19 de junho de 2013

Onde estão os meus reais

Por Graci Rocha

Acordo com a sensação de que talvez hoje seja o último dia da minha vida, pois é hoje uma segunda feira bonita, com um sol ameno e uma certeza, meu marido sairá para trabalhar, levará meus filhos para a escola e eu estarei aqui, com aquela dor no peito, com aquele medo de que algum jovem, certo da fraca punição em nosso país, irá abordá-lo, tentará roubar seu carro e mesmo que ele o entregue é possível que esse jovem, no auge das emoções, atire em meu marido, ou o que me mataria com ainda mais rapidez, atire em um dos meus filhos...

Ligo a televisão para tentar amenizar esse aperto no peito, vou ver o jornal da manhã na inútil tentativa de distração. Choro. Choro porque sou mãe, porque sou mulher e apesar de ser forte, me mata ver outra mãe sendo consolada por seu marido. Não estou me referindo àquela mãe que o filho bebeu demais e saiu batendo o carro, ainda que eu me compadeça de sua dor, estou falando daquela que desesperada desfalece ao lado do pequeno caixão do filho de apenas um ou dois anos, um bebe inocente que teve sua vida tirada por uma bala perdida, ou pela falta de um médico para atendê-lo, ou ainda pelo álcool nas veias de outros, que seja.

Desligo a tv. Não suporto ver as noticias que me dizem que pessoas esperam, minguando em filas de hospitais porque não existem macas ou leitos, nem profissionais suficientes. Nem suporto ver os preços subindo, nem a queda da qualidade dos serviços, o que já não era grande coisa, vai piorando ainda mais...
Ligo o som bem alto para tentar suplantar da memória a sensação de que se um dos meus filhos ficar doente pode esse ser o meu fim. Ou você não morreria caso algo desse tipo acometesse seus filhos e roubasse seus lindos anos de vida????

Começo a me arrumar, é preciso ir trabalhar, mas a sensação de vazio ainda enche meus pensamentos.
De repente outra certeza me salta aos olhos, talvez seja eu que não voltarei para casa no fim do dia. Tudo bem que vou trabalhar em uma escola, num bairro como outro qualquer, de uma cidade que não chega a ser considerada violenta se contarmos os índices nacionais, mas até a minha profissão se tornou um risco... Como será para os meus filhos crescerem sem a mãe?

E não me venha com essa de que é preciso pensar positivo, isso é hipócrita, e praticamente impossível, já que eu vivo em um país no qual os políticos têm a “ "Síndrome dos que se acham Deus".”, ou seja lá qual for a palavra que justifique essa mania de pensarem que tudo podem...

Talvez eu pensasse positivo, ou tivesse certezas positivas se não visse meus colegas de profissão implorando para que a lei seja cumprida e eles recebam o que lhes é devido, ou se não visse milhares de pessoas implorando por atendimento em hospitais, nem visse mães em prantos porque seus filhos, que ainda nem sabem o que é viver, já estão deixando a vida...

Então me pergunto onde estão os meus reais, que me foram levados pelo imposto de renda, pelo imposto sobre a minha luz, água, gasolina, sobre meu pão e o leite que dou para os meus filhos beberem, sobre o IPTU da minha casa e sobre o salário que recebo no final do mês?
Na saúde não estão definitivamente e não posso culpar os médicos se não salvarem a vida dos meus filhos, pois ninguém faz milagre com a falta desses importantes recursos, como salas cirúrgicas, medicamentos, profissionais, leitos...

Na educação não estão também, e posso dizer isso com propriedade...

Vixe, na segurança mesmo é que não estão esses meus reais, pois os policiais e profissionais da área além de muito mal pagos não são nem de longe suficientes...

Onde estão meus reais????? Eu quero saber!

Quero saber também porque politico tem esses exorbitantes salários e tantas vantagens e nós não. Afinal são eles Deuses encarnados que merecem tamanha diferenciação?

Pra mim chega! Estou farta da corrupção, dos desvios, da falta de vergonha de quem deveria me representar.

Desculpem-me os amantes de futebol, nada contra, mas até quando ficaremos calados, vendo bilhões indo para estádios e depois correndo para hospitais sujos, sem médicos e sem a menor qualidade de salvar vidas???

O que é preciso acontecer para que lembremos nossas raízes? Quantos precisaram ainda morrer para que nos lembremos daqueles que lutaram, que foram torturados, mortos e conseguiram um país livre, há menos de cinquenta anos????

Eu na certa não quero esperar até que tenha que chorar por luto...

É hora de dar um basta, precisamos nos espelhar na atual onda de levantes mundiais, na coragem de nossos jovens paulistas e colocar a boca no trombone, EXIGIR o que nós é de direito, já que de nossos deveres somos bem lembrados há cada quatro anos...

E ai, o que vamos fazer? Ver novela??

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