa, o que houve? Tá tudo bem?

- Liguei um pouco pra desanuviar a mente, depois da nossa conversa no parque eu voltei a pensar em tudo aquilo de novo.

- Me perdoe, não quis te perturbar com isso. Esquece, você está segura aqui.

- Também acho. - sorriu levemente sabendo que ele certamente a protegeria se alguém ousasse feri-la. - Ando tendo problemas no trabalho, tenho um prazo a cumprir e uma campanha enorme pra assumir caso eu consiga agradar o cliente. É um posicionamento de marca, uma conta que eu tenho que pegar de qualquer jeito.

- Você trabalha pra uma agência de publicidade, certo? 

- Sim, sou a produtora de moda chefe da agência, mas ando meio displicente com a mente em outro lugar.

- Pensando em mim. - falou ele triste por saber que ela não desistira da idéia de reatarem e isso era torturante.

- Muito em você, mas sei esperar, Caio. Se ainda houver espaço, estou aqui.

- Sei… acho que devia se concentrar no trabalho, garota. Não sou uma boa aposta, vai por mim.

Caio percebeu que Rodrigo havia entrado na sala há algum tempo e deve ter ouvido alguma coisa que não gostou, porque foi pro quarto e bateu sonoramente a porta. Terminou rápido a ligação e foi ver o que estava acontecendo.

- Wow, tudo bem aí?

- Sim, por enquanto está. Era Luisa?

- Era. Ela anda com alguns problemas.

- Sei e você é o problema dela.

- Não, coisas de trabalho e sim ela… você sabe.

- Não gosto de como essa história soa. Não confio muito nela, ela tem cara de encrenca. Uma mulher como ela tem o poder de enlouquecer um homem e você é só um rapaz.

- Tem muita coisa sobre ela e sobre mim que ainda não sabe. Não a julgue, tudo bem? Todos são capazes de escolher mal. Já falou com sua família?

- Ainda não, estou tentando por tudo em linha na minha cabeça, antes de ir procurá-los. As coisas com a Mel também não estão bem.

- Tempo, irmão. É ele que responde tudo.

- Verdade. E o passeio com a Dora. Tudo certo? Ela se divertiu?

- Ah claro, sabe como é… Comigo a diversão é sempre garantida! Tá com fome? - falou ele abrindo a geladeira e fingindo procurar alguma coisa pra esconder os olhos do amigo, por sorte ele não insistiu e o ajudando a achar comida em casa, homens sempre exigem menos detalhes do que mulheres e isso é ótimo nessas ocasiões. "Graças a Deus."

- Acho que ainda tem alguma coisa no armário. - falou Rodrigo

……

Dormir foi um certo tormento pra Caio, as lembranças daquele beijo que ele queria esquecer vinham em sua memória vivas demais, com todas as cores em todos os tons, desde o dourado dos olhos dela ao róseo de seus lábios. Ele resolveu orar, pois queria dormir e essa lembrança estava atrapalhando. "Senhor é o seguinte agora é nós. Eu sei que eu to errado, não devia tê-la beijado, mas me conheces. Me fizeste deste jeito, um homem que gosta de mulheres, e gosta muito pra dizer a verdade. Não sei se ainda amo a Luisa e não consigo resistir a presença de Dora. Confesso estou atraído por ela e muito. E sei que é injusto te pedir isso agora que fiz besteira, mas me ajuda aqui. Tá ruim pra mim. Obrigado desde já porque eu sei que tu sempre me ouves, porque teu filho Jesus intercede por mim, e clamo por Ele pra me livrar dos meus erros e que seja assim."

Ele conseguiu dormir, mas nada o prepara para a manhã cheia de surpresas e declarações. Rodrigo se descobrira irmão de Dora, com a visita inesperada de Augusto que também se surpreendeu com a proximidade dos dois nem sequer imaginando que ao procurar reconciliação com a filha também encontrou seu filho que fora igualmente abandonado por ele. Rodrigo passou a assumir um tom exageradamente protetor pra cima de Dora, ele já tinha um carinho enorme e inexplicável por ela que agora fazia todo sentido. Depois que ele descobrira sobre o beijo Caio ficara em uma posição delicada, era ruim estar do lado errado da admiração do melhor amigo pelo deslize que cometera beijando Dora, porém teria que conviver com isso e com o fato que agora os limites estavam bem claros entre ele e ela, teriam de ser apenas amigos e vizinhos. Por um lado era bom, talvez uma resposta, resolver um problema de cada vez. Luisa e ele precisavam de uma resposta, seu futuro em 4 Rios também, sua carreira e sua música.

