Pessoas queridas, estou divulgando o primeiro capítulo do meu romance já publicado. É apenas o começo... Na verdade, ele mostra apenas um pouquinho do que é a história. Pois ela é cheia de mistério e coisas incríveis que acontecem no meio do caminho.
Fiquem a vontade, aprecie essa degustação. Espero que gostem!
1
Melissa bateu
a porta do seu quarto, frustrada mais uma vez por discutir com sua mãe. Jogou-se
na cama e abafou seu grito mordendo o travesseiro, numa tentativa de expulsar
aquela raiva momentânea.
Não entendia o que acontecia. Cada vez que conversavam acabavam se
desentendendo. Temperamentos parecidos? Talvez... Mas, ainda assim,
acreditava que essa não fosse a resposta. Afinal, apenas ela sentia-se assim.
Suas irmãs
tinham o temperamento oposto do seu. Eram mais impacientes,
nervosas, eram de falar as coisas na cara mesmo. Tinham mais
atitude, às vezes, até exageradas. Não que Melissa não fosse de
atitude, apenas demorava para falar algo que requeresse um
confronto. Odiava isso. Preferia ficar no seu canto, caladinha, engolindo
sapos, do que abrir a boca e machucar alguém. Garanto-lhe que saía pior que
a “tal” pessoa. Resumindo, ela era
muito sensível e, às vezes, ingênua. Isso geralmente a
atrapalhava. Só, por favor, não peça para ela ser diferente. O que
posso dizer? É contra a sua natureza.
Levantou-se
da cama e se encarou pelo espelho. Era loira da pele bronzeada, resultado de um
pai alemão e uma mãe cabocla. Amava a facilidade que tinha de ficar bronzeada,
embora raramente fizesse isso. Penteou o cabelo e fez um coque. Agora estava
pronta para ir trabalhar. Mais calma do que antes, deu um sorriso para si mesma
e saiu de casa.
Melissa
sentiu aquele cheiro que amava ao jogar um pacote de coco ralado na
máquina de sorvete, que se misturou rapidamente aos demais ingredientes. Agora
era a hora perfeita para o chocolate fazer a sua parte. Hum... Perfeito!
Depois
de um tempo, estava tudo pronto. Melissa suspirou fundo e pegou uma pequena
tigela para provar o seu trabalho. Estava realmente delicioso...
Escutou a
sineta da porta. Clientes à vista.
Largou o
sorvete e foi para o balcão de atendimento. A sala não era muito grande, mas do
tamanho suficiente para que coubessem dois freezers, o balcão e uma estante com
alguns salgadinhos. A fachada, como toda a estrutura, era branca, simples,
porém bonita. Não havia propriamente uma placa, mas colocaram o nome escrito na
parede ao lado da porta grande de entrada “Sorveteria Quero Mais”. Quem deu o nome
foi a mulher já falecida do seu Cristóvão, seu patrão, como que um incentivo
aos sorveteiros de plantão. Entretanto, o sorvete foi tornando-se tão bom, que
muitos concordavam com o nome.
Havia
cinco clientes para atender, porém, pelo canto do olho percebeu mais
movimentação. A fila se estendia e Melissa estava ficando nervosa por não
conseguir suprir, afinal, era apenas uma contra um exército desejoso por
aqueles sorvetes majestosos, num calor insuportável.
Era
final de janeiro e, como sempre, aquele calor que só o povo de Jaraguá do Sul
conhece. Às vezes, era insuportável, e a sorveteria aproveitava esse momento, o
que rendia trabalho em dobro naquele calor horrível.
No
momento, apenas vendiam sorvetes em potes, o que facilitava as coisas quando
estava sozinha. Seu Cristóvão estava querendo implementar um buffet de sorvete.
A ideia era legal, mas não para o bolso atual da empresa. Não havia como
contratar ninguém. Ficava feliz por seus argumentos serem aceitáveis e o assunto
não era tocado durante um mês. Por trabalhar há cinco anos na sorveteria, tinha
esse poder, seu patrão sempre a escutava.
Ainda estavam se reerguendo de um assalto que
acontecera há dois meses. Tudo foi roubado e, desde então, a única funcionária
que havia além de Melissa pediu demissão, traumatizada pelo acontecido. Foi num
sábado de manhã. Um homem fingindo-se de cliente fez um pedido grande. Enquanto
a funcionária foi fazer o pedido, o bandido aproveitou e trancou a porta para
que ninguém mais entrasse. Quando voltou com tudo pronto, ele apontou a arma,
ordenando que lhe desse todo o dinheiro do caixa.
