27 de agosto de 2013

Capítulo 24 - O Guardião





Melody encarava fixamente o espelho a sua frente completamente indecisa. E, enquanto seu reflexo devolvia o mesmo olhar intenso, ela tentava chegar a uma conclusão.
Suspirou.
Não foi nada inteligente da parte de Rodrigo olhá-la daquela maneira com o irmão logo ao lado. Ela ficou totalmente sem graça quando o mesmo cochichou ao seu ouvido: Parece que teremos uma longa conversa. Ela mordeu o lábio sem ter coragem de olhar novamente para Rodrigo. Também não havia sido nada apropriado ele ficar enviando mensagens para ela pedindo para terem uma conversa que, definitivamente, não aconteceria por uma única razão: Juliano já havia percebido apenas em poucos segundos que estava acontecendo algo entre os dois, e isso não era nada bom. Foi o modo como Juliano havia olhado para ela que a fez ter certeza de que o irmão compreendera a situação. Ela era como um livro aberto para ele.
Tudo ainda estava meio confuso para ela. Foi estranha a forma como Rodrigo estava agindo, no entanto, ao apresentar Juliano a ele, percebeu em parte qual era o motivo da sua irritação. Ela só não tinha certeza absoluta se estava mesmo certa. E, é claro que o seu irmão não estava facilitando as coisas, ela percebeu quando ele estava prestes a dizer algo nada amigável para Rodrigo, um pouco antes deste anunciar que o jantar havia sido queimado. Respirou aliviada, por pouco tempo. Então, foi aí que Rodrigo teve a brilhante ideia de enviar as mensagens. E agora ali estava ela, sem saber o que fazer em relação ao pedido que ele lhe fizera. Estava claro como água que ela não iria a lugar nenhum com ele, pelo menos se a intenção de Rodrigo era continuar respirando, pois se não, seu irmão poderia dar um jeito fácil nisso. Juliano não era violento, mas tudo mudava quando se tratava do bem estar da irmã.
Tomando uma decisão definitiva, saiu do banheiro, pronta para dizer não a Rodrigo, quando percebeu que todos haviam sumido, quer dizer, todos menos Rodrigo que a olhava com um sorriso. Então, por aquele momento, decidiu esquecer qualquer coisa que a afligisse, e devolveu o sorriso sentindo-se feliz por estar enfim perto dele, e ficou inexplicavelmente fascinada ao perceber que ela estava certa; ele estava com ciúmes. No entanto, toda a magia do momento fora quebrada quando abruptamente todos chegaram, e Mel viu os olhos do irmão lampejarem na direção dela e Rodrigo antes de gritar seu nome em advertência. E mesmo Dora tendo tentado mudar o contexto da situação, Juliano fora mais rápido e concluiu tudo de uma só vez. Se antes tivesse alguma dúvida, naquele momento tudo ficou mais do que esclarecido. Ele conseguia distinguir uma péssima atuação de longe, e a de Dora, bem, fora dramática demais. Isso bastou. A impaciência dele era evidente para qualquer um, menos para Caio que parecia não notar nada de estranho na situação. Antes mesmo do jantar oficialmente chegar ao fim, ele deu um jeito de tirar Melody o mais rápido de perto do sujeito que ousara olhar para sua irmã. Como se ele fosse permitir que algo concreto fosse acontecer entre esse cara e a irmã.
Melody entrou no apartamento e mordeu o lábio inferior vendo o olhar fixo de Juliano sobre ela.
Por que está me olhando assim? – indagou relutante.
Eu não sou idiota, Melody. – ele respondeu num tom um tanto ríspido. – Não pense que engoli aquela história ridícula da Dora. Eu sei exatamente o que está acontecendo aqui... – afirmou passando a mão pelo cabelo, tentando se controlar ao máximo. – e vou logo avisando que não vou permitir, ouviu bem? – avisou.
Juliano, eu... – sua voz falhou transformando-se em um sussurro. – Eu não sei do que você está falando.
Ah, é mesmo? – debochou irritado, não acreditando em como ela poderia tentar enganá-lo dessa forma. Mas ele já deveria saber que algo estava errado, não, ele já pressentia que tinha alguma coisa errada, definitivamente, e, por esse motivo sem aviso prévio decidiu ver o que a irmão estava “aprontando”. – Não sei quantas vezes quer que eu repita que sei quando está escondendo algo de mim, Melody. Se bem que, nesse caso, a situação está bem evidente, não acha?
Melody nada disse, parecia que seu corpo estava petrificado no meu da sala enquanto o seu irmão dava um de louco e ficava gritando com ela por algo que realmente nem chegou a acontecer. Quer dizer, tinha o beijo, mas definitivamente ele não precisava nem deveria saber sobre ele.
Juliano andava de um lado para o outro a deixando tonta, e, de repente como se ascendesse uma luz na sua cabeça girou nos calcanhares e a encarou.
Eu quero aquele cara bem longe de você, Melody! – ordenou com o tom de voz alto e decidido.
Julian, quer ficar calmo. Isso é totalmente desnecessário, você está exagerando. – tentou argumentar. – Não está acontecendo nada...
Juliano soltou uma risada no mínimo cínica.