Foi para a Lutheria cedo e não quis acordar Rodrigo, nem fez seu habitual café, precisava tocar e aliviar a mente. Queria acertar as coisas com Dora e não fazia idéia de como, seu Rafael o viu trabalhar feito louco naquele dia pra compensar o atraso da manhã, trocou corda de vários violões até esfolar os dedos e tudo isso em silêncio na pausa foi para o piano e ficou lá num isolamento de dar gosto de ouvir, ele produzia sons incríveis quando se isolava, e seu Rafael apreciava boa música, então o deixou com seus conflitos, era importante para música que os tivesse.

Ele repensava passo a passo daquele encontro tentando pular os flash sobre o beijo, lembrou-se das conversas, do temperamento de Dora com o cara do algodão doce, ela fazia brotar fácil o sorriso nos lábios dele, lembrou da indecisão quanto a profissão e então teve um estalo e era por aí que deveria começar, ser amigo dela, estudarem juntos se encontrarem na vida, não necessariamente um com o outro. Rodrigo agora certamente não permitiria. Lembrou-se de quando a mãe dela morreu e da conversa que tivera com Lia, ela lhe dera o telefone de Augusto pois sabia que Dora jamais o procuraria. Por isso sabia bem porque Augusto a procurara, só que ele jamais imaginaria que Rodrigo também fizesse parte do passado e da vida da garota nesta intensidade.

Caio havia ligado para Augusto, na época estava muito frustrado por ele não se importar com a filha e lhe passou um sermão bem severo, não importando a idade que tinha.

"- Quem pensa que é garoto, pra falar comigo neste tom?

- Eu sei exatamente quem eu sou. Infelizmente me pego pensando no que o senhor sabe? Ela perdeu a mãe e está perdendo a chance de conhecer sua filha. Embora não tenha feito nenhuma contribuição para a pessoa que ela é hoje, ela tem seu sangue! Quer saber não interessa! O senhor perde mais! Eu sei o quanto aprendo só por estar do lado dela, o quanto eu cresço e amadureço, mesmo em meio as brigas, é melhor isso do que nada, melhor do que não saber que ela pensa. Ser diferente de mim só me faz enxergar as coisas de outro modo. Ela pode rir ou chorar e tudo isso será muito honesto, porque se ela finge ser forte seus olhos lhe traem e você só sabe disso se estiver olhando se permitir ouvir e conhecer cada mínimo tom de voz. E dar abrigo e abraço a ela quando ela precisa é mais do que se fazer necessário e se sentir parte do que o outro tem pra lhe oferecer: sentimentos. E se o senhor não quer ter isso, o senhor perde tudo. Passar bem seu Augusto!"

Ele e Dora seriam amigos, estava decidido, era drama demais, não que ele não suportasse dramas, com Luisa passara por coisas que seus amigos jamais imaginariam, mas Dora precisava organizar sua vida e ele também. Ele não poderia se afastar dela e nem queria nada além disso ou não podia querer. Levantou-se e falou com seu Rafael que iria a biblioteca, estava no horário de intervalo.

Chegando lá foi procurar os livros que iria precisar para as provas, português seria uma matéria deliciosa, mas também iria requerer bastante atenção, matemática também. Foi andando pelas sessões, procurando, ouvira pessoas entrando, mas estava distraído, continuou percorrendo as fileiras e acabou se distraindo com um exemplar de literatura de Fernando Pessoa, seu poeta favorito, folheou-o e achou um poema demasiadamente intrigante e familiar. 

"Dá-me as mãos por brincadeira / Na dança que não dançamos,

Porque isso é uma maneira / De dizer o que pensamos.

Dá-me as mãos e sorri alto, / A vigiar o que rio,

Bem sabes que assim já falto / A pensar coisas a fio.

Não quero largar as mãos / Assim dadas por brinquedo.

Deixa-as ficar: há irmãos /Que brincam assim a medo.

Não largues, ou faz demora /A arrastar, a demorar, 

As mãos pelas minhas fora, / E já deixando de olhar.

Que segredos num contato! / Que coisas diz quem não fala!

Que boa vista a do tato / Quando a vista desiguala!