Ficaram
totalmente atordoados quando viram o estado da pequena fábrica. Além do
dinheiro do caixa, haviam roubado os dois freezers que estavam na parte de
dentro e mais o outro que ficava na loja. E, o pior, a máquina de fazer
sorvete. Como se já não bastasse o sofrimento de seu Cristóvão que perdera sua
mulher recentemente...
Isso
tudo vinha em sua mente, nos sábados pela manhã. Apesar de, às vezes, ficar com
um pé atrás a cada cliente que entrava, ainda assim, tentava manter-se tranquila
e procurava não pensar muito nisso, afinal, seu sustento e o do seu Cristóvão vinha
das vendas dos sorvetes.
Verificou
a fila e ficou admirada, já estava atendendo ao último cliente. Foi tão rápido
que nem havia percebido. Foi tomar um copo de água, estava com a boca seca de
tanto falar. Escutou a sineta novamente. Um jovem que aparentava ter em torno
de 25 anos entrou. Seu rosto parecia familiar, talvez fosse um cliente antigo, mas
não teve certeza.
O jovem
sorriu e observou o freezer.
− Tem mais,
além desses potes?
Melissa
olhou confusa.
− Por quê?
− Preciso
de 50 potes.
Quase caiu
com o impacto daquilo. Desconfiou por um instante. E ele pareceu ler seus
pensamentos.
− São para
os meus parentes. Chegaram de surpresa e, acredite, a família é enorme − Sorriu
suavemente, fazendo-a estremecer. Aquela sensação perturbadora de perigo
instalou-se nela.
Fez
a contagem dos potes que estavam no freezer. Faltariam pelo menos 30. Teria de ir
para a outra sala. Havia mais sorvete pronto, mas estavam em um recipiente
grande. Teria que pesá-los nos potes pequenos para serem vendidos.
− Vamos
fazer o seguinte. Vou pagar tudo agora e daqui a pouco volto. Pode ser?
− Ok.
Ela
permaneceu desconfiada, com receio de que fosse outro assalto. Ligou para seu
Cristovão assim que o jovem saiu. Ele compreendeu seu estado e disse que
mandaria um amigo policial para ficar de olho.
Melissa
respirou fundo, procurando ficar calma.
Às 17 horas,
os potes já estavam prontos. Arrumou tudo em três caixas, aguardando a volta do
jovem, enquanto o policial estava perto da porta, observando o movimento da
rua.
Meia
hora depois, ele apareceu com três caixas grandes de isopor. Cumprimentou o
policial e encarou Melissa em
silêncio. Esta mostrou os sorvetes na caixa e assim que começou
a contar, ele a interrompeu colocando a mão sobre a caixa, impedindo-a de fazer
a contagem.
− Não
precisa disso. Confio que os 50 potes de sorvetes estão aí. − Seu semblante
estava sério, muito diferente de antes.
Colocou as
caixas dentro do isopor e levou uma por uma até o carro. Na última caixa, parou
e perguntou se estava tudo certo. Melissa respondeu que sim, um pouco sem graça
pela presença do policial.
− Sei o que
vocês pensaram e não sou esse tipo de gente.
Ela tentou
argumentar algo, mas nada saiu de sua boca a não ser lamentações por fazer um
cliente se entristecer. Sabia que tinha as suas razões e ele, as dele.
Olhou
para o dinheiro na caixa registradora. Pelo menos, daria para pagar a conta da
luz e a matéria prima da terça-feira. A situação não estava nada fácil na
sorveteria do seu Cristóvão e Melissa fazia de tudo para ajudar.
Apesar de
ser a única a trabalhar no recinto, se esforçava para deixar tudo em ordem. Não era apenas uma
funcionária, havia se tornado amiga daquele pobre homem que estava com a vida um
caos.
Melissa
suspirou fundo ao ver o jovem partir em seu fusca. Parecia um homem gentil além
de atraente, mas percebeu isso apenas depois, quando relembrou daquele estranho
momento. Provavelmente, não iria mais voltar...
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Um comentário:
Eu já li o livro e amei, mas quero em breve adquirir meu exemplar :D
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