Nada?! Tem certeza? Eu vi o jeito que ele estava olhando para você. Por que acha que resolvi ficar por tempo indeterminado? Percebi o que estava acontecendo no momento em que o vi olhando para você daquela maneira hoje cedo, e o que acabou de acontecer... – respirou fundo. – Eu não estou gostando nada disso. Você só pode ter perdido todo o juízo. – esbravejou, Mel sobressaltou-se assustada. Era a primeira vez que ele gritava com ela, isso a deixou um pouco chateada e ferida. – Então, vai ficar aí parada, não tem nada para me dizer?
Melody o encarou com os olhos estreitos.
Não sei o que dizer. Você já concluiu tudo sozinho, certo? – respondeu irritada com essa situação absurda.
Vendo a expressão da irmã, Juliano percebeu que havia ido longe demais. Ficaram um longo momento em silêncio apenas olhando um para o outro. Juliano sentia-se péssimo por ter falado com Melody daquela forma estupida. E Mel não conseguia ficar realmente brava com ele, afinal ela conhecia os motivos por ele ser tão protetor com ela, mesmo que de maneira excessiva.
Ele fechou e respirou fundo e mantendo a calma, falou:
Melody...
Mas fora interrompido por Dora que havia acabado de entrar no apartamento e olhava de um para o outro, desconfiada.
Desculpe, estou atrapalhando? Posso voltar depois.
Não, Dora. Está tudo bem. – Mel garantiu sorrindo.
Sentindo-se exausto por causa da longa viagem, Juliano despediu-se rapidamente de Melody e Dora com um boa noite murmurado. Mas não sem antes acrescentar:
Esta conversa ainda não acabou. – com a voz calma, sem ameaças. E saiu para o seu quarto, que ficava ao lado do de Mel.
Dora franziu a testa.
Hum, acho que a minha historinha não deu muito certo, não é?
Não. – Mel admitiu com um sorriso fraco. – Mas não foi sua culpa, o meu irmão é profissional em me ler. Mas, mesmo assim, devo agradecer, você evitou uma situação bem pior no jantar.
Ele parece bem ciumento. – Dora objetivou.
Na verdade, é bem mais que isso. – Mel respondeu suspirando. – Boa noite, Dora!
Boa noite!
Algum tempo depois em seu quarto, Melody encontrava-se totalmente desperta, olhando demoradamente para o teto sem conseguir dormir com os pensamentos confusos. Ela entendia perfeitamente o modo como seu irmão agiu, ele ainda era o mesmo e ela o conhecia muito bem. Assim como ele a ela. Depois de semanas longe daqueles olhos azuis-acinzentados e meigos, ela sentiu-se imensamente feliz ao vê-lo parado olhando para ela com aquele sorriso bobo que só ele tinha. O apresentou rapidamente aos amigos – nesse caso, os dois que sobraram, pois Rodrigo por alguma razão saíra sem falar nada, deixando-a um pouco triste. Rafael e o irmão ficaram conversando durante algum tempo, sobre Melody e o seu recém-descoberto talento desconhecido para a música, que ela não tinha certeza ser realmente desconhecido pelo luthier. E ao contrário do que ela esperava, Juliano fora simpático com Caio, e este oferecera um jantar para recepcionar o mais novo visitante e vizinho.
Os dois ficaram jogados no sofá esperando Dora para dar a notícia de que Juliano ficaria no apartamento delas, enquanto isso, Mel e o irmão conversavam sem parar.
Você realmente está aqui. – falou maravilhada por estar finalmente na presença dele, e sem conseguir parar de encará-lo, como se quando ela desviasse os olhos por um momento ou picasse ele pudesse desaparecer.
É claro que estou. – falou apenas.
Quando você chegou? Onde estão suas malas? Como conseguiu me encontrar na luteria? Por que não me disse que estava vindo? E por que está me olhando assim? – encheu o irmão de perguntas.
Desde quando você fala tanto, garota? – riu divertindo-se. – Certamente, isso se deve a quantidade de cafeína que está consumindo no seu novo trabalho, estou errado?
Ah, isso... eu ia contar. – mordeu o lábio.
Melody, tínhamos um acordo, e você não respeitou nenhum dos meus termos, inclusive o principal deles; nunca me deixar sem notícias suas.
Desculpe-me. É que aconteceu tanta coisa ultimamente. Não precisa fazer essa cara, eu estou bem. – avisou rapidamente antes que o irmão surtasse sem motivo. – O problema foi outro.
De maneira resumida, contou sobre o que aconteceu com Dora. Juliano a abraçou apertado sabendo como a morte da mãe da amiga tinha mexido com a irmã. Depois de um momento em silêncio ele falou.
Trabalhando numa cafeteria e morando em um condomínio que, aliás, não me parece nada seguro. Outro termo quebrado. Será que vou ter que começar a listar? – indagou.
Ela deu de ombros.
Eu gosto do meu trabalho. Também gosto de morar aqui, é tranquilo. – sorriu. – Aqui ninguém me conhece, sou invisível, de certa forma. Não sou a filha de um dos milionários mais respeitados da Itália, nem a jovem excepcionalmente talentosa que com apenas quinze anos conseguiu entrar para a Orquestra Sinfônica de Roma. – suspirou sentindo-se livre dos inúmeros olhares que sempre a cercaram. – Aqui sou apenas uma garota comum. Sou apenas a Mel.