Deixa os dedos, deixa os dedos, / Deixa-os ainda dizer

Aqueles dos teus segredos / Que não podes prometer…"

Fechou o livro abruptamente com raiva. Esses poetas gostavam de ser óraculo da vida alheia. O que Fernando estava pensando quando escreveu isso? Deu mais uma lida na continuação, resmungou em protesto e continuou a procurar livros menos confrontadores.

De repente viu vir ao seu encontro a pequena Carol, se abaixou para receber o abraço da pequena.

- Ei, minha garotinha favorita no mundo inteiro. Como você está?

- Feliz de te ver mais um pouco triste. Dora não será mais minha babá. Sabe como é coisas da vida e logo, logo eu vou crescer e afinal de contas eu sei cuidar de mim, não sei?

- Eu acho é que você cresce rápido demais, isso sim. Podia dar uma pausa pra eu curtir mais essa sua inocência. A vida é tão complicada daqui de cima, pequena.

- Deve ser mesmo. Dora anda muito estranha, mas agora somos vizinhas, né? Não vai ser tãooooo difícil vê-la.

- É e você está aqui com sua mãe?

- Não, estou com Dora. Ela veio buscar livros pra estudar, foi naquela direção.

- Obrigado, Carol. Vou lá conversar um pouco com ela. Tudo bem?

- Tudo.

Ele se encaminhou para onde a menina havia lhe apontado, mas não a avistou. Estava olhando para um lado andando de costas quando foi certeiramente acertado por um livro na esquina de uma daqueles becos.

- Ai! - resmungou ele ao levar um livro no meio da testa de uma leitora desastrada e ao fixar melhor a vista depois do impacto da pancada, sentiu o ar ficar mais raro e precisou buscá-lo com mais força fazendo o sangue pulsar e o coração acelerar pra dar conta do novo ritmo sanguíneo. Dora ali na sua frente se desculpando por tê-lo acertado por acidente, ele tentou um mantra pra ficar mais calmo e respondeu:

- Tudo bem. Eu sei que foi sem querer. – Analisou Caio – Encontrei-me com Carol e ela me disse umas coisas sobre você não cuidar mais dela. – Caio olhou para ela e percebeu que ela tinha os olhos tristes – Poxa vida, Dora. –Ele sabia que provocara o tom daqueles olhos tristes e decidiu que teria de ser agora. – Eu preciso conversa com você sobre o parque...

- Não. – Dora o interrompeu negando com a cabeça – No momento eu não quero saber de mais nada. Abraça-me Caio. – Disse ela se entregando aos braços dele e ele a envolveu nos seus braços e aproveitou o momento de tê-la próximo a ele, ele precisava daquele abraço tanto quanto ela, muito. – Por favor, esquece o que aconteceu e continua sendo meu amigo. – Ela segurou no rosto dele e olhou nos olhos dele – Eu preciso de você.

Caio manteve o silêncio até Dora se sentir melhor para conversa. Ele não sabia se era uma boa idéia não resolverem o beijo do parque, mas como Dora estava enfrentando tantos conflitos preferiu esperar outro momento. Aquele abraço fora como um bálsamo e também uma rota de fuga confortável para o dilema que sentia. Era só uma atração desnecessária e tola, só isso, ia passar, a amizade ganharia mais força. Fernando Pessoa tinha de estar errado, ele com certeza estava.

- Então? – Dora recompôs-se e soltou Caio - O que faz aqui?

- O mesmo que você. – Ela olhou-o confusa vendo Fernando Pessoa em suas mãos – Livros pra estudar. – Ela fez sinal de que entendeu. – Como sugeri a gente pode estudar junto. 

- Ok. – Concordou ela.

Eles passaram uma meia hora selecionando livros, tinham limitações de livros a pegar, como seriam parceiros de estudo dividiram entre eles e fecharam com a recepecionista, como Dora tinha que devolver Carol, ele levou tudo pra casa quando saíram, ele se abaixou, abraçou a menina e olhou pra Dora tentando não ser expressivo ou significativo demais, haviam chegado a um lugar comum confortável, apenas amigos, se sentia melhor com isso, simples, sem complicações.

- Nos vemos mais tarde, narizinho.

- Tá seu chato! Até mais! - disse e se virou com a menina.

Ele a observou se afastar e garantiu a si mesmo sentindo paz e outra coisa irregular que não sabia definir. "Vai dar tudo certo." Ao passar perto da praça perto de casa viu uns garotos de sua idade calçando chuteiras pra jogar bola, se aproximou e perguntou:

- Ei, como tá a partida?

- Fala aí! Pô, meu time ficou desfalcado e vamos ter que reduzir aqui, os gêmeos não vão vir mais e o time do Franco também tá faltando um. Sabe jogar cara?

- Sou Caio, sou muito bom nisso por sinal e to precisando me divertir mesmo. Olha tenho dois parceiros pra completar teu time. Se me esperar trago eles rapidinho.

- Beleza cara! Vem sim, a gente espera!

Ele subiu rápido com as coisas e bateu no apartamento de Mel, Dora e Juliano. Este abriu a porta ele foi logo entrando com os livros pesados e deixando na mesa e depois se virou para olhar pra Juliano.

- Vocês são folgados pra caramba, hein? - reclamou Juliano.

- Calma, aí! Esses livros são da Dora, tecnicamente da biblioteca, pegamos emprestados e ela foi levar a menina pra mãe e eu os trouxe. Queria aproveitar pra te fazer um convite.

- Nem vem! Que não jogo nesse time.

- Pára de graça carcamano, gosta de futebol, não gosta?

- Pergunta se macaco quer banana. Já viu italiano não gostar de una buona partita di calcio.

- Por isso vim te chamar, o time ali da esquina tá precisando de uns caras pra completar. Você vem ou não?

- Seu amigo vai também?

Caio sentiu o terreno amistoso cair uns 10 graus, isso poderia não ser assim uma boa idéia.

- Isso é um problema? Mandela uniu um país com o esporte, estou apostando minhas fichas que pode funcionar com vocês dois.

- O dinheiro é seu! Mas não me importo, vou me trocar. - acho bem divertido, pensou Juliano com um sorriso malicioso no rosto.

- Perfeito vou chamar o Rodrigo.

Rodrigo reclamou que estava cansado que jogava mal e que isso de tentar juntar ele e Juliano por meio do jogo poderia ser má idéia e que ainda não estava muito feliz com ele por ter beijado Dora.

- Olha só! Eu já fiz as pazes com ela, somos apenas amigos. E estou doido pra entrar em campo, estamos precisando de um programa de macho pra variar, ficar limpando e cozinhando por mais goste não é 100% divertido e ambos sabemos que tem muito drama nesse andar o que significa que ao invés de ficar igual mulherzinha reclamando da vida, vou fazer o que qualquer homem da minha idade faria: deixar pra lá! Então você vem ou não?

- E é por isso que eu te quero longe da minha irmã.

- Pára a palhaçada que você sabe que eu sou bom rapaz. E deixar pra lá não significa que não me importo.

- Tudo bem, vamo'bora!

Chegaram lá rápido um cumprimento modesto de cabeça foi só o que Rodrigo teve de Juliano, ficou decidido que Juliano ficaria no time de Franco e Rodrigo e Caio no lugar dos gêmeos que faltavam. Juliano jogava bem, corria feito flexa pelo campo e a disposição de um touro. Caio era implacável nos primeiros 15 minutos tinha dado lances espetaculares para os seus parceiros sendo promovido a artilheiro do time. Rodrigo não jogava tão mal quanto dissera, era pura má vontade, ele era um excelente estrátegista e também foi transferido de seu posto pelo "técnico" do time que o deixou de cara com Juliano na marcação. Dali pra frente ele tinha que pegar a bola passar por Juliano e repassá-la antes que ele a tirasse dele. Caio ficara sem ter como defender Rodrigo, ele estava na extrema direita e ele na esquerda. O jogo ficou tenso, Rodrigo conseguira sair uma ou duas vezes, Caio marcara o primeiro gol devido a uma passada perfeita dele o que não deixou Juliano feliz, passou a ser um touro em campo, pesado e implacável, começou a pensar em abater Caio também, o garoto era bom e estava fazendo seu time perder. Ele conseguiu marcar um gol também, urrava e gritava feito um louco em italiano os outros do seu time acharam muito engraçado. A partida continuou quente e acirrada, Juliano não podia pegar Caio, embora quisesse pará-lo era Rodrigo seu alvo, entre empurrões e leves chutes na canela, lhe roubara a bola e marcara novamente, as divididas de bola estavam se tornando mais pessoais, ele acabou dando um carrinho em Rodrigo que caiu feio, e ao cair no chão ouviu seu nome gritado por uma voz ao longe, apertou bem os olhos em meio as gotas de suor e avistou Mel e Dora na platéia a menina parecia apavorada por ele estar apanhando daquele jeito e furiosa com o irmão que erguia as mãos e sinalizava que era só um jogo e em um gesto camarada ofereceu a mão pra Rodrigo se erguer.