De jeito nenhum. Você nunca se passaria por uma garota comum, muito menos seria invisível. – Juliano retrucou. – Você tem um brilho próprio, Mel. Esse é o problema. – Mel levantou uma sobrancelha sem entender o comentário. – Bem que você poderia ser um pouco menos bonita e gentil. Sério, seria maravilhoso! – ele piscou um olho para ela e gargalhou fazendo-a revirar os olhos. – O que me preocupa realmente é se o nosso pai descobrir que você está morando nesse lugar.
Ele não precisa saber de cada passo meu. Nem onde estou.
Isso eu já não posso garanti, ele já sabe que você veio para o Brasil. – revelou. – Na verdade ele já havia descoberto há algum tempo, mas você o conhece; sempre ocupado. – zombou.
A informação de que seu pai já sabia onde ela estava a pegou de surpresa.
Por que não me contou? – questionou o irmão.
Bom, além do fato de você dar uma de Houdini e resolver desaparecer e não atender as minhas ligações, eu não sabia. – justificou-se.
Quanto tempo pretende ficar, realmente? – perguntou sem rodeios, a ideia de tê-lo por perto era maravilhosa, mas ele ter aparecido logo agora era um pouco estranho. Ela o conhecia bem para saber que tinha mais nessa visita do que ele queria contar. E mesmo sem saber o motivo original, sabia que ela própria criara um novo: Rodrigo.
Não sei, o tempo que for necessário. Por que, já esta querendo se ver livre de mim? – ele o encarou franzindo a testa e comprimindo os lábios.
Não. – garantiu e o abraçou. – Estou feliz que esteja aqui, de verdade. Senti tanta a sua falta.
E toda a perfeição fora embora. Por que o seu irmão tinha que ser tão... Argh! Será que ele não podia ser um pouco menos cuidadoso? A resposta era; não, claro que ele não conseguia deixar de ser o super irmão protetor que internamente se culpava por tudo o que acontecera entre ela e o ex. Juliano achava que poderia ter evitado o sofrimento que ele causara a irmã, mesmo Melody tendo garantido que ele não tinha culpa nenhuma.
Sem consegui dormir, levantou e foi até a cozinha e deu de cara com Juliano e Dora abraçados de uma maneira que ela não gostou.
Aconteceu alguma coisa? – perguntou com cautela. – Dora, você está bem?
Ah, desculpe, Mel. – Dora saiu rapidamente dos braços de Juliano passando as mãos no rosto. Mel chegou à conclusão de que ela estivera chorando, e sentiu-se uma idiota por pensar besteiras. – Acabei acordando você, né?
Não se preocupe com isso. Eu não estava conseguindo dormir. – admitiu dando de ombros.
Dora se recompôs e sorriu.
Bom, já está tarde, eu vou indo para o meu quarto, tenho que dormir um pouco, afinal amanhã é um novo dia. Boa noite! – falou rapidamente e saiu.
Mel e Juliano ficaram em silêncio por um instante.
Por que estava abraçando a Dora? – ela perguntou por fim, ainda intrigada.
Juliano abriu o seu sorriso bobo, erguendo uma sobrancelha, indagou:
Ciúmes?
Melody revirou os olhos.
Estou falando sério, Julian. – avisou. – Por que ela estava chorando? – sondou.
Após Juliano contar sobre a conversa que teve com Dora, Melody o encarou.
Eu disse para não tocar nesse assunto. Não é fácil para ela.
Percebi. – disse apenas. – Por que a insônia?
Você sabe.
Eu sou um idiota, não é? – Juliano falou caminhando até ela. – Vem cá. – disse a abraçando. – Desculpe-me, não deveria ter falado com você daquele jeito. Não consigo evitar ser o irmão chato e equivocando que acha que pode impedi-la de viver.
Tudo bem! – Mel deixou se envolver pelos braços protetores, mesmo que excedidos, do irmão. – Temos um pacto afinal, certo? – lembrou sorrindo para ele.

Melody olhava encantada e assustada para o mundo novo que estava a sua volta. Não conseguia se sentir a vontade com aquele lugar, nem com o homem que estava ao seu lado e que insistia em segurar a mão dela. Mesmo para uma garotinha, ela tinha que admitir que ele estava tentando ser um bom pai. Ainda a segurando pela mão ele sorriu para ela, a convidando para descer do carro, quando fez isso e colocou os pés no chão de paralelizados seus olhinhos brilharam com o que viu. Era um castelo enorme, igual aos que vira nos filmes de princesas. Ficou alguns minutos decorando cada detalhe, até o seu pai chamá-la para entrar. Ela sorriu. No entanto, o castelo não era o que ela esperava. Ele era grande demais e a fazia ter pesadelos. Mel queria ir embora dali, não conseguia se adaptar a nada daquele lugar. E nada era diferente, ela estava sempre sozinha. Seu pai dissera que seus irmãos – que até então ela não sabia que tinha. – chegariam em breve. E chegaram. Ela gostou dos gêmeos, contudo, ficou incomodada com o modo como o seu outro irmão a encarava, era estranho, ele parecia não estar olhando para lugar nenhum, mas não desviava os olhos dela. Melody tinha certeza de que ele não gostava da presença dela ali.
O que Melody não sabia era que, Juliano tinha medo de chegar perto dela. Ela parecia tão delicada e era tão bonita que assemelhava-se a uma boneca de porcelana, que poderia quebrar a qualquer momento de tão frágil. Ele ficava sempre a observando de longe, muitas vezes escondido, e sorria toda vez que a ouvia falar algo.