- Vai chorar feito mulherzinha ou vai continuar no jogo. - alfinetou o italiano.

Rodrigo semi cerrou os olhos e se ergueu sozinho o encarando, parecia a cena entre Zidane e Materazzi, só que parecia que Juliano era o Zidane prestes a dar uma cabeçada em Rodrigo. Caio com os cabelos curtos e aqueles olhos verdes cintilantes parecia com Fabio Canavarro, pela forma como defendia a bola e o jogo e se juntou a eles quando viu as meninas, teve a impressão que Dora parecia não respirar, devia estar com medo, o problema de se aproximar é que ele não entendera o nível alto que a tensão estava, depois que ele provocara Rodrigo o sangue estava em ebulição.

- Não se mete Caio.

- Só uma dica isso é futebol, não Rugby! Vai ter alteração no time antes de um cartão vermelho ser lançado aqui.

Os dois olharam pra Caio com tamanha fúria que ele recuou acenando que avisou.

- Então joguemos feito homens! - grasnou Rodrigo.

A mexida parecia favorável, mas não foi, Juliano passou a marcar Caio, que em campo era tão louco quanto ele e os dois agora disputavam a bola. Caio conseguiu passar e Rodrigo fez gol, Juliano achou que não fora justo e que estava impedido, começou então uma encrenca enorme com os parceiros do time dele que entraram no clima, e partiram pra cima. No meio da confusão ele levou uma cotovelada e ele não quis saber se veio de Rodrigo ou não e partiu pra cima. Caio entrou junto pra defender apanhou também e isso não foi nada inteligente, quando ficava com raiva, seu sangue fervia muito rápido e tinha uma força bizarra, devido aos anos de trabalho na roça. Ele se meteu no meio dos dois vermelho de raiva puxou um pela manga outro pela gola e jogou um em cada canto dando um berro nos dois.

- Parou, AGORA! - todo mundo parou instantâneamente com medo dele, ele queria se acalmar, parar de tremer com a fúria que se acendeu, respirava fundo, quando viu as meninas já estavam invadindo o campo e isso o deixou envergonhado. Não costumava explodir desse jeito há tempos, sabe-se lá fora a adrenalina do jogo e a frustração de seu plano ter dado errado ou simplesmente a perda de controle ele se afastara de todos e um dos garotos do time dele lhe ofereceu uma garrafa d'água que ele bebeu metade num gole só e a outra jogou sobre os poucos fios loiros ainda ali, passou a mão no rosto e viu sangue, sentiu vontade de praguejar, mas conteve-se. Dora veio pra perto dele nada feliz e com uma das mãos na cintura disse: 

- Eu não acredito no que vi! - ao que ele avistou Mel tratara os outros dois de igual maneira, como crianças. Ele a olhou com uma cara nada feliz, mas não discutiria com ela, já estava irritado e estressado o suficiente e ela não tinha culpa, se levantou e passou por ela feito bicho se despediu dos outros caras e saiu rebocando Rodrigo e Juliano.

- Vamo'bora! - falou ele, os cinco foram pro prédio e o silêncio era terrível no elevador. Na porta Mel falou:

- Agora os 3 aqui. - disse ela abrindo a porta eles entraram e sentaram no sofá nenhum encarando o outro. Caio no meio dos outros dois pareciam meninos que estavam prestes a ficar de castigo.

Elas se posicionaram a frente deles de mãos na cintura.

- Olha, essa foi a expressão de testosterona mais ridícula que eu já vi! Caio, você quase matou os dois, logo você tão sensato e calmo.

- Me desculpe, eu perdi o controle, desculpa mesmo. Posso ir? Preciso de um banho.

- Não! Fica sentado aí, podemos precisar do serviço de Hulk novamente caso esses dois também não façam uma trégua. - falou Mel tentando evitar rir ao lembrar de Caio virando o bicho, foi realmente assustador, inesperado e totalmente eficaz. E todos os três agora carregaram uma boa marca da briga, pareciam crianças.

Dora providenciou a caixa de primeiros socorros. Rodrigo levantou a mão.

- Banho primeiro, depois eu mesmo me remendo.

- Vai se remendar agora, começando a pedir desculpas a Juliano eu vi ele estendendo a mão pra você se levantar e você não foi nada amistoso. - falou Dora e Juliano riu.

- Obrigado Dora. Pelo menos alguém do meu lado!

- Mas Dora, foi ele quem começou você não viu que ele me derrubou. - chiou Rodrigo.

- Isso acontece no jogo e não me agradeça Juliano, você agrediu Rodrigo sem nem ver quem tinha te acertado. E Caio… meu filho o que foi aquilo? Deve ter assustado a vizinhança toda. E agora estão os três arrebentados, Juliano com o joelho sangrando, Rodrigo com a boca arrebentada e você abriu o supercílio. Tá satisfeito?

- Eu achei que era boa idéia que ia ser divertido e todo mundo sairia dali amigo.

- Estou esperando, Juliano? Rodrigo? Não precisam começar uma love story, mas precisam ser no mínimo civilizados. - falou Mel.

- Sou seu irmão mais velho Melody! - reclamou ele.

- E daí?

- Ok, me desculpem rapazes. Era pra ser divertido e em parte foi, até eu ser arremessado no chão pelo grandão aí. - falou Juliano em parte envergonhado em parte se divertindo, pois Caio sentia ainda mais vergonha por ter perdido o controle do que maioral por ter apartado a briga.

- Já pedi desculpas por isso. - resmungou Caio de cabeça baixa Rodrigo aproveitou e emendou a zuação.

- Pô irmão, tu me jogou longe e eu não estava fazendo nada! - falou Rodrigo reclamando e vendo como Caio estava envergonhado de sua explosão momentânea.

- Então vão ficar no meu pé por conta disso? - explodiu Caio bem mais calmo

- Calma parceiro! Sério, contigo faço as pazes até sociedade. - falou Juliano.

- Acho que posso cozinhar por uma semana. - falou Rodrigo.

Todos começaram a rir porque Caio estava vermelho de vergonha, mas satisfeito do clima estar melhorando mesmo que fosse as suas custas.

- Vou aproveitar e fazer as minhas exigências. Vou pro chuveiro primeiro! - disse se levantando.

Quando saíram do banho, as meninas foram fazer curativos neles, Dora já ia cuidar de Caio e Rodrigo entrou na frente.

- Dora, para prosseguir com a paz mundial podia curar seu amigo aqui e deixar o Hulk pra Mel.

- Entendi, muito sensato de sua parte. - e olhou de rabo de olho pra Mel que aprovou com a cabeça dizendo estar tudo bem.

- Idiota. - sussurrou Caio ao passar por Rodrigo e ir pra Mel.

- O que está acontecendo? - perguntou Mel pra Caio enquanto passava o cotonete com remédio no supercílio dele.

- Ele está incorporando o Juliano pra cima da Dora.

Mel riu baixinho.

- Faz bem um pouco de empatia pra variar. Ele no meu lugar, você no lugar dele e eu não tenho nenhum outro lugar pra ir. - falou Juliano passando as gases pra irmã terminar o curativo de Caio.

- É bom ver que seu senso de humor voltou irmão.

- A idéia do garoto não foi de toda ruim. Descobri que teu pretendente a namorado é um verdadeiro perna de pau. E você certamente teria vaga no Juventus! - apontou pra Caio.

- Esse cara acabou de ser promovido a melhor amigo. - falou Caio.

- Ah é vai roncar no ouvido dele então. Dá pra ouvir de porta fechada!

- Tá vendo e sou eu que não presto na parada!

- Parou que senão quem vai virar Hulk aqui sou eu! - falou Dora e todos riram debochando dela, menos Caio que conhecia o geniosinho dela.

- Tão rindo que vocês nunca viram essa daí brigando pelo preço do açúcar.

Ela voou com uma almofada na cara dele acertando um machucado, ele gemeu fazendo ela correr pra perto dele em instinto maternal.

- Ai!

- Desculpa doeu? 

- Um pouquinho. - falou ele com voz de dengo, Rodrigo pigarreou. - To bem! To ótimo! Já passou.- reafirmou com voz firme.

….

Luisa na agencia se senta em sua mesa pondo as mãos na cabeça em desolação. Vira-se para a janela quando Thais entra como sempre afobada com trezentas informações quando percebe que o clima não está nada bem.