Mas, Melody não tinha se acostumado ainda àquele lugar estranho. Era como se todos tentassem encaixá-la na família, como uma peça de quebra-cabeça extra. E seu irmão mais velho não gostava dela, esse pensamento a deixava triste, e os pesadelos não a deixavam dormir direito, e ela estava sempre acordando todos do castelo.
Então, certo dia resolveu que não iria acordar ninguém, e para isso, não iria mais dormir. Ficara horas brigando com suas pálpebras que insistiam em fechar a cada segundo, e acabou dormindo enfim, acordando novamente aos gritos. E para a sua surpresa, ele foi quem viera lhe salvar dos monstros dos seus pesadelos.
Melody? – Juliano chamou se aproximou aos poucos da irmã, que estava tremendo. – Você quer que eu fique aqui com você? – ele perguntou baixinho.
Eu não estou com medo! – ela exclamou no mesmo tom de voz, estava mentindo, mas não queria que ele percebesse e a odiasse ainda mais por tê-lo acordado.
Mas eu estou. – ele mentiu para fazê-la se sentir melhor. Pela primeira vez ela sorriu para ele. – Posso ficar aqui com você?
Acho que sim. – ela falou ainda sussurrando. − Juliano?
O quê? – ele indagou após subir na cama e sentar ao lado dela.
Por que estamos falando baixinho?
Eu não sei. – ele admitiu sorrindo, e ela gargalhou um pouco.
Ela sabia que ele estava mentindo, e que não estava com medo coisa nenhuma. E a partir daquele momento ela descobriu que ele não a odiava. Juliano ficou ao lado dela até Mel conseguir dormir profundamente. Ele murmurava uma canção que ela não podia entender e sua voz não era nada apropriada para uma canção de ninar. Mas Melody gostou da música mesmo assim, ele percebendo que finalmente a irmã estava dormindo falou:
Não se preocupe, Melody. Eu vou proteger você de qualquer coisa, sempre. – prometeu sinceramente.
Melody abriu os olhos e fitou-o.
Eu posso proteger você também? – ela perguntou querendo ser justa.
Sim. – Juliano sorriu, um sorriso que ela aprendeu a gostar desde então. – Vamos proteger um ao outro.

A partir daquela noite em que Juliano ficou cantarolando desafinadamente para Melody dormir, eles se tornaram cada vez mais próximos, quase inseparáveis. E tudo começou ali, uma pequena promessa entre irmãos que, para qualquer outra pessoa não era nada demais, mas, que para eles funcionava como um pacto onde ambos eram responsáveis pela segurança um do outro.
Melody pegou o cobertor e se aconchegou ao lado de Juliano no sofá, ambos com canecas de chá na mão, o vapor levantando o aroma mais do que bem vindo para uma noite de insônia coletiva como essa. Fora um longo dia, mais ele ainda não estava nem perto de acabar.
Hum... e a Estela? – Mel perguntou casualmente a Juliano.
Ah, você sabe. – deu de ombros. – Aproveitando que possui um cartão de créditos sem limites, e esquecendo que tem filhos. – sorriu sem nenhum humor.
Estela era a mãe de Juliano e dos gêmeos, Pedro e Isabella. Fernando, o pai de Melody, havia conhecido Estela ainda na faculdade, casando-se com ela após alguns anos de namoro. E desde o início o casamento não fora muito bem, nem mesmo com o nascimento do primogênito. Estela era um espirito livre, como autodeclarava, e ficar presa a um casamento que não valia a pena, não tinha nenhum sentido. Por isso optou por sugerir o divórcio, que pelo o quê Melody sabia, foi dado de bom grado por Fernando. Desde então, Estela tem viajado mundo a fora gastando o dinheiro do divórcio perfeito. Ela não conhecia muito bem a história entre a sua mãe e Fernando, já que ele nunca tocou no assunto, e Mel não tinha certeza se queria ouvir que havia nascido de uma aventura sem sentindo. A única coisa que soube, pela espirituosa Estela, foi que, após alguns anos, Fernando e Estela resolveram tentar mais uma vez, e logo depois vieram os gêmeos, e novamente o divórcio. Melody não achava a mãe dos seus irmãos uma má pessoa, ela era apenas despreparada para ser mãe, no entanto, de um jeito torto, ela tinha seu próprio jeito de o ser.
Mel mordeu o lábio sabendo que não deveria ter tocado no assunto.
Julian...
Eu estou bem com isso, Melody, você sabe. – garantiu. – Só não acho justo com os gêmeos, principalmente com a Isabella. Ela sente saudade da mãe, e agora de você. – ele olhou para ela, Melody se encolheu sentindo-se mal por não estar perto da sua irmãzinha, que ao contrário do seu irmão Pedro, que era independente e possuía um gênio tão forte quanto o de Juliano, Isabella era sensível e via em Melody um pouco do que gostaria de ver na sua mãe. Melody a adorava, a vira crescer e nunca havia se separado dela, até agora.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, até Mel o quebrar indo direto ao ponto que os trouxeram ali.
O Rodrigo é... diferente. – falou mordendo o lábio inferior, evitando olhar diretamente para o irmão. – Será que não pode apenas confiar em mim e na minha avaliação?
Sinto muito, mas você sabe que não posso fazer isso. Da última vez... – Juliano fez uma pequena pausa e respirou fundo, sabendo que suas palavras poderiam magoar a irmã. – você se enganou. Melody, eu não consigo não me preocupar com você. Como poderia se tudo o que mais quero é protegê-la? Talvez eu esteja sendo... exagerado, mas se soubesse que algo desse tipo poderia acontecer, nunca teria permitido sua vinda para o Brasil.