- Lu, o pessoal da campanha de jóias está aí de novo e nada feliz. Não tem uma modelo que sirva, foram todas rejeitadas. Ninguém tem o perfil deles e… Ei, Lu? O que houve?

- Eu o estou perdendo, Thaís. Eu sei que estou.

- Pra quem gente?

- Ele gosta dela, e o pior ele tem razão em gostar, ela é tão o jeito dele.

- Primeiro, pára! Você é linda demais pra ser insegura e segundo, você me disse que a história de vocês ainda não está resolvida. Vai lá beija aquele homem que ele rapidinho lembra que é com você que ele tem que ficar.

- Thaís não é bem assim, ele não é qualquer um pra eu manipular. Eu quero que ele fique comigo por que ele quer e não porque eu fiz alguma coisa.

Bruno entra na sala e informa que as duas estão sendo chamadas na sala de reunião. Thaís faz uma careta pra Luisa e se vira pra Bruno com o seu melhor sorriso e anuncia:

- Estamos indo, Bruno querido.

Na sala de reuniões da agência Luisa e Thaís estavam apreensivas. O cliente tinha saído da sala com o chefe com uma cara nada amistosa e elas não se sentiam bem na própria pele agora, já tinham sido 30 garotas rejeitadas, isso estava saindo de controle Luisa costumava acertar nas escolhas.

- Meninas, sabem o quanto aprecio seu trabalho. Luisa sempre acertou nos perfis de escolha. O cliente é bastante seletivo, e está querendo reposicionar sua marca para um público alvo mais jovem, ele precisa de um rosto menos sensualizado, uma menina delicada a própria gata borralheira se querem saber, a menina de beleza simples realçada pelo glamour. O casting de vocês está praticamente esgotado, achem uma new face rápido preparem e tragam. Não costumo me arriscar assim, fora do casting, mas é necessário. Essa conta é valiosa pra nós. Vocês tem uma semana pra encontrar um rosto e mais uma para prepará-la.

- Uma semana pra caçar uma garota?

- Cala a boca Thaís. - sussurrou Luisa apertando o braço da amiga. - Uma semana está perfeito, Cláudio.

- Era o que queria ouvir. Boa sorte.

Na sala de Luisa, Thaís parecia que abriria um buraco no chão de tanto que andava de um lado pro outro, Luisa procurava uma aspirina dentro da bolsa quando se deparou com o papel com o endereço de Melody.

- Thaís, vamos sair daqui, temos uma semana pra encontrar uma garota e tenho uma em mente que talvez tenha este potencial.

- Acho bom estar certa desta vez, porque eu estou a ponto de dar piti.

- Vem comigo.

Elas chegaram a cafeteria e se sentaram. Luisa avistou Melody conversando com alguém de costas pra ela, Mel a viu sorriu e sinalizou ela voltou-se para Thaís que estava inquieta e irritada. Dora a viu e não sabia por onde fugir Mel a deixara ali pra falar com… ela? De onde Mel conhecia Luisa e como pareciam duas antigas amigas? Ela tentou fingir que mexia na bolsa de cabeça baixa escondendo-se entre o próprio cabelo quando esbarrou num outro garçom e derrubou cappuccino numa outra cliente, os óculos caíram e ela se abaixou pra pegar e eles estavam aos pés de Thaís que o pegou, ela começou a erguer a cabeça e olhar para a morena que a ajudara e que de repente abrira um sorriso imenso pra ela arregalando os olhos em surpresa.

- O-obrigada! Me desculpe.

- Dora? - perguntou Luisa, Dora se recompôs rápido e se ergueu pegando os óculos e ajeitando o cabelo.

- Oi, Luisa! Mel, desculpa o transtorno, moça desculpe, eu pago um outro café pra senhora. Toma aqui Mel, tenho que ir. - falou ela entregando uma nota de cinquenta a Mel, embaraçada pela confusão e aliviada daquilo ter sido a desculpa perfeita para não ficar e confraternizar com Luisa e Mel que ficou olhando abismada fazendo o link de que esta Luisa amiga de sua mãe era então a Luisa de Caio, o tormento de Dora. O mundo pequeno, pequeno demais.

*casting= perfil de modelos no catálogo da agência

*newface= modelo novata, sem agente, que faz trabalho por fotos e/ou portfolio.

2 comentários:

D disse...

Ameii ameeii Aaameeeiii! =D

D disse...

Ameii ameeii Aaameeeii! =D

 renata massa