Eu não planejei nada disso. – sua voz saiu como um sussurro fraco. – Mas... eu gosto dele.
Juliano a encarou com atenção.
Infelizmente, acho que é bem mais que isso, certo?
Ela nada disse.
Eu só não quero que aconteça o mesmo que ocorreu entre você e o Victor. – afirmou. – Esse Rodrigo pode até parecer uma pessoa honesta e diferente como você mesma disse, mas entenda que eu não vou permitir que qualquer um que possa lhe oferecer algum risco se aproxime de você.
Melody não se surpreendeu com a declaração de Juliano, já esperava por essa inflexibilidade. Então, bebericou um pouco do liquido quente, não conseguindo controlar sua expressão o suficiente para olhar para ele, então resolveu mudar de assunto, em parte.
Por falar no Victor. Você conseguiu, ele parou de me ligar. O que você fez Julian? – vendo que ele demorava em responder, olhou em sua direção. Ele parecia distante, como se tentasse desviar da resposta, sabendo que Melody não gostaria dela. – Juliano?
Não fui eu quem fez. – ele defendeu-se rapidamente, a encarando falou. – Foi nosso pai.
Você contou para ele? Você prometeu...
Não! – contornou. – Quer dizer, não... diretamente.
Explique-se. – pediu com um suspiro.
Nós estávamos discutindo sobre você, é claro, e quando percebi acabei falando que o idiota do Victor estava te perseguindo.
Ele não estava... me perseguindo.
Ele inclinou a cabeça de lado arqueando as sobrancelhas.
Melody, você trocou o número do seu celular diversas vezes, treme só de ouvir ou pronunciar o nome dele, também sei que você estava evitando sair de casa porque inexplicavelmente ele sempre dava um jeito de aparecer onde quer que você estivesse. – Melody o encarou confusa, ela foi pega de surpresa com as afirmações. Ele não teria como saber nada disso, pelo menos, não se ela mesmo tivesse contado. E ela evitou falar sobre esse assunto para não deixá-lo preocupado sem necessidade. − Não me olhe assim, foi um dos nossos seguranças que me informaram há alguns dias. E isso, cara irmã, chama-se perseguição.
Os seguranças também estão sempre onde eu estou. – Melody murmurou.
Eles são pagos para isso. – ele retrucou.
O Victor não é uma ameaça. – ela assegurou. – É só um imbecil.
Que pode se transformar em um psicopata. – Juliano retorquiu novamente, não entendendo por que ela o defendia. – Eu sei que prometi não questioná-la sobre esse assunto, mas... seria mais simples se me contasse o motivo do término do relacionamento de vocês.
Não quero falar sobre isso. – ela admitiu. – Hoje não, por favor.
Juliano estava ficando impaciente com essa história. Há meses que tentava encontrar uma maneira de descobrir a verdade, e nunca conseguia. E Melody sempre se recusava a falar sobre o que aconteceu.
Você sabe que eu estou aqui, sempre vou estar não importa o que aconteça. – ele prometeu segurando a mão dela firmemente.
Eu sei, Julian. – recostou a cabeça no ombro dele e relaxou, indagando a seguir. – Afinal, o quê que... o papai fez? Nada que envolva a policia, um lago e um corpo não encontrado, espero. – tentou fazer piada.
Ah, não. O Poderoso Chefão foi mais sútil dessa vez. – Juliano brincou, ficando sério em seguida. – Na verdade eu não sei o que ele fez, depois de uma reunião na empresa ele chamou o Victor na sala dele e disse que eu não poderia estar presente. Bom, seja o que for que ele tenha dito ao Victor, me fez entender a expressão olhos flamejantes. Achei que ele poderia por fogo no prédio todo.
Ela revirou os olhos, e ambos riram baixinho para não acordar Dora. Tanta conversa, acabou deixando-os sonolentos e após um rápido boa noite, finalmente, conseguiram dormir.

♣ ≈ ♣ ≈ ♣ ≈ ♣

Alguns dias se passaram, e, mesmo assim, Juliano não dava uma trégua. Seu descontentamento para com Rodrigo estava cada vez mais evidente, principalmente quando casualmente se encontravam em algum momento do dia e Juliano sempre lançava um olhar com o recado secreto: Fique longe da minha irmã. Era desconcertante.
Então, já que, de uma maneira estranha seu irmão e Bia estavam se dando bem – estranho porque ao apresentar Juliano a Bia Melody esperava a mesma reação que ela sempre tivera com os rapazes, no entanto, Bianca surpreendera agindo de maneira casual. É lógico que quando ele não estava por perto Melody sempre a ouvia suspirar e sussurrar o quanto Juliano era perfeitamente italiano. – Melody pediu a amiga para tirar o irmão um pouco do seu lado, e o levar para qualquer outro lugar. Os olhos de Bianca brilharam com o pedido, e Melody se arrependeu imediatamente de tê-lo feito. Mas precisava respirar, e ele a estava sufocando, pois Juliano estava com a ideia fixa de que Rodrigo costumava aparecer ali sempre, e mesmo Bianca garantindo que não, ele se recusava a sair de perto dela um só segundo que fosse. Ele já havia consumido mais cafeína do que ela julgava necessário, e só iria piorar o comportamento impaciente dele.
Nesse momento, Melody estava de costas para a porta quando ouviu alguém entrar no café. Surpreendeu-se ao virar e encontrá-lo bem ali, parado e a encarando.
Ah, não!, exclamou em pensamento.
Rodrigo? O que está fazendo aqui?
Preciso falar com você. – falou. – Eu vi quando o seu irmão saiu com a Bianca, então aproveitei a deixa. – sorriu fazendo o coração de Melody pulsar um pouco mais rápido que o normal.
Ele não vai demorar. – ela avisou, ignorando o efeito que ele tinha sobre ela, ou pelo menos, tentou. – O que você quer?
Rodrigo a avaliou com um olhar enigmático.
Bom, pelo o que entendi, o seu irmão me odeia. E já que não tenho nenhuma forma de falar com você sem que ele esteja por perto, e ainda não sou suicida, vim te fazer um convite. – sem esperar por algum questionamento da parte dela, prosseguiu. – Sabe aquela pracinha ao lado do condomínio? – Mel assentiu. – Ótimo, encontre-me lá hoje à noite.
A única coisa que ela conseguiu fazer foi piscar, em descrença.
Você só pode estar brincando, ou ficou louco. O Juliano nunca vai me deixar sair à noite para encontrar você, Rodrigo.
Essa situação toda está me deixando meio maluco mesmo. – admitiu com um sorriso franco. – Precisamos esclarecer o que esta acontecendo entre a gente, Mel, e você sabe disso.
Engolindo em seco, ela falou com a maior calma que pôde no momento.
Vou tentar ir.
E com um sorriso triunfante, ele saiu.

♣ ≈ ♣ ≈ ♣≈ ♣

Então, isso tudo será no sábado. Você vai passar o dia inteiro com a Carol, não é legal? – Melody falou para Dora, esperando que ela não fizesse nenhuma pergunta especifica. Logo após Rodrigo sair da cafeteria – depois de fazê-la prometer aparecer em um encontro que ela nem tinha certeza se conseguiria. – Caio também resolveu aparecer para pedir um favor, que ela sabia que seria quase impossível cumprir. Mentir não era um dos seus talentos, a única vez que conseguiu enganar alguém com uma inverdade, fora com o pobre do síndico com o caso da barata voadora inexistente. Isso iria ser muito difícil, principalmente agora que estava desconcentrada pensando em algo que Caio havia lhe dito quando ela questionou sobre o jantar, e ela não gostou do que Caio disse que Rodrigo havia falado.
Mas, a Carol não me falou de passeio nenhum. – a amiga falou sem entender nada. − Além disso, eu não trabalho no final de semana.
Er... bem... – Mel não sabia o que dizer. Juliano ouvira a tudo, e percebeu o que estava acontecendo. Mel lhe lançou um pedido de socorro silencioso.
É que é uma surpresa para a Carol, Dora. – ele falou com naturalidade. – Será um dia inteiro só para vocês duas. Um dia de garotas. – Juliano olhou para Melody com os olhos estreitos, ela deu de ombros.
Você também vai? – Dora perguntou a Mel.
Ah, não. Eu vou ficar com o Juliano... vamos... hum, ao shopping. – falou. − E você não deve comentar nada com ela, aja naturalmente. – Melody completou.
Tudo bem. – Dora concordou. − Quanto mistério! – exclamou revirando os olhos e indo para o seu quarto.
Juliano aguardava uma explicação.
Agora será que pode me dizer por que ajudei você a mentir para a sua amiga? – questionou.
Quem disse que eu estava mentindo? – Mel tentou se fazer de desentendida, não funcionou. Suspirou derrotada. – É uma longa história, que nem eu entendo muito bem. – declarou contando o que Caio fora pedir para ela mais cedo no café, Melody teve que enfatizar que ele fora sozinho e ele acreditou já que ela não estava dizendo nenhuma mentira. Se ele tivesse feito a pergunta de forma diferente, aí sim ela não teria como esconder a verdade.
Não gosto do que acabou de me dizer. – Juliano falou inquieto.
Por quê? – ela o questionou. – Não vai querer pegar no pé da Dora também, não é?
É isso o quê você acha que eu faço, pego no seu pé maninha? – indagou fazendo biquinho. – Você me magoou.
Melody gargalhou atirando uma almofada na direção dele. No entanto, Juliano ficou serio rapidamente.
O que estou querendo dizer é que, se ele está em dúvida e não sabe o que sente pela garota, ou pensa que não sabe, essa história esta fadada ao fracasso. – afirmou sem rodeios. – Não é difícil decifrar a situação. Ele a quer por perto, mas, por outro lado, não vai dar nenhum passo que possa comprometer e estragar o que existe entre os dois. É claro, que tem a possibilidade de existir outro alguém nessa história, o que pode deixar tudo ainda mais complicado. Alguns homens são inconstantes e indecisos. Acredite, sei bem do que estou falando, afinal sou um deles.
Melody suspirou, sentindo-se um pouco tensa.
Falou o Dom Juan especialista. – brincou para tentar amenizar o desconforto.
O que eu posso fazer, oh doce e querida irmã? Seu irmão é o máximo. – ele retrucou com uma gargalhada sonora, que Melody não teve como ignorar e gargalhou junto.
Juliano? – indagou alguns minutos depois.
Sim?
O quê me entrega? Digo, quando estou tentando mentir.
Seus olhos. Você não consegue fixar o olhar em alguém quando está tentando mentir, sua consciência não permite. – afirmou olhando-a desconfiado. – Por que a pergunta? Nem adianta praticar, a mim você nunca conseguirá enganar. – avisou.

♥ ≈ ♥ ≈ ♥ ≈ ♥

Isso é loucura, sem dúvida nenhuma. Melody pensou ao atravessar a rua em direção a tal pracinha que Rodrigo insistiu em encontrá-la. Mas é uma loucura boa, concluiu ao avistá-lo há apenas alguns metros de distância.
Não havia sido difícil escapar dos olhos atentos de Juliano. Graças ao fuso horário que ainda estava mexendo com os sentidos do irmão, ele acabava dormindo sem se dar conta do que acontecia a sua volta. E assim, Mel conseguiu dar um jeito de sair de casa sem acordá-lo. E mesmo estando ali, ela ainda sentia uma indecifrável chateação em relação ao o que Caio lhe dissera. Por que Rodrigo diria que um jantar entre Caio e Dora não seria uma boa ideia? Que romance não era adequado? Foi por esse motivo que, mesmo com Juliano ao seu lado, ela lançou um olhar zangado e questionador na direção de Rodrigo algumas horas antes.
Oi! – ele falou sorrindo.
Oi! – ela por outro lado foi seca no cumprimento.
Por um momento pensei que você não viria. – ele falou se aproximando. Melody parou e o encarou seriamente. – Principalmente depois daquele olhar que me lançou no elevador mais cedo. O que foi aquilo?
Nada!
Está chateada comigo, é isso?
Ela o encarou com um meio sorriso.
Não se martirize senhor “eu entendo as mulheres”. – falou de forma irônica e irritada. – Você não é o centro do universo.
Tudo bem, por que está sendo tão irônica e o que foi quê eu fiz dessa vez? – ele perguntou querendo entender o que estava acontecendo. – Me explica, porque não estou entendendo tanto antagonismo da sua parte.
Por que disse ao Caio que ele não deveria chamar a Dora para sair?
O quê? – ele não esperava por essa pergunta, ou melhor, acusação. – Espera um minuto! Eu não disse isso, exatamente. É que... – fez uma pausa. – O Caio é um pouco complicado, eu só não quero que ele se precipite e acabe magoando a Dora. Mas posso saber por que isso a deixou tão aborrecida? – perguntou mudando de assunto.
Para mim é indiferente. – falou apenas, mas sentindo-se estranhamente aliviada.
Então por que falou como se estivesse me acusando? Você não ficou com ciúmes achando que eu e a Dora...
Não seja ridículo. Por que eu ficaria com ciúmes?
Rodrigo sentiu-se inexplicavelmente nervoso.
Vamos esquecer o Caio e a Dora por um momento? Eles são adultos e podem se entender sozinhos. Vamos falar de nós dois. É você quem eu quero! – ele falou abruptamente. Melody o encarou sem nada dizer, estava chocada com as palavras de Rodrigo. Não era para menos, o próprio ficou surpreendido com tamanha coragem que teve, e já que a havia adquirido instantaneamente, decidiu aproveitá-la para falar o que esteve querendo há dias, mas sempre existia uma situação ou alguém que acabava atrapalhando os seus planos. − Eu estou apaixonado por você! – declarou-se sentido um pouco mais leve, como se estivesse tirando um peso significativo das costas. Porém, seu alívio durou pouco, pois Mel o encarava impassível. Uma parte dela estava feliz por finalmente ouvir tal declaração, mas a outra estava apavorada, pois ela sabia que agora era a sua vez de dizer algo. Mas as palavras estavam presas na sua garganta, sufocando-a.
Ele tentou chegar um pouco mais perto dela. Melody estremeceu, apreensiva com o que poderia acontecer em seguida.
Rodrigo... – Melody recuou alguns passos erguendo as mãos em sua direção. –, não se aproxime. – alertou com o coração disparado.
Ele suspirou por um momento, e sorriu decidido.
Eu já entendi, Mel. – se aproximou lentamente. – Você não quer que eu a beije novamente, e vou me comportar, prometo. Mas você sabe que precisamos terminar a nossa conversa.
Melody ponderou um pouco, e soltou a respiração que estava prendendo inconscientemente – porém seu coração continuava acelerado. Deixou que ele se aproximasse e segurasse sua mão como fizera há alguns dias no apartamento dele. Sentindo o calor da mão dele na sua, ela falou:
Eu já disse que é complicado...
Claro, por um momento quase esqueci o seu irmão repelente. – ele fez uma careta e revirou os olhos. – Aliás, quando é que ele vai embora mesmo?
Ela o encarou seriamente.
Ei, ele pode ficar o tempo que quiser. – disse em defesa do irmão.
Ele não me deixa chegar perto de você. Tenho certeza de que se ele soubesse que você esta aqui comigo não pensaria duas vezes antes de me matar... sem pestanejar.
O Juliano só se preocupa comigo.
Eu sei.
Agora eles estavam tão próximos que cada um sentia a respiração do outro sobre o rosto. Porém, ele não tentou beijá-la mantendo sua palavra, mas envolveu-a com um abraço terno e ao mesmo tempo apaixonado.
Será que não podemos ficar apenas assim? – Melody questionou após um leve suspiro. Ela gostava de ficar perto de Rodrigo, e, nesse momento, o simples fato de estarem tão próximos como estavam, a deixava com a sensação de completude, era perfeito.
Assim? – Rodrigo ergueu uma sobrancelha em dúvida.
Perto um do outro, sem esperar nenhum outro gesto. – falou erguendo a cabeça para olhar em seus olhos azuis. – Olha, eu entendo que... isso que estamos sentindo é real. – falou tentando domar seu nervosismo. – Mas, também acho que devemos ir com calma, sei que você concorda comigo. Não estou negando estar apaixonada por você, seria impossível. – fechou os olhos por um segundo e ganhou coragem para dizer o que realmente queria. – Porque, eu estou... apaixonada por você, Rodrigo. – mas, ao contrário do que Rodrigo havia sentido, Mel parecia ficar cada vez mais nervosa, principalmente agora que falara o que sentia com todas as letras. Prosseguiu. − E de certa forma isso me assusta. O que estou querendo dizer é que, não devemos atropelar as coisas, nem nos conhecemos direito e... eu ainda não me sinto preparada para um novo... relacionamento. – respirou o mais profundamente que pôde. – Além disso, tem o Juliano. – Melody sorriu ao ver Rodrigo repetir a mesma cena de antes. – Não faça essa cara, senhor Evanz. – brincou, mas logo em seguida ficou seria novamente. – Eu sei que pode não parecer, mas ele é mais do que só um irmão mais velho querendo proteger a irmã do mundo vazio e cruel que existe indubitavelmente lá fora. O Juliano é o meu melhor amigo, meu porto seguro, e muitas vezes, é como um pai para mim. O meu irmão é muito importante para mim, Rodrigo, não suportaria nem mesmo a ideia de decepcioná-lo. Você consegue entender isso?
É claro que sim, Mel. – afirmou.
Os dois ficaram encarando-se por alguns minutos, o silêncio era a única coisa entre os dois. Melody interpretou essa falta de diálogos de forma errada, e falou um pouco triste:
Acho que eu sou muito complicada para você.
Ele meneou a cabeça sorrindo.
Não é nada disso. É que... – levou a mão até o rosto dela retirando uma mecha de cabelo que havia caído sobre seus olhos. – estou me sentindo um adolescente – sorriu torto. –, esperando o aval do irmão mais velho da garota que tomou conta dos meus pensamentos na esperança desesperada de... cortejá-la. – seu sorriso aumentou e Melody sorriu junto, sentindo-se encantada por essas palavras. – Na verdade, estou me sentindo como um personagem de um romance de época. – ele olhava fixamente nos olhos dela, seus rostos estavam tão próximos que inevitavelmente ele sentiu o desejo de tocar os seus lábios nos dela, sentir a maciez daqueles lábios novamente. Mas como prometera não fazê-lo, conteve-se ao máximo e encostou sua testa na dela fechando os olhos e sussurrando em seguida. – E sobre ficarmos apenas assim, perto um do outro, está mais do que perfeito para mim.
Obrigada. – falou com a voz fraca devido a aproximação exagerada de ambos, porém, sentindo uma estranha paz que ele sempre conseguiu passar quando estava por perto.
Rodrigo reforçou o abraço, deixando-a ainda mais tranquila. Ele poderia se fazer milhares de perguntas diferentes em relação ao que sentia por essa garota de olhos cativantes e insondáveis. E uma dessas perguntas seria, sem dúvida; Como foi se apaixonar logo por ela, alguém que mal conhecia, mas, que de forma indecifrável, conseguia exercer sobre ele um fascínio exorbitante? A única resposta seria simples; quem se importa?! Melody era especial, tinha algo em seu jeito que simplesmente o fazia ter esperanças. Cada gesto seu era único, singular. Cada palavra sua para ele era encantadora... E quando a viu e ouviu tocar aquele instrumento que parecia ser um complemento dela, sentiu como se estivesse em outro plano, um espaço completamente diferente onde somente era habitado por eles. Como poderia não se apaixonar por ela? Essa sim era a pergunta que se fazia nesse momento, enquanto a fitava com minuciosa atenção o seu rosto de traços delicados, e a tinha em seus braços. Eu não saberia como, concluiu com um sorriso.
Hum... então esse é o meu desafio, convencer o seu irmão durão de que estou apaixonado por você e que não pretendo de forma alguma machucá-la?
De certa forma, é sim. – confirmou.
Sempre gostei do perigo. – ele brincou, rindo em seguida.
Ela revirou os olhos.
Idiota!
Ele pousou a mão em seu rosto.
Linda!
Mesmo a noite estando perfeita, eles decidiram encerrá-la por ali. No entanto, ficaram indecisos olhando intensamente um para o outro, enquanto cada um deles mantinham as mãos nas maçanetas das suas respectivas portas. Numa decisão rápida, Rodrigo se aproximou depositando um beijo na testa de Melody, que suspirou com o gesto. E ainda sentindo-se um pouco zonza, entrou no apartamento com um sorriso bobo no rosto.
Entrando furtivamente em casa a essa hora, senhorita Angnel? – uma voz surgiu de repente fazendo Mel congelar onde estava. – Tsc... tsc... tsc... O que o seu irmão vai pensar? – Mel suspirou aliviada ao virar e encontrar Dora parada no meio da sala, e sorriu para a amiga que estava se controlando para não gargalhar.

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